“Falta um mês para a Fórmula 1 correr aqui, honrem este asfalto”. A frase dita por Bernd Schneider, cinco vezes campeão da DTM, enquanto colocávamos o capacete e a balaclava para rodar com o novo Mercedes AMG GT 63 S 4-Door no Circuito das Américas, em Austin, Estados Unidos, mostrava com a missão era importante.
O modelo é um dos carros mais nervosos do mercado, com um 4.0 V8 biturbo que gera 639 cv e 91,8 mkgf de torque todo disponível a 2.500 rpm. Apesar de sua aparência estar um pouco mais amansada pela questão das quatro portas inéditas, o AMG GT é praticamente um carro de corrida para famílias. E uma pista de usada pela F-1 instiga ainda mais os instintos.
Colocado o modo de condução no Race (há ainda Slippery, Comfort, Sport, Sport Plus e Individual), os sistemas de ajuda à pilotagem ficam quase nulos e é preciso confiar no braço, pneus, na tração integral 4MATIC e nas suspensões (multi-link na traseira) com o Ride Control, que ajusta automaticamente o comportamento do carro às condições do piso.
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O AMG GT 63 S vai de zero a 100 km/h em 3,2 segundos, portanto, antes do fim de reta de largada, o modelo já marcava 144 milhas por hora (230 km/h) no velocímetro e chegou a um pouco mais que isso antes de uma forte freada, que fez piscar todas luzes do carro e o ABS quase descascar a sola da sapatilha com tanta vibração. Como é bom este freio de seis pistões da AMG. Assim como é maravilho o câmbio automático de nove marchas que faz as trocas, mesmo em altas velocidades, de uma forma quase telepática, sem deixar cair o giro ou dar um tranquinho sequer.
A mágica desta transmissão é que ela é uma caixa de velocidades multi-embreagem. No lugar de um conversor de torque, como os automáticos convencionais, ela possui várias embreagens colocadas juntas e controladas separadamente, mas com um único eixo de entrada, diferentemente de uma caixa de dupla embreagem. Além de ser extremamente eficiente nas trocas, ela aguenta bem o tranco do torque absurdo de quase 92 quilos do V8.
Voltando à avaliação, uma curva à esquerda segue aberta e depois fecha, meio cega, e as suspensões trabalham à perfeição na beliscada na zebra e a direção eletromecânica, dura na medida certa, devolve o carro à trajetória correta (ou a melhor que um não piloto conseguiria). O sistema de tração ajuda, mas o carro dá uma certa escapada nas quatro rodas mesmo com o eixo traseiro esterçável, e é preciso trazer de volta no braço, como manda um modelo esportivo. No modo de condução Sport Plus, avaliado na volta seguinte, o trabalho fica bem mais fácil. É a melhor opção para quem não tem muita experiência, mas não quer deixar de acelerar forte.
A velocidade máxima de 315 km/h é tão alta quanto o preço que o modelo chegará ao Brasil: R$ 1.084.900, com entregas no primeiro trimestre de 2019. Não foi possível chegar nela na pista, assim como pobres mortais não chegarão perto de ter um AMG deste na garagem. Seu principal concorrente, o Porsche Panamera Turbo, começa em R$ 990 mil e é tão inacessível quanto.
Uso urbano também é uma delícia
Hora de sair da pista e enfrentar as ruas e estradas de Austin. O sol de 33 graus fazia o azul fosco do carro chamar muita atenção e o ronco do motor não deixava por menos. Mas o que mais impressionou foi como o modelo é dócil no modo Comfort. A besta fera do Race se transforma num manso sedã, que acelera de forma suave, sem ficar instigando, e que absorve buracos ou saliências na pista como um sedã grande qualquer de ótima linhagem, claro.
Mesmo com um “bico” longo, o entre-eixos de 2,95 metros do AMG GT quatro portas indica que o espaço interno é bom, o que se confirma na prática. Quatro pessoas viajam com muito conforto e a proposta familiar do carro se justifica. Outro dado que corrobora com isso é o bom porta-malas de 461 litros.
Na lista de equipamentos, tudo que há direito. Air bags frontais, laterais e de joelho, bancos dianteiros climatizados, abertura sem chave, ACC, rodas forjadas de 21 polegadas, painel virtual, sistema multimídia com espelhamento de celular e tela responsiva, câmera de ré 360 graus e sensor de estacionamento, mitigação dos farol alto e baixo e sistema de som Burmester de alta fidelidade, entre outros.