Nova filosofia, nova direção, novo patamar. Na apresentação do X80, SUV para sete pessoas que já está à venda, a Lifan deixa bem claro que sua pretensão não é continuar sendo vista como marca de carros baratos, reputação comum a todas as chinesas que operam no País. Agora, ela quer oferecer modelos de maior valor agregado, que possam disputar clientes com os grandes players do segmento, como a Hyundai. E o X80 é apenas o primeiro de uma lista de próximos produtos da marca que buscarão esse posicionamento.
Montado no Uruguai em regime CKD, o novo modelo tem motor 2.0 turbo a gasolina de 184 cv, câmbio automático de seis marchas, com possibilidade de trocas manuais na alavanca, e custa R$ 129.777 (já com frete e pintura inclusos). Com esse preço, a Lifan pretende atacar não só outros SUVs de sete lugares, como Mitsubishi Outlander, Peugeot 5008, Kia Sorento, Chevrolet Trailblazer, Hyundai Santa Fe e Toyota SW4, todos com versões entre R$ 150 mil e R$ 190 mil, mas também opções para cinco pessoas, caso de Chevrolet Equinox Premium e Hyundai Tucson Limited, ambas beirando os R$ 160 mil.
Melhora à primeira vista
As principais armas do novato são a cabine bem cuidada e o pacote de equipamentos. O painel virtual flerta com modelos da Audi, enquanto os materiais de boa qualidade (bancos de couro sintético, apliques que imitam madeira, plásticos agradáveis ao toque) não exalam o odor desagradável comum aos primeiros chineses que desembarcaram no País. Se ainda não dá para se sentir em um carro alemão, a melhora é evidente.
+ Conheça a página do Jornal do Carro no Facebook
X80 tem bom recheio
Oferecido em versão única, VIP, o X80 traz itens pouco triviais em sua faixa de preço, como ajuste elétrico para também o banco do passageiro dianteiro (e não apenas para o motorista), ar-condicionado digital com console de operação independente para os que viajam atrás, assistentes de partida em aclives e declives e até uma espécie de sistema “anticapotamento” que evita que a carroceria incline em curvas acentuadas ou mudanças de trajetória súbitas.
Outros itens de série incluem teto solar, chave presencial, câmera de ré, retrovisores externos elétricos com função de rebatimento, freio de estacionamento elétrico, lanternas de LEDs (os faróis são de xenônio), sensores de obstáculo dianteiro e traseiro, controle de estabilidade e central multimídia com tela de 8″ e compatibilidade com Android Auto e Apple CarPlay.
Espaçoso
A cabine oferece conforto e espaço elogiáveis, e não apenas nas duas primeiras fileiras. A terceira realmente consegue acomodar dois adultos. Passageiros com até 1,80 metro têm espaço suficiente para a cabeça e os pés. O acesso aos últimos assentos é facilitado pelos bons ajustes do banco do meio, que pode ser deslizado por trilhos como os dianteiros. Também pode ter os encostos escamoteados por meio de controles na parte superior e nas laterais. Com os sete lugares postos, o porta-malas leva apenas 200 litros; a capacidade sobe para 900 com a terceira fila rebatida e 2.500 apenas com os dois bancos dianteiros.
Regulagens de altura e profundidade do volante (que tem formato semelhante ao do Citroën C4 Lounge) facilitam a busca pela melhor posição de dirigir. Os comandos nem sempre são intuitivos (encontrar o caminho dos menus que leva ao odômetro parcial é desafiador) e a central multimídia poderia ter uma segunda porta USB.
As largas colunas C, que conferem certa personalidade às linhas do modelo, também atrapalham a visibilidade, já dificultada pelo pequeno vigia traseiro. Em manobras, os grandes retrovisores externos e a câmera de ré quebram o galho, mas uma câmera de 360 graus tornaria a vida do motorista bem mais fácil.
Impressões
Em movimento, o que talvez mais se alinhe com a proposta de SUV de luxo pretendida pela Lifan é o bom isolamento acústico. Mesmo em giros mais elevados, o funcionamento do motor não incomoda os ocupantes. Na unidade avaliada, porém, havia um pipocar constante que parecia vir de dentro do painel, como se houvesse peças plásticas soltas.
Os 28,4 mkgf de torque surgem a partir de 1.600 rpm, o que propicia a agilidade necessária no trânsito urbano. Em rodovias, depois que embala o Lifan vai bem, com a sexta marcha estabilizando as rotações pouco acima de 2 mil rpm a 120 km/h. Em ultrapassagens ou retomadas, porém, o ganho de velocidade gradual (mesmo no modo Sport) faz lembrar que o foco do X80 não é o desempenho.
O que incomoda de verdade no novo Lifan é o retardo nas respostas da direção – que tem um excesso de folga característico dos carros chineses – e dos freios, que parecem pouco sensíveis ao toque do pedal. Sinal de que ainda há pontos a melhorar, se a ideia da marca é mesmo competir de igual para igual com os queridinhos do público.
Metas realistas
Para o primeiro ano de vida do X80 no Brasil, a Lifan se propõe a atingir um ritmo de 120 unidades vendidas por mês – a capacidade da planta uruguaia, que por enquanto abastece apenas o mercado brasileiro, é pelo menos quatro vezes maior que isso.
O vice-presidente da marca chinesa no País, Johnny Fang, mostra que, por trás de uma meta que soa conservadora, há uma boa dose de realismo diante das dificuldades embutidas nessa guinada que a marca quer dar.
“É muito difícil para a gente oferecer um carro premium e se posicionar dessa maneira, porque o consumidor brasileiro só vê carro chinês como sinônimo de custo-benefício. Mas queremos mudar de patamar. Queremos mostrar que o carro chinês se desenvolveu nos últimos anos a ponto de hoje poder oferecer a mesma qualidade dos coreanos e japoneses”, defende o executivo.
“Acreditamos que o produto conseguirá provar seu valor, mas não podemos ser tão agressivos na projeção inicial. Por isso, colocamos uma meta que achamos que conseguimos cumprir, e esperamos aos poucos ir expandindo essa marca.”
PRÓS E CONTRAS
Prós: Cabine. Acabamento e conforto agradam. Espaço na terceira fila de bancos é digno para dois adultos.
Contras: direção e freios. Excesso de folga na direção e retardo nos freios incomodam quem gosta de ter o carro à mão.