A urgência para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) já não é mais uma questão para o futuro e exige de todos os setores da sociedade alguma parcela de responsabilidade para a solução do problema.
No Brasil – em especial no setor automotivo –, governos, academia e indústria estão contribuindo com incentivos e desenvolvimento de produtos mais amigáveis ao meio ambiente.
Com a finalidade de ampliar a frota de carros elétricos e híbridos, algumas administrações estaduais oferecem descontos ou mesmo isenção no pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). São os casos de Alagoas, Maranhão, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal.
No Estado de São Paulo, mercado com o maior número de emplacamentos de carros eletrificados, não há incentivo de desconto. Na capital, porém, o proprietário pode ter a restituição de 50% do tributo, como também está livre do rodízio municipal de circulação.
Outro estímulo são as taxas de financiamento mais baixas no balcão de instituições financeiras. Recentemente, o Banco de Desenvolvimento da América Latina escolheu o Santander para alocar US$ 200 milhões destinados ao fomento de linhas de crédito para a compra de modelos elétricos e híbridos.
“O foco está sempre no incentivo a práticas sustentáveis, com ações como injetar recursos para adoção de hábitos e tecnologias limpas, o incentivo à descarbonização do transporte e à mobilidade elétrica”, diz Cezar Janikian, diretor da financeira do banco.
Mas o que deverá impulsionar de maneira mais evidente a adoção de tecnologias de mobilidade limpas no País é o Programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover).
Benefícios com o Mover
Concebido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em parceria com os Ministérios da Fazenda e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o programa prevê R$ 19,3 bilhões de créditos financeiros entre 2024 e 2028.
Ao se habilitarem no programa, as empresas poderão se beneficiar de abatimentos de impostos federais, como contrapartida a investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento e em projetos de produção, com foco em mais eficiência energética e descarbonização.
“É uma oportunidade imensa para o País não ficar à margem do mundo. O Mover possibilita capacitação e desenvolvimento local a partir da realidade brasileira”, resume Marcus Vinicius Aguiar, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). “A política setorial oferece vantagens para trazer conhecimento, tanto por meio da indústria quanto pela academia.”
Anunciado no fim de 2023 e aprovado em definitivo após trâmite no Congresso Nacional em junho passado, o Mover vem mostrando resultados. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), nos últimos seis meses, a indústria anunciou novo ciclo de investimentos, que soma R$ 130 bilhões até 2028.
Conforme a mais recente atualização do MDIC, 121 empresas já se encontram habilitadas no Mover, ou seja, estão autorizadas a receber créditos financeiros para seus projetos.
“Acredito que, em pouco tempo, as características da frota brasileira serão outras. Diversos fabricantes sinalizaram que produzirão modelos híbridos flex localmente”, destaca Aguiar. “Com o Mover, também surgirão projetos de motores limpos, a hidrogênio verde, por exemplo. Ou até a produção de baterias, por que não?”