Sem o controle adequado, algumas espécies acabam sendo extintas quando seu predador é muito agressivo. É o caso, no Brasil, das peruas, que foram desaparecendo uma a uma por causa do poder de sedução dos utilitários-esportivos, maiores e mais capacitados para as adversidades. Mas, se em toda mitologia há o herói, aquele ser super-capacitado capaz de mudar o rumo das coisas, o da epopeia do mercado brasileiro é a Golf Variant, por R$ 95.940 na versão Highline, que desbancou o líder entre os jipes, o HR-V. Mesmo mais barato (por R$ 90.700 na opção EXL CVT), o Honda não conseguiu segurar o ímpeto da Volkswagen.
Nos aspectos técnicos, a Golf Variant é melhor que o HR-V em quase todos os quesitos. A começar pelo desempenho do 1.4 TSi, um moderno motor turbo que gera 140 cv . O ótimo torque é de 25,5 mkgf e o pico máximo é atingido já a 1.500 rpm, praticamente na marcha lenta. Também com 140 cv, o 1.8 do Honda tem a vantagem estratégica de ser flexível, mas peca na força inferior, de até 17,4 mkgf com etanol, e só acorda totalmente a 5 mil rotações por minuto, deixando para o Volkswagen um poder de arrancada muito maior.
Essa capacidade ainda é auxiliada pelo câmbio automatizado de dupla embreagem e sete marchas, que funciona de forma rápida sem deixar o giro cair muito. Já o HR-V usa um CVT que simula sete velocidades, muito mais voltado ao conforto que ao desempenho.
Prova disso está nos números divulgados pelas respectivas fabricantes. Mesmo pesando 81 quilos a mais, com 1.357 quilos, a Variant vai de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos, enquanto o Honda atinge a mesma marca em 11 segundos. Em alta velocidade, o HR-V, por ser mais alto, mostra uma flutuação de carroceria que a perua da Volks não tem – o que a deixa mais confortável.
Vida nas cidades é ideal para as peruas
O Honda HR-V tem a vantagem de ser um carro mais bruto, melhor que seu rival neste comparativo para enfrentar buracos, leves alagamentos e estradas de terra um pouco mais danificadas. Mas nada muito severo, por não ter tração 4X4 nem como opcional.
Assim, fica claro que o modelo foi preparado pela Honda para ser um utilitário-esportivo urbano. E, nessa missão, ele tem muitas qualidades, como bom espaço interno, conforto e um porte imponente.
A construção sólida do HR-V agrada, assim como o seu trabalho de suspensão. A carroceria é bem neutra em curvas, não há deslocamento de peso para a dianteira em frenagens bruscas e ele tem uma boa estabilidade. Um comportamento raro em utilitários.
Porém, nem na hora de mostrar vocação para rodar na cidade ele consegue se equiparar à Golf Variant. Além de todos os bons atributos da versão hatch, ela ainda mostra um deslocamento aerodinâmico melhor. É como um “torpedo asfáltico”, centrada no chão, excelente em curvas – o multilink da VW é melhor que o eixo de torção do Honda – e com um nível de absorção de impactos muito bom – mesmo que a suspensão tenho sido feita originalmente para rodar no ótimo asfalto alemão.
Os freios são eficientes em ambos, mas com um curso menor de pedal no Honda, que é mais sensível na arte de parar. A perua oferece um pouco mais de espaço, com um entre-eixos levemente maior, 168 litros a mais no porta-malas (640 litros) e um nível similar de equipamentos.