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Fiascos históricos: o maior mico da Mercedes-Benz
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Fiascos históricos: o maior mico da Mercedes-Benz

Na quarta e última reportagem da série Fiascos históricos, veja por que o Classe A foi um dos maiores erros da marca

Rafaela Borges

30 de ago, 2017 · 9 minutos de leitura.

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fiascos históricos classe A
Fiascos históricos
Crédito:Má fama começou em teste de revista sueca, quando o carro capotou no 'teste do alce' (Foto: Mercedes-Benz)
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Na quarta e última reportagem da série Fiascos históricos, o tema é uma marca de luxo e aquele que foi um de seus maiores erros. Trata-se da primeira geração do Classe A, lançada para ser o primeiro compacto da Mercedes-Benz.

Na época, a ideia era concorrer com modelos como Volkswagen Golf. Depois, veio também o Audi A3. Esses carros são, essencialmente, hatches médios – considerados compactos em alguns mercados.

O primeiro problema apareceu nesse quesito. O Classe A não era um hatch tradicional. Ele estava mais para minivan.

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Lançado na Europa em 1997, o Classe A passou por um grande vexame já no primeiro ano. Em uma reportagem realizada por uma revista sueca, ele capotou no chamado “teste do alce”, que avalia a capacidade do carro de fazer mudanças repentinas de trajetória.

O centro de gravidade mais alto que o de hatches comuns contribui para essa falta de equilíbrio. Por causa desse incidente, o Classe A passou a receber sistema eletrônico de estabilidade que nunca, jamais, poderia ser desligado.

 


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À época, o assunto foi levado bastante a sério pela marca. Mas, hoje, a Mercedes-Benz trata o fiasco do “teste do alce” com um toque de humor.


Sempre que o presidente mundial da montadora, Dieter Zetsche, fala sobre o Classe A em um evento automotivo, no telão atrás do executivo aparece rapidamente a imagem de um alce – algo como uma mensagem subliminar. As gargalhadas da audiência são inevitáveis.

O outro problema do Classe A foi a concorrência. Os hatches médios têm uma pegada esportiva, atraindo um tipo de cliente mais jovem que o de sedãs, por exemplo. A Mercedes, tradicionalmente, é uma marca que cativa um público mais maduro.

Com o Classe A, no entanto, a estratégia era atrair os jovens. Porém, as minivans não têm grande apelo com esse tipo de consumidor. São carros que conquistam mais quem tem família e precisa de espaço.


 

A INVESTIDA NO BRASIL

O Classe A foi o modelo escolhido pela Mercedes-Benz para produzir, pela primeira vez, carros de passeio em território brasileiro. Foi construída exclusivamente para esse veículo uma fábrica na cidade mineira de Juiz de Fora.


O modelo seria o primeiro automóvel da Mercedes-Benz produzido fora da Alemanha, o que mostrava que a marca estava apostando forte no Brasil. Era o auge das “newcomers”, montadoras que passaram a fabricar carros no País a partir do fim da década de 1990.

A produção começou em 1999 e, inicialmente, veio a versão A160, com motor de apenas 99 cv. Um ano depois, a Mercedes-Benz lançou por aqui o Classe A topo de linha, A190, com 125 cv.

O Classe A, porém, não agradou o brasileiro. Ele era um Mercedes-Benz de entrada, mas nem por isso barato. Na época, falava-se, no País, que mais pessoas poderiam realizar o sonho de ter o desejado carro com estrela no capô (ou na grade, nesse caso), em alusão ao logotipo da Mercedes.


A estrela oferecida aos menos abonados – e nem tão menos abonados assim, já que o carro não era nada popular -, porém, não agradou.

O Classe A era sofisticado, mas não tinha o tipo de sofisticação que se espera de um Mercedes. Os motores eram fracos e a marca sempre foi conhecida pelos sedãs de luxo, não por um monovolume com estilo careta.

Além dos motores fracos, o Classe A tinha também um câmbio automatizado de uma embreagem, ou semiautomático. Algo como os que equipam hoje modelos como Mobi, Uno e Gol.


 

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O automatizado da Mercedes, porém, era ainda menos sofisticado. O carro não tinha pedal de embreagem, mas o motorista era obrigado a trocar as marchas pela alavanca.

Além disso, o modelo tinha uma manutenção complicada e cara. O cliente que o modelo almejava não estava acostumado com isso.

Com tudo isso, o primeiro Classe A foi um grande fracasso. A Mercedes esperava, no auge da produção, fazer 70 mil unidades por ano. As vendas totais do modelo, em toda a sua trajetória, chegaram a 63 mil exemplares.


A conjuntura brasileira, porém, auxiliou o fracasso. A primeira metade dos anos 2000 foi ruim para a indústria do País, com quedas nas vendas. A Audi, que deixou de produzir o A3 por aqui no mesmo ano em que a Mercedes tirou o Classe A de linha (2005), também não nacionalizou a segunda geração do carro.

A partir daquele ano, tanto Audi quanto Mercedes voltaram à condição de importadoras, que só abandonariam a partir de 2015, mas com outros carros – A3 Sedan e Q3, no caso da primeira, e Classe C e GLA, no da segunda.

A fábrica de Juiz de Fora foi desativada e, posteriormente, passou a produzir CLC para exportação. Esse modelo chegou a ser vendido no Brasil, mas em baixos volumes.


Na volta à condição de fabricante de carros de passeio, a Mercedes-Benz não usou a planta de Juiz de Fora, que, após o fim do CLC, foi adaptada para produção de caminhões. A nova planta é em Iracemápolis, no interior de São Paulo.

Quanto ao Classe A, ele teve segunda geração na Europa, também lançada como monovolume. Esse carro nem chegou a vir ao Brasil.

O modelo voltou ao País apenas na terceira geração, a atual. Com ela, o Classe A passou a ser, finalmente, um hatch médio com aptidão para encarar A3 e o BMW Série 1, lançado posteriormente.


 

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