Certa vez, há cerca de quatro anos, o vendedor de automóveis Michel Santos intermediou a venda de um Golf zero-quilômetro para um amigo. “No dia seguinte, ele me chamou para ver o carro. Quando cheguei, vi sinais de que ele tinha sido batido”, relembra. Santos foi investigar o caso e descobriu que o Golf havia caído da cegonha. “Havia marcas de retoque até na coluna. Reclamei com a concessionária, e chegamos a um acordo. Devolvi o Golf, que era modelo 2010/2011, e paguei a diferença por um 2011/2011.”
Em tese, carros novos devem ser vendidos intactos, mas basta conversar com comerciantes para descobrir que nem sempre isso acontece. As colisões (pequenas ou não) são frequentes durante o transporte entre a fábrica e a concessionária. Podem ocorrer em manobras para o caminhão de transporte, ou mesmo no pátio das lojas. De acordo com Michel Santos, “três em cada dez” carros zero-quilômetro escondem algum conserto, que nunca é revelado ao comprador. “Quando a gente vai comprar um carro novo, normalmente ‘abaixa a guarda’, achando que nada pode ter acontecido a eles, mas os problemas são corriqueiros”, garante.
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A maioria dos lojistas concorda que esse tipo de ocorrência é comum, embora, a proporção de avarias esteja em “um para cada dez carros”. Um comerciante que preferiu não se identificar conta que, quando trabalhava em concessionária, o funcionário do setor de lavagem bateu um carro, às vésperas da entrega. O carro foi pintado e entregue, como se nada tivesse acontecido.
Um gerente de concessionária Volkswagen que também pede o anonimato diz que “coisas leves”, que não afetem a pintura e que possam ser resolvidas com a intervenção de um “martelinho de ouro”, ele até aceita. Caso contrário, recusa o veículo: “Se tiver de mexer na pintura, eu recuso, porque não posso assumir um problema que não é meu”.
Para evitar esse tipo de dor de cabeça, o gerente afirma que só recebe automóveis durante o dia, para poder fazer a conferência e ter certeza da integridade dos veículos. De acordo com o advogado Dori Boucault, especializado em Direito do Consumidor e do Fornecedor, o comprador que constatar alguma avaria em um automóvel zero-quilômetro tem direito a pedir abatimento: “O correto é que haja transparência e que a loja informe o comprador. Se ninguém conta, é um agravante”, diz. “Afinal, a pessoa tem o direito de decidir se quer ou não o veículo naquele estado.” Em caso de omissão do fato, o comprador pode requerer compensação, porque no momento da revenda o carro pode sofrer depreciação.
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O interessado em comprar um carro zero-quilômetro não está dispensado de fazer um exame minucioso na lataria, antes de fechar negócio.
A seguir, algumas dicas:
– Peça ao vendedor para ver o carro pessoalmente, se possível em um local claro.
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– Desconfie de vestígios de tinta em borrachas nas portas e vidros, por exemplo.
– Guarnições e peças plásticas pretas com respingos de tinta podem denunciar alguma intervenção feita na concessionária.
– Veja se a tonalidade da pintura está uniforme, e se não há manchas.
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– Abra o capô e verifique os parafusos que prendem a dianteira e os para-lamas. Eles não devem ter sinais de chave. Caso contrário, é um indicativo de que foram ‘violados’.
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