THIAGO LASCO
O designer norte-americano Chip Foose é uma espécie de lenda viva no mundo da personalização automotiva. Ele ganhou fama com o programa de TV Overhaulin’, em que surrupia carros antigos em mau estado, sem que os donos saibam, e os devolve totalmente reformados.
Foose esteve em São Paulo para participar de uma feira de tintas e falou sobre o desenho dos carros brasileiros, cores, tuning e a volta do programa depois de quatro anos. No Brasil, a reestreia será no dia 25 de outubro, pelo Discovery Channel.
O que você acha do desenho dos carros brasileiros? O que mudaria neles, se pudesse?
Gosto de todos os carros. Escolho a minha mulher, mas boto a mão em todos os carros que puder (risos). Há muita gente talentosa no Brasil, que sabe o que faz. Não sei o que mudaria, mas sempre tento entender a intenção original de quando o carro foi desenhado. Se a ideia foi criar algo funcional, vou tentar deixar o desenho mais limpo.
No Brasil, o filme Velozes e Furiosos (2001) provocou uma onda de transformações em carros. A moda durou alguns anos e o assunto se reduziu a nichos específicos. O que fazer para recuperar o interesse pelo tema?
Não sei, talvez um outro filme? (risos) Foi a mesma coisa com o filme 60 Segundos e o Mustang. O interesse pelo carro disparou, o filme influenciou a procura por um design estiloso e atemporal. Mas agora não precisamos esperar os filmes de Hollywood. Temos o Overhaulin‘ para inspirar as pessoas.
A recessão afetou seu trabalho?
Sim. Foi por isso que tivemos de interromper as filmagens do Overhaulin’. Quando a recessão chegou aos EUA, as indústrias que mais sentiram o baque foram a automobilística e a bancária, nossas duas maiores anunciantes.
Você tem uma cor favorita? Que fatores leva em conta antes de fazer cada transformação?
Aquele não é o meu sonho, mas o do dono do carro. No Overhaulin’, eu me reúno com pessoas que conheçam bem o dono e pergunto um monte de coisas, algumas estranhas, como a cor da roupa de cama ou da bicicleta dele. Se ele tem muitas camisas azuis, deve gostar de azul. Tento descobrir sua cor preferida, sem falar com ele. Se eu fizer algo e ele não curtir, não vai funcionar.
A lei brasileira é muito restritiva em relação a alterações nos carros. Por falta de conhecimento técnico, ela proíbe até mesmo a instalação de faróis de xenônio. Como contornar o problema?
Nos EUA temos uma associação, a SEMA, que atua junto ao governo e descobre com antecedência as mudanças na lei que estão sendo planejadas. Quando surge algo que pode prejudicar nossa indústria, a SEMA vai a Washington fazer pressão e educar o governo, explicando por quê essas mudanças serão ruins e afetarão o emprego de milhares de pessoas. Não sei se vocês têm algo parecido aqui. (No Brasil, a Associação Brasileira de Acessórios Automotivos, que tem a mesma finalidade, começou suas atividades em julho deste ano).
O que faz o tuning sobreviver? Em que países ele ainda está bombando?
Quando a economia está forte, o tuning deslancha. Quando não vai bem, a coisa cai um pouco. Cada país tem suas particularidades. Na Suécia, o interesse por hot rods e carros antigos restaurados é ainda maior que nos EUA, a ponto de uma feira anual atrair público correspondente a 1% da população do país inteiro. Eu jamais conseguiria imaginar 1% da população dos EUA prestigiando um evento.
Você pode adiantar quais carros já filmou para a nova temporada de Overhaulin‘?
Um Impala 1965, uma picape Chevy 1954 e um Camaro 1967. Mas talvez não sejam exibidos nessa ordem. Agora estamos trabalhando em um Fusca 1965 e há um Lotus Europa 1972 na fila.