Após o lançamento com preços surpreendentes, é natural que o novo Citroën C3 comece a chamar a atenção dos consumidores brasileiros que buscam um carro de entrada. Esse segmento continua a concentrar volume de emplacamentos, por causa dos preços mais acessíveis. Pois o novo C3 se insere no coração dessa disputa, com tabela a partir de R$ 68.990. Ao mesmo tempo, ele assume um outro papel diferente do que tinha como produto.
Nesta geração, o C3 vem mais simples. É um Fiat Uno da Citroën. O desenho com traços de SUV inclusive lhe deixa alto e cúbico, como o velho popular da marca italiana – que saiu de linha em 2021. Como não tem mais Uno no mercado, a Stellantis trata de dar ao novo C3 a capacidade de assumir esse papel.
Para isso, instalou no hatch compacto o conjunto mecânico mais básico da Fiat. É o mesmo 1.0 Firefly de três cilindros e 6 válvulas disponível no Fiat Argo e no Peugeot 208, junto com o câmbio manual de cinco marchas. Ele rende 71 cv com gasolina e 75 cv com etanol. Os torques são de 10 mkgf e 10,7 mkgf, na mesma ordem.
Da mesma forma, apesar do preço já próximo dos R$ 100 mil, o novo C3 tem o motor 1.6 EC5 flex de quatro cilindros da PSA. São 113 cv e 120 cv de potência, o torque de 15,4 mkgf e de 15,7 mkgf com o etanol. Ele pode vir com câmbio manual e tem opção automática de seis marchas. Com isso, passa a ser um dos carros automáticos mais baratos do País.
Novo C3 é carro de entrada por dentro
Mas, independente do conjunto de motor e transmissão, o novo Citroën C3 é um carro moderno por fora e simples por dentro. Por exemplo, os materiais de acabamento são claramente mais modestos, com texturas ásperas. A bordo, notam-se simplicidades como janelas traseiras acionadas por manivelas nas versões de entrada. Ou botões de acionamento elétrico dos vidros traseiros entre os bancos, quando o item está presente.
Outro item ausente no C3 mais barato são os espelhos elétricos. O hatch traz aquelas hastes de ajuste manual. O forro das portas é bastante básico e um tanto estreito. O mesmo pode-se dizer dos comandos do ar-condicionado, bem simplórios, padrão “anos 2000”. Por fim, os bancos da cabine não impressionam e, na versão 1.0, têm os apoios de cabeça integrados.
O quadro de instrumentos é mais básico possível. Um pequeno visor monocromático mostra velocímetro digital, marcador do nível combustível, hodômetro, consumo médio e alguns outros dados. Mas não há conta-giros e o visual é realmente simplório.
Espaço interno é trunfo
Contudo, o novo Citroën C3 tem seus trunfos. O maior deles é o espaço interno da cabine e do porta-malas, um dos maiores, com 315 litros. No banco traseiro, há bom espaço vertical e de pernas para três adultos. Nas versões mais caras, tem duas entradas USB atrás, algo cada vez mais essencial.
Ou seja, nesse ponto, o novo C3 entrega mais que alguns rivais diretos, como HB20. São 2,54 metros de entre-eixos (1 cm maior), mas é muito mais alto que o Hyundai, com 1,60 metro contra 1,47 m do rival da marca sul-coreana. O Citroën também é 1 cm mais largo, com 1,73 metro. Some-se a isso a disposição e o desenho mais vertical, e o novo C3 chega como um dos maiores hatches da categoria.
Aposta na conectividade
Tão importante quando o espaço interno é a conectividade. Por isso, o hatch feito em Porto Real (RJ) traz a maior tela multimídia da categoria, com 10 polegadas. Ela é do tipo flutuante e fica em destaque no topo central do painel. Moderna e com processamento rápido, tem imagens de alta qualidade e já oferece espelhamento sem fio com celulares Android e Apple. Só deve outras modernidades, como o carregador de celular por indução (sem fio). Por ora, a nova multimídia dos modelos da PSA também não tem chip de internet.
Lista de conteúdos é boa, mas deve airbags
A lista de equipamentos, por sinal, é interessante, embora básica. O ponto fraco é a oferta de apenas dois airbags frontais, que são obrigatórios por lei. Em compensação, tem de série em todas as versões os controles eletrônicos de estabilidade e de tração, bem como o assistente de arranque em subidas. A versão de entrada também traz monitor de pressão dos pneus, além de direção elétrica, ar-condicionado, vidros dianteiros e travas elétricos, mas o protetor de cárter é opcional, assim como os airbumps, que são os borrachões que ficam na base das portas.
A multimídia aparece a partir da versão Live Pack, a segunda da lista, com preço de R$ 74.990. Porém, a principal aposta de vendas é a configuração Feel (R$ 78.990 com motor 1.0 flex). Esta terá o maior volume de produção e vem com itens legais, como vidros traseiros elétricos, alarme, duas entradas USB extras para o banco de trás, rodas de liga leve de 15 polegadas, moldura azul prateada no painel, chave com telecomando e as luzes diurnas de LEDs nos faróis. E há itens exclusivos das versões 1.6 flex, caso da câmera de ré e do volante com couro.
Ao volante
Por enquanto, testamos apenas a versão Feel Pack automática com motor 1.6 flex. Em movimento, o hatch tem ótima maciez e equilíbrio, auxiliado principalmente pela elevada altura de 180 mm em relação ao solo – é bem mais alto que HB20 e Chevrolet Onix, por exemplo. Os ângulos de entrada de 23º (frente) e 39º (traseira) também facilitam ao cruzar valetas e lombadas, ou mesmo ao encarar terra e asfalto castigado.
Em relação ao consumo, os números com motor 1.6 flex e câmbio automático são razoáveis. Bom mesmo, só com gasolina. As médias são de 10,3 km/l na cidade e de 12,4 km/l na estrada. Já com etanol, o rendimento cai para 10,4 km/l e 8,5 km/l, na mesma ordem. Ou seja, o novo C3 é econômico mesmo com motor 1.0 flex. Aí faz 12,9 km/l na cidade e 14,1 km/l na estrada, isso com gasolina. Com etanol no tanque, são 10 km/l e 9,3 km/l, respectivamente.
No desempenho, entrega boa força de aceleração, mas o isolamento acústico não é lá essas coisas e deixa o motor 1.6 invadir a cabine com tudo. Mas as respostas agradam e dão agilidade ao hatch da Citroën, que teve parte do seu desenvolvimento no Brasil. Ou seja, já nasce calibrado para as ruas daqui, o que certamente mais agradar a clientela. Resta saber se os antigos donos de C3 vão gostar dessa simplificação feita no compacto.