Até agora, a Citroën não tinha um modelo na categoria mais fértil do mercado, a dos SUVs compactos. A partir do mês que vem, porém, haverá nova planta nesse jardim. Depois de três anos preparando o terreno e cuidando do plantio, o C4 Cactus nasceu. Trará o motor mais potente da categoria (1.6 turbo de até 173 cv), e vai precisar de todas as suas forças. Montamos um poderoso comitê de recepção para ele, composto pelos dois modelos mais vendidos do segmento: o líder Honda HR-V e o vice Jeep Renegade.
Para enfrentar os novos oponentes, a Citroën está empregando a mesma estratégia já utilizada com o sedã C4 Lounge: carros bem equipados e preço competitivo. Neste comparativo, o C4 Cactus comparece na versão topo de linha (Shine) com pacote de opcionais Pack, por R$ 98.990.
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Além do motor 1.6 turbo, o modelo novato oferece equipamentos exclusivos na categoria, como a frenagem automática (leia detalhes sobre o pacote tecnológico na página ao lado).
Coincidência ou não, o fato é que na semana passada a Jeep reduziu os preços de duas versões do Renegade (Limited e Sport). O Limited, como o do comparativo, ficou R$ 2 mil mais em conta. Agora, tem preço sugerido de R$ 96.990. O motor é o 1.8 aspirado.
O Honda HR-V é o mais caro do trio. O líder de vendas dos SUVs compactos traz itens como o freio automático em paradas, mas custa R$ 105.500 na versão EXL (o modelo usado para as fotos do comparativo é o EX). Apoiado nos equipamentos, no motor turbo e no preço, o novato levou a melhor.
TAMANHO É DOCUMENTO?
Perto dos concorrentes diretos, o Cactus é o “baixinho” do trio. Enquanto o HR-V tem 1,59 m e o Renegade, 1,67m, o modelo da Citroën tem 1,56 m – e isso levando-se em conta a barra de teto.
O efeito colateral é que esse porte menor também significa que o motorista fica em posição mais baixa ao volante. E aí está um ponto chave: quem compra carros dessa categoria normalmente é atraído, entre outras razões, pela sensação de ver tudo de cima. No Citroën, ela é menos evidente.
Embora o Cactus seja o mais curto dos três (4,17 m, ante 4,29 m do HR-V e 4,23 m do Jeep), a distância entre os eixos (2,6 m) é maior que a do Renegade (2,57 m), e praticamente a mesma do Honda (2,61 m).
Nos três modelos, o espaço no banco de trás é razoável, mas no porta-malas o HR-V leva a melhor: são 437 litros, contra 320 l do Cactus e do Renegade. Nesse quesito, o Citroën tem outro ponto negativo: a tampa não abre até embaixo, o que pode ser um empecilho para a colocação e retirada de objetos maiores e pesados.
TECNOLOGIA
Cada um dos três modelos tem suas exclusividades, mas nesse quesito o Cactus leva a melhor. Na versão denominada Shine Pack (a mais cara), o Citroën vem com frenagem automática na iminência de choque frontal com veículos ou pedestres e alertas de saída involuntária de faixa e de colisão.
O Renegade é o único do trio a vir com start&stop (desliga o motor em paradas de semáforo, por exemplo). Já o HR-V tem um útil sistema que mantém o freio aplicado em paradas (o motorista pode tirar o pé do pedal em semáforos ou congestionamento).
Ainda sobre o tema, o Honda e o Jeep têm acionamento elétrico para o freio de estacionamento. O C4 utiliza alavanca.
Cactus e HR-V têm tela multimídia de 7”, enquanto no Renegade ela mede 5”. O Honda e o Jeep já vêm com GPS. No Citroën, a navegação depende de espelhamento com smartphones (há compatibilidade com Android Auto e Apple CarPlay).
Embora os três tenham tração dianteira, o Renegade é o único com suspensão independente nas quatro rodas, e só o Cactus vem com um seletor que ajusta a força de tração para o tipo de piso (lama, areia, etc.). O sistema se chama grip control, e está disponível apenas na versão Shine Pack.
O Jeep e o Citroën têm luzes que acompanham as curvas. A função fica a cargo das luzes de neblina, que se acendem independentemente.
SEGURANÇA
Afora os itens de segurança ativa (que inibem a possibilidade de acidente, caso da frenagem autônoma), o Cactus Shine vem com quatro air bags de série (seis com o pacote Pack). O HR-V também oferece quatro bolsas, enquanto o Renegade traz apenas as duas frontais obrigatórias como itens de série.
Opcionalmente, porém, o Jeep pode ter sete air bags (frontais, laterais, do tipo cortina e um de joelhos, para o motorista), por R$ 3.490. Falando em opcionais, o Renegade é o único que pode receber teto solar, por R$ 7 mil.
DESEMPENHO
Com seu motor 1.6 THP turbo de até 173 cv, o Cactus é imbatível na aceleração. As arrancadas são rápidas e o giro do motor sobe com facilidade. O propulsor ainda faz uma boa dobradinha com o câmbio automático de seis marchas.
O HR-V tem motor 1.8 aspirado de 140 cv e câmbio automático CVT, que lhe confere acelerações satisfatórias, mas brandas. Já o Renegade fica devendo vigor. Seu 1.8 de até 139 cv sofre para movimentar os quase 1.400 kg do modelo (ele é o mais pesado da categoria).
O resultado são saídas lentas, a menos que o motorista pise com vontade no acelerador. O problema é que nesse caso o consumo aumenta. O Jeep é o que mais bebe desse trio. HR-V e Renegade contam com aletas para trocas de marcha no volante.
ACABAMENTO
O Renegade é o único com revestimento interno macio, e transmite maior cuidado nos detalhes. Nele, o porta-luvas, quando aberto, desce lentamente, enquanto nos dois concorrentes não há amortecimento. O Cactus tem superfície de painel rígida, embora a versão Shine venha com uma moldura cinza suave ao toque. Os quebra-sóis não têm iluminação e possuem acabamento muito simples. No porta-malas, falta cobertura sobre uma parte da lataria, que fica exposta e sujeita a riscos ocasionados por bagagens. O HR-V tem detalhes de couro no console, mas no geral a superfície também é dura.
OPINIÃO
O melhor SUV é o ‘não SUV’?
Não é de hoje que a gente sabe que o termo “SUV” foi deturpado. A imagem daquele utilitário-esportivo capaz de ir onde os veículos “comuns” não iam ficou apenas na ideia. O que restou foi o visual aventureiro. Com o Cactus, a Citroën embarca na onda, no que faz muito bem. Os números de vendas estão aí para provar que os clientes querem esse tipo de veículo. O carro tem visual moderno e é gostoso de dirigir.
E isso vem do fato de que, na Europa, ele teve a função de substituir o C4 hatch. Ou seja, lá ele não precisa conviver com esse devaneio de “SUV”. Aqui, para obter a tão almejada chancela (e poder se igualar a modelos como HR-V e companhia), foi preciso elevar a altura em cerca de quatro centímetros, de modo a aumentar os ângulos de entrada e saída. Mesmo assim, ele ainda é mais baixo que os concorrentes. O risco que ele corre é que o comprador desse tipo de carro gosta de se sentir mais alto ao volante. E o Cactus não leva ninguém às alturas.
* A capacidade do porta-malas do Renegade é de 320 litros. O aumento ocorreu no início do ano, por causa da adoção do estepe temporário.
Atualizada no dia 13/9, às 15h30