O mercado de SUVs médios foi um dos que mais recebeu lançamentos nos últimos dois anos. Quase todos eles com o mesmo desejo: destronar o Jeep Compass. Lançado em 2016 e com produção nacional em Goiana (PE), o utilitário da marca do grupo Stellantis é o líder absoluto da categoria desde então. Mas isso não quer dizer que a disputa anda tranquila. A categoria não para de receber novidades, e uma delas é o Caoa Chery Tiggo 7 Pro.
Em setembro, a marca sino-brasileira lançou a nova versão Max Drive, que fez a estreia do pacote ADAS nos carros da Caoa Chery. Com preço de R$ 199.990, o SUV agora traz os – cada vez mais comuns e desejados – assistentes avançados de auxílio à condução. Ou seja, é capaz de acelerar e frear sozinho, bem como de corrigir o volante em curvas para manter o veículo dentro da faixa. Ou ainda controlar de forma automática os faróis alto e baixo.
Para a Caoa Chery, trata-se de uma novidade que vai ganhar a gama de veículos da marca nos próximos meses. Para a Jeep, o pacote ADAS está disponível em toda a gama desde 2021, quando o Compass ganhou reestilização. Entretanto, na versão Limited (R$ 201.990) que avaliamos neste comparativo, os recursos semiautônomos são opcionais. Eles integram o “Pack High Tech”, que custa R$ 9.900. Este pacote incluí outros itens, como bancos dianteiros elétricos.
Uma disputa nos detalhes
Logo de saída, temos essa diferença de valores entre os SUVs. O Tiggo 7 Pro Max Drive está disponível em versão única. O modelo traz, por exemplo, pacote ADAS, bancos dianteiros com ajustes elétricos e teto solar panorâmico de série na versão. Enquanto isso, o Jeep Compass cobra a mais por todos esses itens, assim como pela pintura branca perolizada. Completo, o SUV pernambucano custa R$ 223.120 (em São Paulo, fica R$ 230.255).
É claro que nem tudo se define pelo preço. O Jeep tem seus trunfos, um deles é o fato de ser um dos SUVs mais populares nas ruas brasileiras há alguns anos. É inegável que a atual geração do Compass é um sucesso de vendas. Um dos fatores é que o modelo da marca norte-americana tem ampla gama de versões, com motores flex e a diesel (4×4). É algo que o Caoa Chery não tem. Inclusive, o Tiggo 7 Pro ganhou novo motor 1.6, mas apenas a gasolina.
Em contrapartida, a montadora sino-brasileira largou na frente da Jeep na eletrificação. Em junho deste ano, a Caoa Chery lançou versões híbridas para toda a gama de SUVs no País. Curiosamente, o Tiggo 7 Pro passou a ter opção híbrida leve flex, com sistema de 48 volts. Mas, nesta primeira fornada com ADAS, o SUV feito em Anápolis (GO) mantém o motor 1.6 turbo com injeção direta de gasolina de 187 cv. Ele é um pouco mais forte que o 1.3 turbo do Jeep.
Desempenho
Esse é um ponto decisivo na categoria. E ambos os SUVs desta disputa ganharam motores novos em suas reestilizações. O Compass estreou o atual 1.3 GSE turbo flex da Stellantis no início de 2021. Atualmente, o motor está disponível no Renegade e no Commander, bem como na picape Fiat Toro e no recém-lançado SUV-cupê Fastback. Ele gera potências de 180 cv (gasolina) e 185 cv (etanol), além de 27,5 mkgf de torque com ambos os combustíveis desde 1.750 rpm.
O desempenho é parecido no Tiggo 7 Pro, que tem motor maior e só a gasolina. O 1.6 TGDI com injeção direta produz 187 cv de potência e torque de 28 mkgf a partir de 2.000 rpm. Entretanto, na ficha técnica, o Caoa Chery é mais rápido. Uma influência do câmbio automatizado de dupla embreagem e sete marchas – no Compass é automático de seis marchas. A aceleração de zero a 100 km/h é feita em 8,1 segundos no Tiggo 7, ante 9,4 s declarados pela Jeep.
No consumo, a disputa também é parelha. Na prática, ambos os SUVs entregaram médias mistas na casa de 10 km/l com gasolina. No Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro (PBVE), o Tiggo 7 Pro faz médias de 9,9 km/l na cidade e de 11,7 km/l na estrada. O Jeep Compass é um pouco melhor com o combustível fóssil, e tem médias de 10,4 km/l e 12,6 km/l, respectivamente. Já com etanol, o SUV médio faz 7,1 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada.
Em nossos testes, na prática, o Caoa Chery mostrou maior ímpeto nas acelerações. Certamente o SUV leva vantagem por ser exatos 100 kg mais leve que o Jeep. O Tiggo 7 Pro Max Drive pesa 1.489 kg, enquanto o Compass Limited tem 1.589 kg.
Vida a bordo
Ao acessar as cabines dos dois SUVs deste comparativo, fica a certeza da evolução dos modelos do segmento. Ambos são bem acabados e trazem materiais macios ao toque no painel e nas portas. Há partes forradas com couro e muitos detalhes prateados, bem como molduras em preto brilhante. O painel de ambos conta com duas grandes telas de alta definição, uma para o quadro de instrumentos, outra para a central multimídia.
Da mesma forma, a lista de equipamentos é robusta e sofisticada. As chaves são presenciais, há ar-condicionado de duas zonas, freio eletrônico de estacionamento e itens mais modernos, como carregador de celular por indução (sem fio). A diferença, novamente, está nos detalhes. Além do teto solar panorâmico, o Caoa Chery tem abertura elétrica da tampa do porta-malas de série, enquanto no Jeep faz parte do kit opcional “Pack High Tech”.
