Carlos Cereijo
Entre a aglomeração de visitantes e as belas mulheres dos estandes, eles circulam de forma discreta pelos corredores do Salão do Automóvel. Conhecidos como “espiões”, são engenheiros cujo principal objetivo é investigar os carros de montadoras concorrentes. No evento, que termina amanhã, vão armados com câmera fotográfica, trena e prancheta para descobrir as soluções de engenharia das outras marcas.
A equipe do JC conversou com um engenheiro-investigador, que trabalha para uma fabricante e pediu para não ter seu nome divulgado. Segundo ele, o normal é procurar referências e soluções na concorrência para melhorar os componentes usados pela engenharia. “Observamos desde o sistema de fixação de estepe até a cobertura de caçamba”, revela. Sobre a maneira de agir no Salão, o engenheiro conta que foi expulso de alguns estandes e bem recebido por outros “Tentamos agir da forma mais discreta possível”, explica.
Para investigar os concorrentes, os “espiões” levam câmera digital compacta. Um imã é fundamental, pois pode comprovar se um determinado componente é de aço. “O Salão proporciona tempo e velocidade para conseguir várias fotos e comparar lançamentos simultaneamente”, diz a fonte. A equipe do JC flagrou durante o evento a movimentação de engenheiros e colaboradores de várias marcas, inclusive alguns estrangeiros.
O gerente de Engenharia da Ford, Klaus Mello, explica que a tática é comum e não fica restrita aos salões. “Compramos ou alugamos carros da concorrência para fazer testes e comparativos. Com algumas marcas temos acordos de cavalheiros e até trocamos veículos”, explica. Ele conta também que no Salão o normal é analisar nos rivais, por exemplo, aspectos de aerodinâmica e da direção, soluções para o uso de componentes dentro do cofre do motor e sistema de dobras de bancos. “Observamos também tendências de design e de construção dos carros.”
Segundo o diretor de Engenharia Experimental da GM, Luciano Santos, os “espiões” da marca avaliam os rivais de forma ética. “Pedimos permissão, nos identificamos como funcionários da empresa e trocamos informações dentro do que é possível, para não interferir nos negócios”, explica.