
A ideia do “carro popular” no Brasil não é nem um pouco nova. Ainda nos anos 1960 várias fabricantes “depenaram” alguns de seus modelos para enxugar os custos e conseguir vender um carro pelo menor preço possível. Um bom exemplo disso foi o Gordini Teimoso. Mas foi só em 1990 que uma resolução diminuiu em 50% o IPI cobrado para carros com motores de até 1,0 litro, criando a enxurrada dos primeiros 1.0.
A Fiat foi a pioneira e diminuiu o tamanho do já pequeno motor de 1.050 cm³ usado no Uno e criou o Mille, com 994,4 cm³ e singelos 48 cv que não conseguiam levar o hatch a mais de 135 km/h. A receita, no entanto, deu certo e o Mille “bombou” em vendas, tanto que em pouco tempo já representava 45% da produção da linha Uno.
As outras fabricantes, claro, não demoraram a reagir. A Volkswagen lançou o primeiro Gol 1000, com um 1.0 de 50 cv, o mesmo usado pela Ford no Escort Hobby. A Chevrolet ainda tentou uma fatia do mercado com o já envelhecido Chevette e sua versão Júnior de 1992. Este, também com 50 cv, parecia ter ainda menos força graças às maiores perdas mecânicas causadas pela tração traseira. Com isso ele mal passava dos 130 km/h.
No entanto, mesmo esses modelos de entrada ainda eram versões simplificadas (e um tanto pioradas) de carros já existentes no mercado desde anos antes dos incentivos aos populares. Mas o cenário começou a mudar já em 1994 com a chegada do Corsa ao País. O modelinho já foi desenvolvido para lidar com um motor 1.0 e dava um banho de modernidade na concorrência de então.
Desde então, muita coisa evoluiu, inclusive o conceito de carro popular, já que mesmo os automóveis mais baratos à venda atualmente estão longe de serem exatamente acessíveis. As vantagens fiscais para carros com motor 1.0 diminuíram e a participação deles no mercado caiu junto. Apareceram mais opções com motores maiores, deixando os 1.0 restritos aos modelos de entrada.
O pioneiro Fiat Uno Mille resistiu até 2013, quando teve a produção encerrada por não se encaixar nas novas regras de segurança que exigiram airbags frontais e freios ABS para todos os modelos produzidos no País a partir de janeiro de 2014. A “botinha ortopédica” até poderia receber os equipamentos, mas a Fiat preferiu aposentar o modelo e investir no Palio Fire como seu modelo de entrada, hoje vendido por R$ 27.340.
Recentemente, a Volkswagen começou a fazer no Brasil o Up!, seu, até certo ponto, revolucionário carrinho de entrada. Ligeiramente modificado para o mercado brasileiro, onde ganhou mais porta-malas, o Up! evoca a simplicidade e engenhosidade aplicadas em um modelo de início de gama. Mas, com preços partindo dos R$ 30.350 para o carro de duas portas, básico, sem itens como ar-condicionado ou vidros elétricos, também está longe de ser exatamente popular por aqui.
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Fiat Uno Mille foi o primeiro a chegar, em 1990. Motor 1.0 era derivado do utilizado pela marca no 147.
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Primeiro VW Gol 1000 veio apenas em 1993, com mesmo motor 1.0 de 50 cv usado pela Ford no Escort Hobby.
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Chevette Junior foi aposta da Chevrolet enquanto Corsa não era lançado no País.
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A Ford colocou um pequeno motor 1.0 no médio Escort para tentar abocanhar parte do segmento.
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Chevrolet Corsa chegou em 1994 com várias inovações entre os populares.
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A Ford só reagiu em 1995, quando trouxe ao Brasil, importado, o Fiesta. Tímido nas vendas, só ganharia expressão na geração seguinte, produzida no Brasil.
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O Fiat Palio foi lançado em 1996 com a missão de substituir o já cansado Uno. No entanto, acabou sendo incorporado à gama, também com versões 1.0.
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O Ford Ka chegou ao País em 1997 com visual controverso e muita personalidade.
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Segunda geração do Gol chegou em 1996 com várias mudanças e versões bem simples.