GUILHERME WALTENBERG
Sanya (China) – Su Lifeng é diretor comercial e de marketing da Hao Jue, maior fabricante de motos da China. A empresa, que é fornecedora da brasileira Dafra, pretende conquistar 10% de participação no mercado brasileiro. Como parte desse plano, lançará em breve um modelo com motor de 250 cm³. O executivo falou com exclusividade ao JC.
O que a Hao Jue espera do mercado brasileiro?
O Brasil emplaca cerca de 2 milhões de motos ao ano. Esperamos que o mercado cresça para 3 ou 4 milhões nos próximos anos. A ideia é que nossa parceria com a Dafra represente uma fatia entre 5% e 10% desse total.
Há planos para uma fábrica da Hao Jue no Brasil?
Se atingirmos nosso objetivo, porque não? Mas, no momento, não temos planos.
A empresa busca outras parcerias no País?
Não. Nossa filosofia é a de ter apenas um parceiro onde atuamos. Preferimos levar tempo para entrar em um mercado e chegar com força. Temos diversos critérios para selar parcerias.
Fora da China, onde a Hao Jue atua com mais força?
Nosso forte é a África Ocidental. Países como Nigéria e Togo estão entre os maiores compradores. América do Sul e Central também representam uma boa fatia de nossas vendas, com destaque para o Brasil. Honduras, Venezuela e República Dominicana também são importantes.
Quais são as metas da empresa no mercado chinês?
Temos três fábricas que, juntas, podem montar 5 milhões de motos por ano – atualmente fazemos cerca de 3 milhões. Somos líderes na China e representamos uma parcela de 16% do mercado. Nosso objetivo é chegar a entre 20% e 30% e usar toda a capacidade de nossas fábricas.
Qual a média de vendas anuais de motocicletas na China?
O país produz 25 milhões de motos por ano, das quais 15 milhões são para o mercado interno, que tem 60% de vendas no campo e 40% na cidade.
Qual o maior desafio para ampliar esse mercado?
A proibição de vendas em grandes cidades, como Pequim e Xangai. Outro agravante é o aumento da oferta de carros mais baratos e de motos elétricas.
Como é feito o pagamento?
Todas são vendidas a vista. Não há crédito para compra de motos. E, honestamente, na China, assim como na Índia, isso não faz falta. Nossas motos custam no máximo 10 mil yuanes (cerca de R$ 2,8 mil). Como a média salarial da China vai de 1 mil a 2 mil yuanes, os clientes poupam e compram. Estudamos abrir um banco para atuar nos os países em que não há essa facilidade.
Quais as diferenças do mercado chinês para o brasileiro?
O ambiente é completamente diferente. A começar pelos próprios clima e natureza. A cultura motociclística também. O propósito pelo qual o brasileiro e o chinês usam as motos são diferentes. Por menor que sejam as motos, no Brasil o cliente quer que elas sejam rápidas. Na China, os motociclistas não passam dos 50 km/h ou 60 km/h. Aqui é também é proibido rodar de moto nas rodovias.
Vocês pretendem entrar no mercado das motos elétricas?
Já produzimos algumas, mas nosso foco é nas convencionais.
E as de alta cilindrada?
Apesar de na China as motos acima de 250 cm³ serem proibidas, mais cedo ou mais tarde vamos produzir modelos maiores. Mas sabemos que se trata de um mercado limitado. No mundo todo, as vendas do segmento não passam do 1,5 milhão de unidades por ano. Já sentimos alguma demanda mesmo na China, onde para dirigi-las é preciso pertencer a um motoclube e obter uma licença especial do governo.