(Foto: Sérgio Castro/AE)
Cleide Silva
Fiat até que tentou, nos últimos anos, tirar de linha o Uno Mille, carro que em quase três décadas manteve a mesma cara quadrada. Vencida pelo sucesso do modelo, que há anos está na lista dos cinco mais vendidos no País, a montadora decidiu reinventar o compacto desenhado pelo mestre Giorgetto Giugiaro na década de 80.
Num processo inédito no setor automotivo, a montadora inverteu a ordem de criação: em vez de apresentar um conceito e adaptá-lo às reações e propostas dos consumidores, saiu a campo em busca de sugestões e, com base nelas, projetou o novo Uno.
Junto com o Mille (que continua à venda), a novidade lançada em maio colocou o compacto na vice-liderança de vendas. Hoje só perde para o Gol, imbatível no primeiro lugar há quase 23 anos.
Equipes de pesquisadores e designers percorreram 80 diferentes ambientes, de bares a universidades, e ouviram 760 pessoas que a empresa identifica como “público Beta”, consumidores com entendimento em automóveis. “Os profissionais identificavam o público-alvo, que dava sugestões sobre o que esperava de um carro pequeno. Então, os designers faziam o desenho, uma espécie de retrato falado”, conta Carlos Eugênio Dutra, diretor de produto da Fiat do Brasil.
Os esboços eram repassados ao Centro de Design da montadora em Betim (MG) e aperfeiçoados. “Em três meses já tínhamos o conceito do novo carro.”
No processo de recriar o Uno, que começou a ser produzido na Europa em 1983 e no ano seguinte no Brasil, a Fiat descobriu também que o design tipo caixa – visto como inovação na época, mas nos últimos anos considerado ultrapassado -, continua em alto conceito entre os consumidores. Por isso, foi mantido, mas renovado. “Criamos o quadrado arredondado”, define Dutra.
Só então a Fiat construiu a primeira versão artesanal do novo Uno e levou para as clínicas, pesquisas que todas as montadoras fazem na fase de desenvolvimento de um produto. Consiste em mostrar o carro e os principais concorrentes e anotar reações, sugestões e críticas dos clientes.