A 90ª edição do Salão do Automóvel de Paris abriu as portas ao público nesta segunda-feira (14). A mostra francesa, contudo, apesar de resistir ao atual momento – marcado pela falta de interesse das fabricantes nesse formato de evento -, tem sérios desafios pela frente. O principal deles é peitar a invasão chinesa.
Ao contrário do Salão de São Paulo, que volta em 2025 ao tradicional Anhembi, após reforma total do complexo, a mostra francesa se mantém no centro de exposições Porte de Versailles. Agora, contudo, há mais experiências voltadas ao público. Desse modo, o consumidor – que hoje é bombardeado por tecnologias -, pode não só contemplar, mas experimentar vários produtos expostos no Salão.
Voltando a falar das montadoras chinesas, cabe explicar que o clima segue tenso em Paris. Afinal, a União Europeia se prepara para impor pesadas tarifas de importação sobre veículos elétricos fabricados na China. Sem contar que, na Europa, a indústria segue lutando contra a fraca demanda local. É tanto que já tem fabricante trabalhando com reversões. A Fiat, por exemplo, vai produzir o 500e em configuração híbrida.
Montadoras chinesas em Paris
Ao contrário de 2022, quando as chinesas representavam quase metade das marcas presentes no Salão de Paris (quando a feira retornou após hiato de quatro anos), em 2024, são cerca de 1/5 do total. GAC e Xpeng são destaques, mas outras gigantes da China, como GWM, que participou intensamente da última edição com as marcas Ora e Wey, simplesmente não apareceu. Afinal, as taxas mais altas de importação de veículos elétricos fabricados na China espantou as fabricantes. A união Europeia quer barrar a todo custo a invasão chinesa. Entretanto, por outro lado, mesmo criticando a medida da União Europeia, as chinesas continuam avançando com os planos de expansão no Velho Continente e não têm aumentado os preços para cobrir os impostos.
E não dá para falar em carro elétrico sem citar a BYD. A marca, nesse sentido, defende que o novo aumento de tarifas planejado pela UE só levaria os carros elétricos a preços ainda mais altos e, assim, afastaria compradores, fazendo com que os consumidores paguem a conta. “Isso impedirá que as pessoas mais pobres comprem (carros elétricos)”, disse a vice-presidente executiva da BYD, Stella Li, à Reuters.
Tanto a própria BYD – que ataca com o SUV elétrico Sea Lion 07 e diversos outros produtos durante a mostra – quanto a conterrânea Leapmotor, anunciaram novidades para Paris. Esta última, marca parceira da Stellantis, levou todos os seus modelos para a feira e revelou o SUV médio B10, 100% elétrico. Também estão no estande, C16, C10 e T03 – estes dois últimos já confirmados no Brasil. Aliás, a marca já tem site brasileiro e vai começar sua operação em 2025 no País.
Renault Bigster
Mas nem só de marcas chinesas vive o mundo dos carros elétricos apresentados em Paris. Por lá, destaque para o retorno de fabricantes norte-americanas, como Cadillac, Ford e Tesla, por exemplo. Tem elétrico sul-coreano, apresentado pela Kia e, nas europeias, destaque para modelos do grupo Volkswagen, representados por Audi e Skoda, assim como BMW e Renault, que aposta no Renault 4, um SUV elétrico que rememora o clássico da década de 1960.
Sua subsidiária Dacia, além de mostrar o Duster, fez do Salão do Automóvel de Paris palco para a exibição inédita do SUV médio Bigster. Basicamente – apesar de ter apenas cinco lugares, e não sete, como inicialmente previsto -, o SUV tem dimensões maiores que o irmão menor Duster. São, portanto, 4,57 metros de comprimento, 1,81 m de largura, 1,71 m de altura e 2,70 m de entre-eixos. No porta-malas, vão 667 litros, de acordo com a fabricante. Na Europa, tem unidades híbrida leve, híbrida plug-in e até abastecimento com gás liquefeito de petróleo (GLP). Por dentro, quadro de instrumentos digital de 10″ e tela central de 10,11″, bem como sistemas ADAS. Não deve chegar ao Brasil, afinal, a Renault tem plano de fazer um novo SUV para o mercado nacional, que ficaria acima de Kardian e Duster.
Também subsidiária da Renault, a Alpine ganha destaque no salão parisiense. É tanto que vem com três estreias mundiais: A290, A390_β e A110 R Ultime (foto abaixo, à dir.). Este último, tem produção limitada a 110 unidades e 350 cv de potência – 50 cv a mais que o modelo convencional. O responsável por movê-lo é o motor 2.0 turbo de quatro cilindros que trabalha em conjunto com nova caixa de câmbio. Entre 0 e 100 km/h são apenas 3,8 segundos.
Crise
Diversos acontecimentos evidenciam a crise na indústria automotiva europeia. Além de alguns países terem retirado ou reduzido pacotes de estímulo à compra do carro elétrico, tradicionais montadoras europeias vêm passando por uma fase difícil. É tanto que Stellantis reduziu sua previsão de lucros devido a problemas de estoque em seus negócios nos EUA e a Volkswagen tem brigado para reduzir custos, o que pode até mesmo levar ao fechamento de fábricas alemãs, com o consequente corte de empregos.
Em síntese, marcas europeias vêm enxergando grande dificuldade na tentativa de competir com as chinesas. Além de custos mais baixos, os asiáticos têm capacidade de desenvolver novos veículos elétricos em um curto espaço de tempo. Enquanto, na China, um elétrico totalmente novo é lançado em dois anos, na Europa, o período sobe para quatro anos.
*Colaborou Diogo de Oliveira
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