CLEIDE SILVA
Pelo quinto ano seguido, os preços dos automóveis novos terão deflação. A queda média prevista é de 5,8%, quase o mesmo índice projetado para a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 5,5%. A trajetória declinante, contudo, deve ser interrompida no próximo ano.
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Com o fim do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a partir de 1.º de janeiro, e a pressão de custos, as montadoras voltarão a reajustar preços. Por outro lado, a grande concorrência estabelecida no País com a chegada de novas marcas deve impedir o repasse integral do IPCA. No máximo, os preços dos carros novos vão subir o equivalente à metade do índice inflacionário, previsto em 5,2%.
“O reajuste de 2013 não vai compensar a queda de preços observada neste ano”, prevê o economista da LCA Consultores, Fábio Romão. Pelos cálculos da consultoria, o repasse das montadoras deve ficar próximo a 2,1%. Neste ano, a deflação prevista de 5,8% é a maior já registrada para o item.
Nos últimos dez anos, apenas em 2004 os preços dos carros novos subiram mais do que a inflação. Desde 2008, a trajetória é negativa. No acumulado do período, a inflação subiu 76%, enquanto os preços dos carros novos tiveram alta de 3,8%.
Um modelo Chevrolet Celta 1.0 básico, que em janeiro de 2003 era vendido a R$ 16.360, custaria hoje R$ 28,8 mil se a inflação tivesse sido repassada integralmente ao preço. Desde então, o modelo da General Motors passou por mudanças no visual e tecnológicas, como o uso do motor flex, e hoje é vendido a R$ 24.468.
Outro exemplo é o do Volkswagen Gol G4, hoje vendido a R$ 24.291. A versão de 2003, de uma geração mais antiga (G3), custava R$ 18.475, valor que, corrigido pelo IPCA, estaria em R$ 32.516. Até a geração mais atual, a G5, que começa a chegar este mês às lojas na versão com duas portas e itens como desembaçador do vidro traseiro com temporizador custa menos – R$ 26.690.
Deflação. Se for considerado apenas o período de 2008 a 2012, enquanto a inflação vai bater nos 31,4% – levando-se em conta a projeção de 5,5% para este ano -, os preços dos carros cairão 14,7%.
O período contínuo de redução de preços coincide com a chegada de novas montadoras, como as chinesas Chery e JAC, que estão construindo fábricas, e a coreana Hyundai, que iniciou produção em Piracicaba (SP) em setembro. Também oito novas marcas de importados desembarcaram no País nesse período, a maioria chinesas.
Foi ainda nesse período que empresas já instaladas no País anunciaram planos de ampliação de parques fabris. A japonesa Toyota inaugurou nova fábrica em Sorocaba (SP) em agosto e a Fiat e a Nissan estão construindo filiais em Goiana (PE) e Resende (RJ). As vendas de carros novos saltaram de 2,82 milhões de unidades em 2008 para as cerca de 3,8 milhões previstas para este ano.
O fato de os preços ao consumidor não terem acompanhado a inflação não significa, porém, que as montadoras estão perdendo dinheiro. “O que ocorreu é que as empresas passaram a domar mais seus custos”, afirma o diretor do Centro de Estudos Automotivos (CEA), Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford do Brasil.
Segundo ele, nos últimos anos houve significativa melhora nos processos produtivos, o que ajudou a reduzir custos, ação também puxada pela concorrência mais acirrada.
“A chegada de um carro ao mercado, seja inédito ou reestilizado, sempre incorpora novos processos de montagem, com custos mais eficientes”, diz Mello. A meta das empresas, ressalta ele, “é sempre tornar o carro mais acessível”.
O não repasse integral da inflação também não significa que o carro brasileiro está barato. Comparado com outros países, os preços são bem mais altos para um mesmo modelo e alguns analistas apontam que as montadoras locais têm margem de lucro superior à de vários mercados, especialmente o de suas origens.
As empresas costumam justificar a diferença de preços pela elevada carga tributária que incide em toda a cadeia produtiva e o chamado custo Brasil.
“A matéria-prima, a energia elétrica, a logística e atualmente a mão de obra estão muitos caros no Brasil”, afirma o presidente da Citroën do Brasil, Francesco Abbruzzesi. Segundo ele, as fabricantes buscam uma contínua eficiência na produção para ter um nível de rentabilidade que justifique a manutenção das operações.