Visual parrudo e nomes sugestivos não lhes faltam. A mais nova versão do EcoSport ostenta na grade a palavra “Storm” – tempestade, em português. Da mesma forma, a edição especial Night Eagle (águia noturna) do Renegade tem visual soturno, como sugere o acabamento escurecido e sem cromados.
Pois a “águia noturna” enfrentou a tempestade. EcoSport Storm e Renegade Night Eagle são semelhantes no porte e no preço, mas bem diferentes no nível de equipamentos, capacidade off-road e desempenho. O Ford custa R$ 99.990, contra R$ 95.990 do Jeep.
Mas o EcoSport Storm tem alguns trunfos que justificam os R$ 4 mil adicionais, sendo que o principal deles é a tração 4×4, não oferecida no Renegade 1.8 flexível. Além disso, com pintura que não seja o vermelho e com sete air bags (únicos opcionais do Jeep), o Renegade salta para R$ 100.760. O EcoSport Storm não tem extras.
Com essas vantagens, o novato da Ford venceu tranquilamente o comparativo. Ele transfere até 50% da força da frente para a traseira, em caso de patinamento da dianteira. Mas tudo é feito automaticamente, sem botões de acionamento.
Na falta deles, o EcoSport ostenta outros botões, como o do teto solar e o da partida do motor (ambos de série), para citar dois outros itens inexistentes no Renegade Night Eagle.
Motor forte
Falando em motor, o Renegade tem um 1.8 flexível de até 139 cv e 19,3 mkgf, que tem de fazer muito esforço para dar conta dos 1.465 kg do carro. O motorista precisa pisar mais fundo no pedal do acelerador para compensar as respostas mais lentas. Conforme a marca, o Jeep acelera de 0 a 100 km/h em 11,1 segundos e alcança 182 km/h.
Se o Renegade é muito carro para pouco motor, com o EcoSport é o contrário: o Ford recebeu um 2.0 de injeção direta de até 176 cv e 22,5 mkgf, o mesmo do Focus. Isso garante respostas instantâneas. Embora pese praticamente o mesmo que o oponente (1.469 kg), consegue acelerar de 0 a 100 km/h em 10,7 segundos, de acordo com a marca. Os dois têm câmbio automático de seis marchas e permitem trocas no volante.
Além disso, EcoSport e Renegade trazem suspensão independente nas quatro rodas, mas a do Jeep é mais robusta e filtra um pouco melhor as imperfeições do solo.
Só o Renegade oferece discos de freio na traseira, e apenas ele vem com freio de estacionamento eletromecânico (o Ford tem alavanca).
Ambos têm bom acabamento e painel revestido de material macio, agradável ao toque. A tela multimídia é bem maior no EcoSport (8”, ante 5” do Renegade). Em compensação, o Jeep oferece ar-condicionado de duas zonas e sistema start-stop (desliga o motor em paradas de semáforo, por exemplo).
Grade é o cartão de visitas
A versão 4×4 do EcoSport pode ser identificada de duas formas: pelo discreto emblema “4WD” na traseira, ou pela chamativa grade com a inscrição “Storm”, inspirada na dianteira da picape F-150 Raptor, versão aventureira vendida nos EUA.
A Ford optou por desenhar uma frente que diferenciasse o EcoSport mais caro das demais versões, para garantir certa exclusividade a quem está pagando mais. A versão Storm tem preço R$ 3 mil superior ao da Titanium 2.0, de tração dianteira.
É bem provável que a versão 4×4 continue sendo rara de se ver. Desde a primeira geração do modelo, a Ford oferece opção de tração integral, mas as vendas nunca ultrapassaram os 5%.
A estratégia da Jeep é diferente. A empresa reservou a tração 4×4 apenas para o Renegade equipado com motor 2.0 Multijet turbodiesel. A lógica é que, como os modelos movidos a óleo combustível são os mais fortes, são portanto mais adequados ao uso fora de estrada. Este motor rende 170 cv de potência e 35,7 mkgf de torque. Ao contrário dos modelos equipados com motor 1.8 flexível, os Renegade a diesel têm fôlego de sobra.
Outra diferença em relação à Ford é que, no Renegade, a tração 4×4 (juntamente com o motor a diesel e o câmbio automático de nove marchas) está disponível desde a versão mais barata, no caso a Custom, a R$ 107.290.
Segundo a Jeep, os modelos a diesel representam 15% na gama do Renegade. O número, porém, já foi superior a 20% (o Compass atraiu parte da clientela)
Opinião: EcoSport e Renegade pecam pelo espaço
Desde a primeira geração do EcoSport, de 2003, o modelo da Ford já oferecia porta-malas reduzido, mas na época a falha foi amenizada porque não havia concorrência.
Quando o Renegade chegou, muito mais tarde (2015), o espaço para bagagens também estava entre seus pontos fracos, mas, como o Ford, o novo concorrente tinha suas compensações, sendo a principal delas o emblema Jeep na lataria e o visual robusto, de utilitário-esportivo “raiz”.
Cada um a seu tempo, foram sucesso arrebatador de público e crítica. Agora, no entanto, as coisas mudaram. O EcoSport renovado chegou no ano passado com nova mecânica e interior reformulado. Melhorou muito no que diz respeito a motores, câmbio e equipamentos, mas a Ford mexeu pouco no visual externo, e o público começou a perceber que tinha novidades no segmento.
Atualmente o trio oriental Honda HR-V, Nissan Kicks e Hyundai Creta está dominando as vendas. Só depois deles aparecem o Renegade e o EcoSport (todos nessa ordem). Uma das razões é que os dois perderam espaço (no mercado) exatamente por não oferecerem muito espaço (no porta-malas).