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Peugeot quer fugir do carro popular no Brasil
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Peugeot quer fugir do carro popular no Brasil

Francesa deixa de lado modelos de entrada para se reposicionar no País; leia entrevista exclusiva com diretores

15 de nov, 2014 · 12 minutos de leitura.

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 Peugeot quer fugir do carro popular no Brasil

A Peugeot busca uma nova imagem no Brasil. Se antes a marca do leão apoiava suas vendas nos modelos 206 e 207 – que já estavam defasados ante os produtos europeus, mas davam para o gasto num segmento em que preço é fundamental -, hoje a missão é cortejar e conquistar um consumidor mais exigente, com produtos alinhados à gama vendida no Primeiro Mundo.

Dentro dessa nova estratégia, a montadora desidratou o 207 no mercado brasileiro (os derivados sedã, perua e picape saíram de linha, e o hatch sobrevive em uma única versão) e passou a apostar todas as fichas no compacto premium 208 e no novo jipinho 2008. Sem ocupar o segmento de entrada com outros produtos, a francesa investe com convicção em uma gama mais enxuta e focada. É o que explicam o diretor geral da Peugeot no Brasil, Miguel Figari, e o presidente mundial da marca, Maxime Picat, em entrevista exclusiva ao Jornal do Carro.

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JORNAL DO CARRO – A Peugeot tem carros bonitos, bem equipados e com preço competitivo, mas amarga a décima segunda posição em vendas no Brasil, à frente apenas dos fabricantes chineses e das marcas premium. O que falta para a Peugeot vender mais?
Miguel Figari – Nossa marca está em transição de uma fase mais acessível – com a família 207, que competia por preço – para modelos de padrão mais elevado. Queremos conquistar clientes exigentes, que buscam tecnologia, equipamentos e qualidade, e nossa gama está mudando para seguir essa filosofia. Isso implica abrir mão de uma parte que vem a ser a maior fatia do mercado brasileiro. Aqui, 55% dos carros vendidos têm motor 1.0, e não temos essa opção de motor; 53% dos carros vendidos custam menos de R$ 40 mil, e hoje nossa marca parte de R$ 42 mil. Você faz uma renúncia e entra em outro segmento, para ganhar em rentabilidade.

JC – Com a morte do 207 Passion, a Peugeot ficou desfalcada de um sedã de entrada. Esperávamos que a Peugeot fosse lançar aqui o 301, que usa a mesma plataforma do 208 e poderia ser feito em Porto Real (RJ), mas isso não ocorreu. O 301 não seria um sucessor natural?
Maxime Picat – O 301 foi concebido para alguns mercados específicos, mas não para todos; na Europa Ocidental, por exemplo, ele não é vendido. E a estratégia de posicionamento que temos hoje para o Brasil não é compatível com um modelo como o 301. Optamos por oferecer aqui o 208, que está alinhado ao que temos de melhor na Europa.
MF – O 301 não tem todos os conteúdos que queremos oferecer ao cliente, como uma central multimídia com tela sensível ao toque, por exemplo. O mercado brasileiro tem evoluído muito, e só os segmentos com modelos mais equipados estão crescendo. É por isso que preferimos fabricar em Porto Real o 208 e não o 301. O 208 é mais coerente com a nossa estratégia.

JC – Nesse contexto de reposicionamento da marca, já que foi feita a opção pelo 208, há espaço para uma versão “depenada” do 208, para não deixar o segmento de entrada abandonado?
MF – Não. Temos que ser coerentes com o posicionamento que buscamos. Se isso significa abandonar alguns segmentos do mercado, vamos fazer isso e concentrar nossos esforços onde podemos ser mais competitivos.


JC – Nós flagramos uma unidade camuflada, em testes, do que parecia ser uma versão esportiva do 208. O 208 GT vem para o Brasil? Terá duas portas, como o francês, ou quatro, como o brasileiro gosta?
MF – (pausa) Para oferecer um modelo que rode com etanol, como exige o mercado brasileiro, é preciso um desenvolvimento especial. Ainda não terminamos esses estudos e não temos definição de quando lançaremos uma versão esportiva, seja GT ou GTi.

JC – O 208 foi lançado com uma caixa automática de quatro velocidades, que o colocou em desvantagem diante de outros compactos premium com transmissões mais modernas. É viável fazer um upgrade no 208 e dar a ele um câmbio melhor, de outros modelos da marca?
MF – É possível. Mas esse câmbio automático de quatro marchas responde pela maior parte das vendas do 208 hoje. Nosso cliente não é um jornalista apaixonado por automóveis, e sim alguém que usa o carro para trabalhar. Ele veio de modelos com câmbio manual, e o 208 atende totalmente às expectativas, com um consumo razoável. Podemos estudar uma evolução dessa caixa no futuro, mas agora o mercado não precisa dela. O 208 atual é bem aceito.


JC – Existe alguma possibilidade de trazerem o 308 GT de nova geração, como complemento da gama do 308 no Brasil, como uma opção de topo?
MP – É algo que a gente avalia, pois o novo 308 é um carro muito bom. Não seria uma substituição do 308 atual, e sim um complemento, para ampliar nossa gama de produtos. Estamos estudando isso.
MF – Nossa ideia é dar ao nosso cliente uma “linha Mercosul” competitiva, equipada, com bons conteúdos de tecnologia e segurança, e complementá-la com as novidades da Europa.