Um detalhe bacana, e que faz a cabine do Tiggo 7 Pro parecer mais chique, é a iluminação interna com LEDs que mudam de cor. Principalmente à noite, quando as luzes dão um ar mais classudo ao modelo da Caoa Chery. Outro detalhe muito interessante é a alavanca do tipo joystick. Ela tem acionamento eletrônico e fica no console central flutuante, que tem um baú refrigerado entre os bancos. No Compass, essa parte é mais simples, com uma alavanca tradicional.
Do lado do Jeep, a conectividade é destaque. A multimídia com tela de 10 polegadas tem chip de internet e conexão sem fio com Android Auto e Apple Carplay. Assim, além de conectar de forma mais rápida com smartphones, transmite dados e aceita comandos remotos pelo aplicativo MyUconnect. No Tiggo 7 Pro, a multimídia tem tela de 10,25″, mas em formato retangular. Além disso, tem espelhamento por cabo USB com iPhone e celulares Android.
Dimensões
Se ainda deve internet a bordo, o Tiggo 7 Pro compensa com espaço a bordo. O SUV da Caoa Chery é um pouco maior que o Compass em todas as medidas. São 4,50 metros de comprimento, por 1,84 m de largura, 1,70 m de altura e 2,67 m de distância entre-eixos. O Jeep tem 4,40 metros, 1,82 m de largura, 1,62 m de altura e 1,63 m de entre-eixos. Considerando os números, não parece muita diferença, mas na prática ela é significativa.
O SUV da Caoa Chery é maior e mais generoso com pernas e cabeças, sobretudo no banco traseiro, onde viajam três adultos com mais conforto. Uma vez a bordo, esse porte ligeiramente maior faz o Tiggo 7 Pro parecer até de uma categoria acima em largura e altura. Detalhe: o SUV feito em Goiás tem 173 mm de altura livre do solo, enquanto o Compass tem 202 mm. Mesmo assim, é 8 cm mais alto que o Jeep, o que acaba por ampliar a sensação de espaço.
Por fim, a diferença de tamanho também aparece no porta-malas. São 475 litros de volume no compartimento do Caoa Chery, contra 410 litros no Jeep – considerando o padrão VDA, que é o mais usado pelas montadoras no Brasil. Entretanto, vale dizer que, após a reestilização, a marca da Stellantis passou a usar o volume líquido, que é de 476 litros. Porém, ao abrir o porta-malas, fica nítida a diferença entre os compartimentos. O do Tiggo 7 Pro é maior.
SUVs tecnológicos
O último tópico deste comparativo vai para as tecnologias presentes nos dois SUVs médios. Por questões estratégicas, de posicionamento de preços, tanto Tiggo 7 Pro quanto Compass apostam em conteúdos sofisticados. A diferença é que o Caoa Chery traz mais desses itens de série, enquanto o Jeep cobra vários deles à parte mesmo na versão Limited. Ou seja, exceto pela diferença de valores, os dois modelos deste comparativo têm quase os mesmos recursos.
O Compass, por exemplo, tem assistente de baliza (Park Assist). Ele mede o espaço e realiza a manobra em vagas paralelas ou perpendiculares (como as de shoppings). O Caoa Chery não tem esse recurso. Por outro lado, o modelo da marca sino-brasileira chama a atenção com outros itens. O Tiggo 7 Pro tem luzes de seta dinâmicas nos faróis, que são Full LEDs. Elas correm de dentro para fora do conjunto óptico e deixam o visual ainda mais elegante.
Outro item bacana presente no SUV da Caoa Chery é o sistema de câmeras 360º. Além de oferecer uma visão completa do entorno, a multimídia mostra projeções tridimensionais do modelo na tela do painel. Para completar, o Tiggo 7 Pro tem mais dois itens indisponíveis no Compass. Um deles é o alerta de desembarque, que avisa com uma luz nas portas traseiras se há outro veículo se aproximando. E projeta o nome “Tiggo” no chão ao abrir a porta.
Veredicto
A disputa com o Jeep Compass mostra que a Caoa Chery amadureceu como marca. Diferente de uma década atrás, quando focava em carros baratos, a chinesa subiu de nível desde 2018, sob a gestão do grupo Caoa. E o Tiggo 7 Pro Max Drive mostra essa evolução com posicionamento de preço cirúrgico. O SUV custa bem menos que o rival e venceu este comparativo. Ou seja, tem tabela de R$ 199.990, enquanto o Compass Limited completo sai por R$ 223.120.
Mas não é apenas uma questão matemática. O modelo da Caoa Chery também mostra suas qualidades, com visual elegante e sofisticado por fora e na cabine. O Jeep não deixa por menos e também tem o interior caprichado. Contudo, o Tiggo 7 Pro se mostra um passo à frente no luxo, com a iluminação ambiente e o câmbio tipo joystick. Outro ponto de vantagem para o modelo feito em Anápolis é o espaço interno razoavelmente maior.
Por fim, ao volante, o Tiggo 7 Pro mostrou maior vigor nas acelerações, sobretudo por causa do câmbio de dupla embreagem e sete marchas. Seu ponto fraco é a conectividade, que precisa melhorar – e é um trunfo do Compass. Em movimento, os dois SUVs privilegiam o conforto, com suspensões macias e isolamento acústico bem feito. Por fim, o Caoa Chery tem ambiente mais sóbrio, enquanto o Jeep aposta em cores e detalhes como os “easter eggs”.