Em “Gran Torino”, de 2009, o carro que dá nome ao filme é coadjuvante, mas também o grande símbolo da temática do drama. Ambientado em 2008, em uma Detroit decadente e no auge da crise econômica, o Ford de 1972 é guardado como relíquia pelo extremamente conservador Walt Kowalski (Clint Eastwood, que interpreta o protagonista e dirige o longa).
Ex-funcionário da Ford, Kowalski demonstra, pela forma cuidadosa com que preserva o cupê, o apego a uma época em que a indústria automobilística gerava riquezas e tornava pujante a economia e a vida dos moradores da cidade localizada no extremo norte dos Estados Unidos.
Impecável, o carro é tudo o que as pessoas próximas ao velho truculento querem dele. Em comum, sua neta, um colega e uma gangue da vizinhança desejam por as mãos no cupê. Mas também pretendem manter distância do aposentado que, no melhor estilo ufanista, mantém a bandeira do país hasteada na varanda de casa, algo comum no interior dos EUA.
História. A trajetória do Ford começou em 1968 – ele surgiu como versão sofisticada do Fairlane, batizada de Fairlane Torino. O segundo nome é o da cidade italiana (Turim, em português), sede da Fiat, considerada a “Detroit da Europa” à época. Esse foi, inclusive, o nome proposto para o modelo que viria a se chamar Mustang.
Em 1970, o carro recebeu sua primeira atualização. Além das mudanças no visual, a carroceria ficou mais larga, baixa e comprida. No ano seguinte, o Torino ganhou identidade própria e o termo Fairlane saiu de cena.
A gama Torino era formada por 14 configurações. No caso da carrocerias, havia opções fastback, cupê de duas e quatro portas, perua e conversível. De motor, eram cinco as versões, sendo quatro de oito cilindros. O câmbio podia ser manual de três ou quatro marchas ou automático de três velocidades.
Com a segunda geração, lançada em 1972, surgiu o Gran Torino, com carroceria perua, sedã e cupê, como a que aparece no filme homônimo. Chamado de SportsRoof, o carro tinha motor 5.0 V8 a gasolina de 142 cv e câmbio manual de três marchas. A tração era traseira e a velocidade, segundo informações da Ford, era de 171 km/h. O modelo deixou de ser produzido em 1976.
Família ‘postiça’ derruba preconceitos. No funeral da esposa, o ex-funcionário da linha de montagem da Ford Walt Kowalski fica bastante irritado com o comportamento de sua família, com a qual não tem boa relação. Veterano da Guerra da Coreia, o aposentado é um homem rude e nacionalista tão ferrenho que chega a se indispor com o primogênito por ele ser vendedor de carros de uma marca japonesa.
Apegado ao passado glorioso de Detroit, berço de Ford, GM e Chrysler, Kowalski se recusa a deixar a casa em que sempre viveu, mesmo após seus compatriotas terem abandonado o decadente bairro, que foi tomado por imigrantes pobres, que lhe despertam preconceito. Assim se apresenta “Gran Torino”.
Mas com o tempo surgem laços de amizade entre Kowalski, Thao e Sue, jovens estrangeiros que moram na casa ao lado e são chamados por ele de “chinas”. A dupla é, na verdade, do povo hmong, nômades que apoiaram os EUA no Vietnã e tentam ganhar a vida em um país hostil.
Se os filhos de Kowalski o veem como um velho decadente e descartável, Thao e Sue o consideram um homem de valor, um herói a ser homenageado. Não é à toa que o Gran Torino, objeto de desejo de todos, fica com o único que quis, antes do carro, a amizade de Walt.