Thiago Lasco
Em 31 anos de vida, o Jornal do Carro fez história furando o cerco da indústria e antecipando lançamentos guardados a sete chaves. Alguns dos jornalistas que passaram pelo caderno se especializaram nesses furos de reportagem e são conhecidos pelo apelido de “segredeiros”.
Um deles é o fotógrafo Oswaldo Palermo (foto), que trabalhou no Grupo Estado por 33 anos, sendo 17 no JC. Quando surgiam pistas sobre um protótipo em testes, ele saía à caça. Espreitava fábricas e vasculhava estradas e praias visadas pelas montadoras. “Fomos os primeiros a usar helicópteros”, conta.
Continua depois do anúncioUm de seus companheiros nessas aventuras foi André Gomide, hoje editor do portal Jornal Veículos. “Certa vez, fomos à fábrica da VW atrás do Gol ‘Bolinha’. Fomos pegos e tive de esconder o filme na bota. Já para flagrar o primeiro Palio passamos quatro dias acampados ao lado da Fiat”, lembra.
Gomide diz que para descobrir o local de testes do carro era preciso ter uma rede de informantes. “De frentistas a garçonetes de beira de estrada”, explica. “Eu ligava para o hotel da cidade, fingindo ser da concessionária da região e perguntava se o pessoal da montadora havia chegado”, conta.
Não foram poucas as vezes que executivos de montadoras procuraram a direção do jornal para tentar impedir a publicação dos segredos. “Mas a empresa sempre nos bancou”, lembra Gomide.
Com a internet e as câmeras digitais, mais gente passou a flagrar protótipos. Se isso facilitou o trabalho da imprensa, há quem ache que a importância dos “segredeiros” diminuiu. “Menos gente investe nisso, já sabendo que os leitores podem mandar fotos”, acredita Gomide.
Palermo afirma que o interesse pelos segredos diminuiu. “As pessoas veem imagens feitas nos salões estrangeiros, e os modelos logo chegam aqui.”
Glauco Lucena, ex-repórter do JC que atualmente edita a revista Auto Esporte, explica que o caminho da apuração mudou. “Hoje, você tem de fuçar o site coreano, checar informações com fornecedores, infiltrar-se em clínicas de produto. Isso é mais importante que rodar atrás do carro. Muitas etapas do desenvolvimento de um modelo são feitas por simulações digitais, e ele só vai para a rua na fase final.”