BELISA FRANGIONE
O engenheiro João Vicente Tuma sempre quis ter um Ford Mustang. Em 1996 ele soube, por meio de um amigo, que havia um exemplar do Mach 1, feito em 1971, à venda no bairro do Limão, na zona norte.
(Confira a fan page do Jornal do Carro no Facebook: https://www.facebook.com/JornaldoCarro)
Chegando ao galpão onde o carro estava, Tuma encontrou uma carcaça enferrujada e algumas peças caindo aos pedaços. Ele só ficou sabendo que o Ford era amarelo após ver o documento, já que a cor havia desaparecido.
Mas, ao contrário do que se poderia esperar, a reação do engenheiro foi de total satisfação. “Eu procurava por um modelo que, se possível, não estivesse em bom estado. Minha intenção era deixá-lo do jeito que eu queria. Se o carro fosse todo certinho, iria ficar com dó de mexer nele”, conta.
O carro foi comprado pelo equivalente a R$ 15 mil. E o processo de restauração logo teve início. Primeiro o cupê norte-americano foi totalmente desmontado. A tapeçaria e a carroceria começaram a ser refeitas.
“Tirei parafuso por parafuso e arrumei os revestimentos, que estavam em péssimo estado. Como o antigo proprietário iniciaria a restauração em poucos dias, aproveitei o que já estava no ponto para começar e dei continuidade”, explica Tuma.
Ele afirma ter apenas uma ideia vaga do quanto gastou com a reforma. “Cinco anos e cerca de R$ 80 mil”, diz.
O motor V8 tem 302 cv de potência e o câmbio original, automático de três marchas, deu lugar a outro, de quatro velocidades. Esse conjunto pode levar o Mach 1 a 200 km/h, de acordo com informações de Tuma.
Mesmo assim, o espírito do Ford não é de aventura, de acordo com ele. “O objetivo era que o carro não ficasse tão forte para que eu pudesse utilizá-lo no dia a dia. A quarta marcha conferiu mais conforto na estrada, que é quando rodo a cerca de 100 km/h.”
Tuma estima que seu carro valha R$ 100 mil, mas conta que só o venderia se a oferta fosse muito tentadora.
“Não o comprei com a intenção de passá-lo para frente justamente porque ele é um carro para todo dia. Viajo, vou para o trabalho e busco minhas filhas no colégio com ele”, diz.
Esse é um dos momentos em que o Mustang vira estrela. Tuma diz que cada vez que aparece para pegar Mariana, de 13 anos, e Clarice, de 7, as colegas das meninas pedem para dar uma volta no Ford e até posam para fotos ao lado do modelo.
“Minhas filhas são fãs dele e fazem questão de mostrá-lo para os amigos. Com este Mustang, aquele hábito de as crianças se esconderem na saída do colégio para os coleguinhas não debocharem do carro do pai delas não existe lá em casa”, ri.
Criado para o público jovem, modelo sobrevive até hoje – O Ford Mustang foi lançado em 17 de abril de 1964, nos Estados Unidos. O carro foi criado a partir de pesquisas conduzidas por Lee Iacocca, então presidente da montadora norte-americana.
A empresa queria um carro para jovens de até 25 anos, que seriam responsáveis por 50% das vendas.
O protótipo tinha dois lugares, mas os engenheiros decidiram que a versão final deveria oferecer um perfil familiar. E o carro passou a ter quatro lugares.
Ainda durante a fase de pesquisas, a preferência por “motores de alta performance e aspecto esportivo” confirmou que a empresa estava no caminho certo. Em compensação, uma das características rejeitadas pelo consumidor eram os bancos dianteiros individuais.
O motivo? Não favoreciam que namorados ficassem bem próximos.
Mas esse detalhe parece ter passado despercebido, já que em um único dia 22 mil Mustang foram vendidos nos EUA.
Em 1971 surgiu o Mach 1. Entre os itens que ressaltam a esportividade estão o defletor traseiro, entradas de ar no capô e a pintura em dois tons.
No mesmo ano o carro foi uma das estrelas de Os Diamantes São Eternos. Guiado por Sean Connery, que interpretava James Bond, o Mustang protagonizou perseguições incríveis pelas ruas de Las Vegas e, no filme, era capaz de feitos como andar sobre o capô de outros veículos e passar por ruas estreitas utilizando apenas duas rodas.
Com a preocupação em relação ao consumo de combustível e as então recentes leis de combate à poluição obrigaram a Ford a rever os “conceitos’. O visual esportivo do Mustang permaneceu, mas os motores potentes tiveram de ser adaptados. A solução, no caso do Mach 1, significou a perda de 10 cv.
A primeira geração durou até 1973. A seguinte foi de 1974 a 1978.
Na estrada até hoje, o Mustang contou com várias outras gerações e versões especiais. Entre os destaques recentes está o Shelby Cobra GT 500, exemplar com motor V8 de 860 cv criado para homenagear o ex-piloto e preparador Carroll Shelby.