JC – O 408 e o 508 foram atualizados lá fora. Essas novidades chegam ao Brasil?
MP – A nova geração do 408 foi desenvolvida especificamente para o mercado chinês. O 508 faz parte de um segmento que no Brasil está em baixa, e preferimos não ter aqui uma linha tão grande. Por isso, ainda não decidimos atualizar o 508, embora exista essa possibilidade.

JC – O RCZ e o 308 CC continuam à venda na França, mas não receberam o novo visual do restante da família 308. A Peugeot perdeu o interesse neles?
MP – Esses modelos continuam na linha mundial da Peugeot, mas são parte de um segmento essencialmente europeu. O consumidor desses carros busca se diferenciar, e hoje quem deseja um carro diferenciado compra um utilitário esportivo. Por isso, esses modelos estão em baixa. Quando desenvolvemos o projeto do 208, até chegamos a desenhar a silhueta de um 208CC, mas preferimos dar andamento ao 2008, e foi a melhor coisa que fizemos. Já vendemos mais de 200 mil unidades do utilitário, e não teríamos passado de alguns poucos milhares com o conversível. É preciso reconhecer que o mercado está pendendo mais para o lado dos jipinhos.


JC – Mas então por que vender o 308 CC e o RCZ no Brasil, se são carros tão europeus?
MF – Não há volume, assim como em outros mercados não há, mas é uma questão de imagem. Eles respondem ao que um certo tipo de cliente espera da Peugeot.

JC – Falando sobre o 2008, o Salão de São Paulo exibiu a versão Hybrid Air do modelo. Quais serão as motorizações do 2008 no Brasil? A híbrida é uma possibilidade para o Brasil?
MP – Por enquanto, não decidimos ir adiante com a produção de série do Hybrid Air. Mas é uma tecnologia mundial, que amanhã podemos adaptar a qualquer mercado.
MF – O 2008 brasileiro será um produto muito competitivo, adequado ao mercado brasileiro. Não será exatamente o mesmo 2008 que se vende na Europa. O desenho e o conteúdo são os mesmos, mas a mecânica será adaptada para permitir o uso intenso nas estradas brasileiras. Estamos certos de que será um produto de sucesso dentro do segmento.


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Jornal do Carro
Oficina Mobilidade

Sistemas de assistência do carro podem apresentar falhas

Autodiagnóstico geralmente ajuda a solucionar um problema, mas condutor precisa estar atento

22 de abr, 2024 · 2 minutos de leitura.

Os veículos modernos mais caros estão repletos de facilidades para a vida do motorista e, dependendo do nível, podem até ser considerados semiautônomos. Câmeras, sensores, radares e softwares avançados permitem que eles executem uma série de funções sem a intervenção do condutor.

As tecnologias incluem controlador de velocidade que monitora o carro à frente e mantém a velocidade, assistente para deixar o veículo entre as faixas de rolagem, detectores de pontos cegos e até sistemas que estacionam o automóvel, calculando o tamanho da vaga e movimentando volante, freio e acelerador para uma baliza perfeita.

Tais sistemas são chamados de Adas, sigla em inglês de sistemas avançados de assistência ao motorista. São vários níveis de funcionamento presentes em boa parte dos veículos premium disponíveis no mercado. Esses recursos, no entanto, não estão livres de falhas e podem custar caro para o proprietário se o carro estiver fora da garantia.

“Os defeitos mais comuns dos sistemas de assistência ao motorista estão relacionados ao funcionamento dos sensores e às limitações do sistema ao interpretar o ambiente”, explica André Mendes, professor de Engenharia Mecânica da Fundação Educacional Inaciana (FEI). 

Recalibragem necessária

O professor explica que o motorista precisa manter sempre os sensores limpos e calibrados. “O software embarcado deve estar atualizado, e a manutenção mecânica e elétrica, ser realizada conforme recomendações do fabricante”, recomenda.

Alguns sistemas conseguem fazer um autodiagnóstico assim que o carro é ligado, ou seja, eventuais avarias são avisadas ao motorista por meio de mensagens no painel. As oficinas especializadas e as concessionárias também podem encontrar falhas ao escanear o veículo. Como esses sistemas são todos interligados, os defeitos serão informados pela central eletrônica.

A recalibragem é necessária sempre que houver a troca de um desses dispositivos, como sensores e radares. Vale também ficar atento ao uso de peças por razões estéticas, como a das rodas originais por outras de aro maior. É prudente levar o carro a uma oficina especializada para fazer a checagem.

Condução atenta

A forma de dirigir também pode piorar o funcionamento dos sensores, causando acidentes. É muito comum, por exemplo, o motorista ligar o piloto automático adaptativo e se distrair ao volante. Caso a frenagem automática não funcione por qualquer motivo, ele precisará agir rapidamente para evitar uma batida ou atropelamento.

Então, é fundamental usar o equipamento com responsabilidade, mantendo sempre os olhos na via, prestando atenção à ação dos outros motoristas. A maioria dos carros possui sensores no volante e desabilita o Adas se “perceber” que o condutor não está segurando a direção.

A desativação ocorre em quase todos os modelos se o assistente de faixa de rolagem precisar agir continuamente, sinal de que o motorista está distraído. Alguns carros, ao “perceber” a ausência do condutor, param no acostamento e acionam o sistema de emergência. “O usuário deve conhecer os limites do sistema e guiar o veículo de forma cautelosa, dentro desses limites”, diz Mendes.