Enquanto algumas marcas procuram unificar as suas linhas, independentemente da categoria que o automóvel pertença, outras buscam maior diversidade. A prova desta diferença ficou bem clara na 28ª edição do Salão do Automóvel de São Paulo, onde é possível encontrar inúmeros exemplos de design. A diversidade do mercado brasileiro e da relação do consumidor com o automóvel é tão específica que foi destacada pelo vice-presidente de design da Renault, Laurens van den Acker. Para ele, é natural que a Renault comece, cada vez mais, a ganhar modelos elaborados para o mercado nacional.
O designer explica que o brasileiro valoriza o automóvel de outra maneira. “Diferente do europeu, aqui os modelos precisam transparecer ‘poder’, estilo e refinamento”, ilustra, exemplificando a evolução das vendas do Logan e do Sandero no País após a reestilização.
Acker acredita que para a Renault manter seu crescimento no mercado, é necessário manter uma divisão entre os produtos locais e globais. “Modelos como Duster, Sandero e Logan são considerados os tripés para a sustentação da francesa”, explica.“Não haveria sentido, por exemplo, mostrarmos a Oroch na Europa”, pontua o executivo, acrescentando que o gosto por esse tipo de veículos é regional. A prova de que as picapes estão em alta foi reforçada com o conceito FCC4, apresentado pela Fiat, que antecipa as linhas da futura utilitária média do grupo.
O designer chefe da Hyundai, Casey Hyun, também compartilha do pensamento de “desglobalização” dos automóveis. Ele foi o “pai” do HB20, modelo desenvolvido exclusivamente para o Brasil, e apresenta na mostra o conceito HB20 R-Spec, um hatch baseado no compacto que antecipa as linhas da nova geração do HB20. Entre as mudanças previstas, está a utilização da grade dianteira parecida com a do Veloster. No desenvolvimento do modelo, Hyun morou no País com o intuito de se inteirar da cultura nacional.
Já o diretor global de design da Jaguar Land Rover, Wayne J. Burgess (foto abaixo), e autor do sedã XE explica que buscou elementos globais para desenvolver o sedã da Jaguar. Segundo ele, existem duas fases da Jaguar: antes e depois do XE. Os desenhos usados para compor o design, que considera uma revolução no estilo da marca, foram herdados dos modelos XF e E-Type, como lanternas e fendas. O projeto do XE foi pensado como um modelo de entrada para enfrentar Mercedes-Benz Classe C e BMW Série 3.
Para o diretor de design da Chery, Sérgio Loureiro, a chinesa está buscando unificar os padrões de desenho dos modelos da marca. Ele vive em Xangai, mas está fazendo uma imersão no Brasil para desenvolver outros produtos, mesmo que a longo prazo. Antes de ir para a China, o português trabalhou na Opel, Peugeot e BMW, e acredita que a concorrência entre diversos modelos chineses faz com que os carros sejam cada vez melhores.
Loureiro é um dos autores do conceito Beta e Arizo 7, em exibição no Salão do Automóvel. Ele ressalta que o brasileiro é exigente e que o grau de desenvolvimento dos designers daqui é muito alto. Com isso, acredita que os modelos chineses ganharão espaços como os carros japoneses e coreanos.
Peter Horbury, vice-presidente de design da Geely, diz que é necessário criar uma identidade para a marca, mas sem deixar todos os produtos com a mesma “cara”, como Peter Schreyer fez na coreana Kia, sem ficar engessado em um único formato. O inglês compara os veículos da marca chinesa ao reino animal: “Atualmente nossa linha tem um ‘bicho’ de cada espécie. Minha ideia é criar o conceito de uma família de felinos, mas não apenas gatos de diferentes tamanhos, e sim um gato, uma onça, uma pantera… Todos são da mesma espécie, mas têm suas próprias características”, conclui.
Quanto à polêmica de que os chineses são conhecidos no mundo automotivo por copiarem o design de marcas consagradas, Horbury afirma que no país asiático a cópia é vista como uma homenagem aos criadores originais. “A visão deles é diferente, é como se o mestre ensinasse o discípulo.” Mas também crê que o preconceito contra carros chineses deve acabar em pouco tempo, já que a qualidade dos produtos criados no país tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos.
O design interno é um dos destaques apresentados pela Citroën. No estande da marca há uma espécie de ateliê que mostra detalhes de como é feito o interior da linha DS. Segundo o artesão Jean Philippe Vanhulle, que exemplificou uma série de costuras, existe a possibilidade de refinar um veículo com alto padrão de qualidade.
Aula de design. A GM reservou um espaço no estande para mostrar o trabalho desenvolvido por estagiários que trabalham em seu centro de design em São Caetano do Sul (SP). Na exibição todas as etapas do desenvolvimento de um carro são mostradas. Bruno Passaretti Gaiardi explicou que a missão dada para a equipe foi desenvolver um modelo usando o molde de estruturas óssea e muscular.
Enrico Nascimento ficou responsável pela parte interna do veículo. “Usei cores inovadoras, diferentes das que estão no mercado.” Eduardo Pedro da Silva afirmou que o projeto feito por eles é inviável por ser livre de custos, mas que serve para exercitar a capacidade do estudo. Na etapa do clay (argila) o estudante pode trabalhar com os vincos e exposição de luz. “Por mais que o computador passe a realidade, com a argila é possível ver como o carro ficará no final.”
*Colaborou Thais Villaça