O conselho de administração da Nissan votou pela demissão de Carlos Ghosn na manhã dessa quinta-feira (22), em Tóquio, no Japão. Na mesma votação, Greg Kelly, diretor da companhia, e também preso na mesma operação, também foi demitido. As informações são da japonesa NHK via agência de notícias Reuters.
Com essa posição, acaba o reinado de duas décadas de Ghosn à frente da montadora japonesa. Como executivo, ele foi responsável por salvar a Nissan da falência. Ele colocou a companhia de volta no rumo da lucratividade e a consolidar a, agora ameaçada, aliança entre Nissan e Renault. Em 2016, a aliança ganhou a entrada da Mitsubishi com a compra da terceira pelas duas companhias.
Na próxima semana a Mitsubishi também pretende convocar seu conselho de administração. Eles irão votar também pela demissão de Ghosn. Diferentemente das duas companhias, a Renault tem adiado a decisão. Segundo fontes da Reuters, chegou a pedir a Nissan que adiasse a votação do conselho.
Aliança Renault-Nissan deve ser mantida
De acordo com um alto executivo da Nissan que falou à Reuters, apesar do tremor, as relações entre as três devem ser mantidas. “Para mim, o futuro da aliança é o grande negócio. É óbvio que depois de tanto tempo precisamos fazer as coisas juntos. Separar seria impossível”, completou.
Um outro executivo da Nissan falou em anonimado a agência de notícias. Ele afirmou que os rumores de tomada de controle da Nissan pela Renault foram motivadores de toda a ação. Isso teria transformado Ghosn, que é cidadão francês e mais ligado à Renault, em alvo para atingir a montadora francesa.
Relembre o caso
Carlos Ghosn foi preso na última segunda-feira (19) por suspeita de ter usado filiais da Nissan para dissimular o pagamento de quase US$ 18 milhões na compra de um imóvel de luxo no Rio de Janeiro e de uma casa em Beirute.
Conhecido pela capacidade de cortar custos e recuperar negócios em crise, Ghosn, de 64 anos, é acusado também de fraudar sua declaração de renda e de usar recursos corporativos para benefício pessoal. A investigação foi originada a partir de uma denúncia interna e teve a colaboração da Nissan nos últimos meses.
O jornal japonês Nikkei revelou parte das investigações que apontam para a suspeita de que a Nissan Motors teria criado uma afiliada na Holanda e que, a partir dessa unidade, US$ 17,8 milhões foram pagos em dois imóveis de luxo, no Rio e no Líbano.
De acordo com o jornal, a subsidiária holandesa foi criada em 2010, com um capital de US$ 53 milhões. O dinheiro seria usado para investimentos. Oficialmente, a empresa indicava que aqueles recursos tinham como objetivo apoiar startups, ainda que existam poucas evidências de que o dinheiro acabou tendo mesmo essa finalidade.
Para se chegar a essas informações, funcionários da Nissan usaram uma nova lei no Japão que permite o mecanismo da delação premiada. Ela foi introduzida em junho e o caso do brasileiro é apenas o segundo a envolver o novo mecanismo.