De olho em um público que quer se aventurar no universo dos SUVs, a Citroën aposta em uma versão mais em conta de seu novo SUV cupê, o Basalt. Disponível com conjunto mais simples, formado por motor aspirado e câmbio manual, o modelo tem a missão de ser a porta de entrada de consumidores que buscam migrar do segmento de hatches e sedãs pequenos para o universo dos utilitários compactos.
Não há como negar que os SUVs se tornaram objeto de desejo no mercado brasileiro, segmento que correspondeu por mais de 48% dos emplacamentos no País em 2024, de acordo com a Fenabrave. Mas nem todo mundo que vai comprar um carro zero km tem recursos suficientes para comprar um utilitário esportivo.

Quanto à concorrência, nem vamos falar de seus rivais diretos, mesmo porque ele é R$ 15 mil mais barato que o Renault Kardian 1.0 MT (R$ 106.990) e R$ 16 mil que o Fiat Pulse Drive 1.3 MT. Com preços a partir de R$ 91.990, o Basalt Feel 1.0 MT custa menos que hatches como Volkswagen Polo MPI (R$ 96.490), Chevrolet Onix 1.0 MT (R$ 93.770) ou Hyundai HB20 Sense Plus 1.0 MT (R$ 93.310), por exemplo. Atente-se aqui para o fato de que não estamos falando das versões mais caras do trio, e sim dos modelos de entrada. Assim, fica difícil bater o custo-benefício do francês.

Medidas, interior e equipamentos do Basalt
Não pense que por ser mais acessível, o Basalt de entrada é um carro “pelado”. Não espere, claro, equipamentos sofisticados de assistência à condução, 17 airbags ou sistema de som de última geração. Mas pelo valor, sua lista de itens de série surpreende. O carro vem com painel digital de 7”, câmera de ré, luzes DRL de LED, retrovisores elétricos, airbags frontais e laterais, seis alto-falantes, rodas de liga leve de 16” e central multimídia de 10,25” com conectividade para Apple CarPlay e Android Auto sem fio. Mais equipado até que modelos mais caros. Um adendo: esse valor de R$ 91.990 é apenas para o carro com pintura na cor preta. As demais adicionam R$ 1.000 (branca) ou R$ 1.600 (azul, vermelha, cinza e grafite). É o único opcional, inclusive, apesar de uma lista recheada de acessórios.

Sem surpresas, o acabamento interno abusa de plásticos e materiais duros. Mas, novamente, nada que fuja muito de rivais da mesma faixa de preços. Afinal, não há como fazer milagres. Em termos de medidas, nada muda em relação às demais versões: 4,34 metros de comprimento, 1,82 m de largura, 1,58 m de altura e um bom entre-eixos de 2,64 m, o que garante conforto razoável para os passageiros de trás. O grande destaque, contudo, é o excelente porta-malas de 490 litros – são 80 l a mais que no Kardian e 120 l extras em comparação com o Pulse. Por conta desse espaço todo, a Citroën acredita que um dos alvos desta versão serão os motoristas de aplicativo.

Conjunto mecânico
A versão Feel MT é a única da linha que traz o motor aspirado – as demais são turbinadas. Trata-se do conhecido 1.0 Firefly, presente em diversos modelos do grupo Stellantis, como os Fiat Mobi, Argo, Cronos e Strada, além de Peugeot 208 e o “irmão” Citroën C3. Ele entrega 71 cv e 10 mkgf com gasolina e 75 cv e 10,7 mkgf com etanol. Esse propulsor trabalha junto de um câmbio manual de cinco marchas, também exclusivo nessa configuração.

Dadas as proporções do carro e seu peso de 1.120 kg, o desempenho é longe de ser brilhante. A aceleração de 0 a 100 km/h é feita em longos 16,4 segundos com gasolina e de 15,2 segundos com etanol. Já a velocidade máxima é de 157 km/h para os dois combustíveis. Por outro lado, o consumo é bem interessante. De acordo com o Inmetro, o Basalt nessa versão roda 13,2 km/l na cidade e 14,3 km/l na estrada com gasolina e 9,2 km/l e 10,1 km/l, respectivamente, abastecido com etanol.

Ao volante do Basalt Feel 1.0 MT
Confesso que o Basalt com esse conjunto me surpreendeu positivamente. Claro que é importante não medir pela régua da versão 1.0 turbo com o CVT que simula sete marchas, mas minhas expectativas realmente foram superadas. De início o câmbio causa certa estranheza: tem a manopla grande que, a princípio, parece desajeitada, além de cursos longos nas trocas de marchas. Mas depois que você se acostuma com o manuseio da alavanca, fica até divertido “cambiar” – como meu pai dizia antigamente – em um mundo onde os carros manuais perderam um espaço considerável.
O motor velho de guerra aguenta bem o tranco, apesar de sofrer um pouco em subidas. Especialmente se o carro estiver cheio, o que é absolutamente comum. Só que com o câmbio manual você consegue fazer um gerenciamento mais apropriado da condução. Afinal, quem é que nunca viu um veículo automático se esgoelando na ladeira e depois perdendo potência quando a marcha sobe num “timing” errado? Mas na condução do dia a dia, o Basalt tem um comportamento bom, levando em consideração todos os fatores que envolvem estar a bordo de um modelo com motor, digamos, mais fraco. Se você ajustar suas expectativas, terá nas mãos um carro bem agradável de dirigir – sem performances mirabolantes, mas também sem perrengues.

Um carro racional
A suspensão também é bem acertada para a proposta. Inclusive, a Citroën fez ajustes nos amortecedores em relação às configurações automáticas por conta do peso do veículo. Desse modo, prioriza o conforto com maciez, mas sem ser molenga demais. Poderia até ser um tantinho mais firme para oferecer mais confiança em curvas. Entretanto, não é um carro feito para acelerar horrores.
Por fim, a direção talvez seja o ponto que mais atrapalha quando o ponteiro do velocímetro teima em subir, numa via expressa ou estrada, por exemplo. Essa sim poderia ter uma configuração progressiva e ficar mais firme em velocidades mais altas. Com um ajuste mais solto, o motorista precisa segurar o volante com firmeza nas curvas para que a direção não escape. No fim das contas, optar pelo Basalt manual é uma escolha racional para quem quer um carro espaçoso, com posição de dirigir alta e um belo porta-malas em vez de um carro pequeno, mas que ofereça mais potência e o conforto de dirigir sem o pedal da embreagem.
Pontos positivos
O Basalt nesta versão tem um custo-benefício imbatível, com boa lista de equipamentos, espaço a bordo e porta-malas generoso
Pontos negativos
Carros com câmbio manual vêm perdendo mercado e espaço entre os consumidores, já que é mais confortável não ter que se preocupar com as trocas de marchas

Ficha técnica
Citroën Basalt Feel 1.0 MT
Motor: 1.0, 3 cilindros em linha, flex
Potência: 71 cv (gasolina)/75 cv (etanol) a 6.000 rpm
Torque: 10 mkgf (gasolina)/10,7 mkgf (etanol) a 3.250 rpm
Câmbio: Manual, 5 marchas; tração dianteira
0 a 100 km/h: 16,4 s (gasolina)/15,2 s (etanol)
Velocidade máxima: 157 km/h (gasolina e etanol)
Dimensões: 4,34 m (comprimento), 1,82 m (largura), 1,58 m (altura) e 2,64 m (entre-eixos)
Porta-malas: 490 litros
Peso (ordem de marcha): 1.120 kg
Preço sugerido: R$ 91.990
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