Há uma série de processos nas montadoras para definir o desenho de um veículo. Além de projetos, concursos internos e pesquisas com consumidores, é preciso haver integração entre a área responsável pelo visual do carro e os departamentos de marketing e engenharia.
Primeiramente, os estúdios de design recebem instruções do setor de estratégias, que define o segmento no qual a marca precisa de novidades. Para identificar as preferências dos clientes, as montadoras costumam fazer as primeiras clínicas de experimentação, que são reuniões com potenciais compradores sem revelar a marca organizadora.
“Antes mesmo de apresentar o carro, mostramos produtos como óculos, eletrodomésticos, entre outros, para saber se o consumidor procura algo mais moderno ou conservador. A partir daí norteamos o desenvolvimento da proposta”, explica o chefe de design da Ford na América do Sul, João Marcos Ramos.
O próximo passo é preparar os desenhos em duas dimensões, os chamados “sketches”, ou esboços, que podem ser feitos em papel ou no computador. “Quando o projeto é global, fazemos um concurso com centros de design de outros países para definir onde o carro será concebido”, afirma o chefe da Renault Design América Latina, Massimo Barbieri.
O desenho então é transformado em um modelo em 3D, feito com material chamado de “clay” (argila), uma massa feita de barro e elementos químicos, e recebe detalhes de acabamento como faróis, vidros e grades. A forma é preparada por máquinas, mas o acabamento final é praticamente artesanal. Essa fase é acompanhada de perto pela área de engenharia, que avalia a viabilidade técnica do projeto.
“A engenharia se esforça ao máximo para atender a ideia dos designers, analisando até que ponto é possível esticar uma chapa de aço antes que ela se rompa, por exemplo”, diz o diretor de design e package para a Volkswagen América do Sul, Luiz Alberto Veiga.
As mesmas fases são aplicadas para o interior do veículo. Há uma equipe que escolhe cores, formas e materiais de revestimentos. O objetivo é deixar a cabine com texturas agradáveis e sem brilhos indesejados.
Na etapa final, é feito um protótipo virtual do carro. No estúdio da Fiat, em Betim (MG), há uma sala destinada à visualização de modelos em 2D ou 3D. A alta resolução da tela permite observar os detalhes do projeto para que seja feita uma análise de superfícies e reflexos da carroceria. Isso permite reduzir o tempo de desenvolvimento e os custos de construção.
Desenhos infantis viram ‘sketches’ reais – Para comemorar o Dia das Crianças, em outubro, a Nissan preparou um concurso de desenhos para os filhos dos funcionários da empresa no Brasil com o tema “o automóvel do futuro”. Após a divulgação dos resultados – as vencedoras foram meninas entre 5 e 10 anos -, a equipe do estúdio de design da marca, no Rio de Janeiro, aceitou a missão de transformar as ideias da criançada em “sketches” reais.
No início deste mês, a Nissan divulgou o trabalho dos profissionais. “Em todos os projetos recriados em nossos estúdios percebemos a preocupação das crianças com as pessoas, o meio ambiente e a sua preservação. É uma experiência que nos traz energia e nos faz rever nossos conceitos”, diz o chefe do Nissan Design America Rio, Robert Bauer.
Inaugurado em junho, o estúdio participou junto com os centros de design dos EUA e Japão da criação do conceito Kicks, revelado no Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro. O protótipo dará origem a um utilitário compacto que será produzido em Resende (RJ) a partir de janeiro de 2016.