Tião Oliveira
Ao ser abordada por dois homens armados em frente de sua casa, na grande São Paulo, na quarta-feira passada, uma advogada, que pediu para não ser identificada, ligou a sirene do carro e começou a gritar pelo alto-falante que estava sendo assaltada. O veículo, um sedã Sonata blindado, foi alvejado por 19 tiros de pistola .40 à queima-roupa. Em seguida, os bandidos fugiram sem levar nada.
“Nenhuma bala atravessou a carroceria ou os vidros”, diz Rafael Barbero, sócio da Avallon Blindagens, onde o Hyundai foi blindado. “Ela teve sorte, mas se a blindagem não fosse 3A, o caso certamente teria um final trágico”, afirma ele, sobre o nível de proteção do carro.
Barbero se refere ao tipo de blindagem mais comum no Brasil. A 3A é capaz de suportar até disparos de pistolas Magnum .44, o mais potente armamento de mão no País.
De acordo com o executivo, o Hyundai da advogada recebeu o que ele chama de blindagem premium. Nesse tipo de produto, o aço balístico deu lugar a aramida, polímero (material ultrarresistente composto por macromoléculas) bem mais leve que o metal. “Os vidros são da AGP e, embora sejam mais finos que os convencionais (têm 17 mm), oferecem o mesmo nível de proteção.”
O objetivo é reduzir o peso do carro blindado. Isso se traduz em menor consumo de combustível e, consequentemente, em queda dos níveis de emissões de poluentes. Outra vantagem das blindagens leves é que não há desgaste prematuro de componentes da suspensão, freios e pneus, entre outros.
De acordo com o presidente da Câmara de Blindadores da Associação Brasileira de Blindagen (Abrablin), Fábio Rovedo de Mello, a adoção do nível 3A é inspirado no modelo norte-americano. “Esse padrão tem a ver com variáveis como peso da blindagem versus proteção efetiva, conhecimento do tipo de armamento usado nas ruas e, evidentemente, custo”, diz.
Mello lembra que há outros tipos de blindagem disponíveis no mercado. A DuPont, por exemplo, vende o Armura, sistema que utiliza peças feitas de kevlar. Com menos de 100 quilos, essa blindagem é nível 1, ou seja, pode suportar até disparos de armas de calibre 38.
Há, também, a nível 2. “Como o custo é próximo ao da 3A e a proteção é em menor, ela não é vantajosa” diz Barbero.
A mais alta para uso civil é a 3. “Ter um veículo com esse tipo de blindagem depende de autorização da Diretoria Federal de Produtos Controlados (ligada ao Exército). É preciso justificar porquê você precisa de um carro assim”, afirma Mello.
A desvantagem dessa blindagem é o peso. “Pode ser entre três e quatro vezes maior que o da nível 3A”, explica o especialista. “Só os vidros, que têm entre 39 e 43 mm de espessura, pesam cerca de 200 quilos, o dobro de um blindado convencional, cujas janelas têm entre 19 e 21 milímetros.”
De acordo com ele, essa proteção só é viável para modelos grandes, como picapes de cabine dupla e utilitários-esportivos. “A embaixada de um país estrangeiro aqui em São Paulo usa um (Chevrolet) Suburban com esse tipo de blindagem.”
Custo. A diferenças no nível de proteção está diretamente ligado ao preço do produto. Na Avallon, a blindagem premium parte de cerca de R$ 52 mil, dependendo do modelo do carro.
No caso do DuPont Armura, são cerca de R$ 20 mil para um Chevrolet Agile, por exemplo. “Uma blindagem nível 3 custa em torno de quatro vezes mais que uma 3A para o mesmo carro” afirma Mello. “Quando se trata da segurança da família, dos filhos, não conheço ninguém que esteja preocupado com preços”, afirma Barbero.