O mercado brasileiro de zero-quilômetros tem, hoje, 970 modelos de automóveis e comerciais leves disponíveis para compra oferecidos por 42 diferentes marcas. Ainda assim, mesmo diante de tanta diversidade, boa parte das vendas está concentrada em três ou quatro montadoras e alguns veículos específicos.
Para se ter ideia, Fiat, Volkswagen e General Motors responderam por quase 53% das vendas internas de automóveis e comerciais leves no mês passado, de acordo com as planilhas da Fenabrave, que reúne as associações de concessionárias do País.
Mesmo dotados de bons atributos, modelos como o Nissan Versa, por exemplo (que chega renovado ao País nesta semana) e os asiáticos Kia Cerato e Hyundai New Azera, caem no ostracismo. Muitas vezes, isso acontece por questão de fidelidade à outras marcas. Nestes casos específicos, respectivamente, General Motors (Onix Plus) e Toyota (Corolla) figuram no topo da preferência.
Opinião do especialista em veículos
Embora ainda haja conservadorismo por parte da clientela brasileira, atualmente, há quem troque a fidelidade à determinadas marcas pela lucratividade e comodidade de pós-vendas. “O consumidor pesa (na hora da compra) custo-benefício, pós-vendas, garantia, suporte e bom valor de revenda”, afirma o consultor da ADK Automotive, Paulo Roberto Garbossa.
Para ele, a pandemia ajudou o consumidor a procurar entender mais sobre o desejado automóvel antes de decidir a compra. “Ele sabe o que tem garantia, o que não tem. Tem carro que desvaloriza mais de 25% só em cruzar a porta da revenda. E, isso, hoje, é um fato conhecido pelo consumidor”, pondera Garbossa.
Uma das dúvidas do comprador no momento de escolher o carro novo é a disponibilidade de peças de modelos importados. Por exemplo, sabendo que qualquer veículo está sujeito à quebras e colisões, o cliente sempre vai preferir as marcas tradicionais, que têm anos de atuação e, consequentemente, suporte de pós-vendas.
Talvez por isso, algumas marcas são tão esquecidas por aqui. Na Subaru, inclusive, mesmo a longa história nas pistas de rali mundo afora não são suficientes para convencer o consumidor. Afinal, o brasileiro não tem por hábito levar para a garagem de casa modelos pouco difundidos. “O mercado faz a cabeça do consumidor”, salienta o especialista. Basta, por exemplo, olhar a mesmice das cores de carros utilizadas por aqui.
Embora tenha desembarcado no Brasil sem o motor turbo oferecido na Europa, o Peugeot 208 (lançado no mês passado) é uma boa opção na categoria de hatches. Ainda assim, o consumidor prefere optar massivamente pelo Chevrolet Onix. Além de anos de tradição, a GM é uma marca consolidada no País há quase 100 anos. Tendo isso em vista, o brasileiro prefere não arriscar seu dinheiro em um modelo cuja montadora tem má fama desde a chegada ao País. “É esse tipo de situação que faz o consumidor ter medo de sair do óbvio”, completa Garbossa.
Reversão de valores
Tendo em vista que o que pesa, de fato, é passar segurança ao consumidor, a Caoa Chery deu uma tacada de mestre. Depois de comprada pelo mesmo grupo que controla as vendas de modelos importados da Hyundai no Brasil (Caoa), a chinesa já é a 11ª marca mais vendida no País. “Isso é mérito da confiança e do suporte da Caoa”, explica Garbossa.
Quebrando paradigmas, seus modelos também se tornaram objeto de desejo pelo design diferenciado e, principalmente, pela lista recheada de equipamentos. O Tiggo 8, por exemplo, teve sucesso tão grande de pedidos que a marca precisou aumentar sua produção. O Tiggo 5X é outro que vem caminhando a passos largos. É o 14º modelo mais vendido do segmento de SUVs no acumulado do ano, com 5.970 unidades até setembro.
Por outro lado, mesmo com boas opções de compra no portfólio (que, aliás, dividem componentes com a prima Hyundai) a também sul-coreana Kia não vende quase nada. No concorrido segmento de sedãs médios – em que o Corolla domina as vendas – a montadora conta com o Cerato, que não vendeu nem 700 unidades ao longo do ano. Isso porque o modelo tem promoção com bônus de entrada e taxa zero.
Para comparação, no mesmo período, o três-volumes da Toyota já encosta nas 27 mil unidades. O japonês tem 46% do segmento. Honda Civic e Chevrolet Cruze completam o pódio, com respectivamente, 22% e 13% da categoria. Ou seja, apenas três modelos representam mais de 80% das vendas de sedãs médios no Brasil. Em comum entre os três? A história de sucesso. Afinal, o segredo é mudar a cabeça do consumidor, pois só assim se conquista a confiança e, consequentemente, aumentam-se as vendas.
Confira (abaixo) a lista com dez boas opções de modelos que ficaram longe do topo do pódio de mais vendidos de setembro em suas categorias:
Nissan V-Drive – 556 unidades/mês
Renault Oroch – 535 unidades/mês
Peugeot 2008 – 523 unidades/mês
Peugeot 208 – 412 unidades/mês
Troller T4 – 198 unidades/mês
Kia Sportage – 149 unidades/mês
Caoa Chery Arrizo 5 – 109 unidades/mês
Mitsubishi ASX – 65 unidades/mês
Jaguar F-Type – 2 unidades/mês
Audi A4 Avant – 0 unidades/mês