O sol estava castigando e não havia teto que servisse como abrigo. Ar condicionado, apenas o vento que entrava por cima e pelas laterais – já que também não havia portas. Mas quem precisa de luxo na hora do recreio? O bugue nacional Sky, avaliado com exclusividade pelo Jornal do Carro, foi concebido como um veículo de lazer. Não tem portas e a cobertura de lona (parcial ou total, que fecha o carro todo) é opcional. E, embora tenha bancos minúsculos na traseira, na prática é um carro para duas pessoas, além do sol.
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Após quatro anos de desenvolvimento, algumas correções de rota (como troca de motor) e duas participações no Salão do Automóvel de São Paulo (2016 e 2018), o bugue finalmente está pronto para as ruas – ou melhor, praias. De acordo com o dono da D2D, fabricante do veículo, Eduardo Eberhardt, o Sky (a ausência de teto justifica o nome – céu, em português) foi pensado para ser o terceiro carro de uma família, voltado à recreação. O empresário pretende começar as vendas este mês.
Sky chega em três versões de acabamento
São três versões: Básico (R$ 89.400), Premium (R$ 118.500) e GT (R$ 148.900). Basta colocar o pé esquerdo no apoio lateral e passar o direito sobre o banco que o carro o recebe sem a menor cerimônia – e sem luxos. As primeiras surpresas são o quadro de instrumentos e o volante do Peugeot 208. Essa é só a parte aparente da parceria com a francesa PSA. Motor (1.6 flexível aspirado), câmbio (manual de cinco marchas), suspensão, freios e direção são os mesmos da dupla Peugeot 208 e Citroën C3. Já o chassi do bugue é próprio.
O banco sem ajuste de altura fica um pouco baixo e, por isso, o volante tende a encobrir parte do quadro de instrumentos. Primeira marcha engrenada na alavanca de longo curso e embreagem solta, o Sky sai com agilidade.
O motor traseiro de até 122 cv dá conta do recado, até porque o carro é leve. Graças à carroceria de fibra de vidro, são 950 kg, o que resulta em boa relação peso-potência. A empresa informa 0 a 100 km/h em 9,5 segundos.
Freios a disco nas quatro rodas e direção hidráulica de série
Nas curvas feitas com um pouco mais de vigor, era possível ouvir algo raspando, possivelmente o atrito dos pneus dianteiros com o revestimento interno da caixa de rodas. Uma vez ou outra, nas saídas, a primeira marcha escapava. Para que isso não acontecesse, era preciso forçar um pouco mais a alavanca. De acordo com Eberhardt, após o teste, o carro passou por ajustes para sanar as falhas.
De resto, o Sky é um agradável brinquedo. Os freios (disco nas quatro rodas) respondem bem, mesmo quando muito exigidos, assim como a direção hidráulica.
Na versão avaliada, Premium, os bancos mesclam tecido (na cor do carro) e imitação de couro. O acabamento é simples, o que é natural em bugues. Os luxos ficam por conta da central multimídia, dos faróis auxiliares e dos retrovisores elétricos. Segundo Eberhardt, a versão GT receberá o mesmo motor 1.6, mas com preparação para render cerca de 150 cv. A cabeça de javali, símbolo da marca, é uma alusão a Eberhardt, palavra alemã que significa “coração de javali”, diz. E dá para encarar um areia na praia, como os bugues no Nordeste? “Sim, mas sem ‘emoção’”, ressalva o empresário.
Construir próprio carro é ‘sonho de menino’
O empresário Eduardo Eberhardt era fabricante de autopeças, mas diz que construir o próprio carro era um “sonho de menino”. Para torná-lo viável, porém, ele concluiu que teria de fazer um veículo de nicho, de modo a não concorrer com as grandes montadoras.
Segundo Eberhardt, o estilo do Sky foi inspirado no Hoggar, conceito off-road da Peugeot de 2003 (não confundir com a picape de mesmo nome, vendida no Brasil de 2009 a 2014).
No Salão de 2016, o conceito apresentado pela D2D tinha mecânica da chinesa Chery. Posteriormente, a empresa fechou acordo com o grupo PSA (Peugeot-Citroën) que, além de fornecer a mecânica, também colaborou no desenvolvimento do projeto. Entre os desafios, foi preciso adaptar o motor na traseira (onde está a tração). O radiador fica na frente e o escapamento foi encurtado.
O modelo está sendo produzido em Mauá, na Grande São Paulo, mas Eberhardt diz que no segundo semestre deve iniciar a fabricação em Linhares (ES). D2D significa door to door (porta a porta), ou seja: da fábrica para o comprador, sem revendas. A garantia (um ano) ficará a cargo da Euro Repar, rede de 41 oficinas. A meta é vender 250 veículos este ano, 500 em 2020, 1.000 em 2021, 1.800 em 2022 e 3 mil em 2023.
Ficha técnica
Motor
1.6, 4 cil., 16V, flexível
Potência (cv)*
122 a 5.800 rpm
Torque (mkgf)*
16,4 a 4.400 rpm
Câmbio
Manual, cinco marchas
Comprimento
3,6 metros
*Dados com etanol. Fonte: D2D