A Land Rover quebrou paradigmas ao lançar o Range Rover Velar e trazer o forte apelo visual do Evoque ao segmento de utilitários médios. Neste comparativo, a versão de topo do inglês, HSE R-Dynamic V6, a R$ 445.900, desafia o veterano Porsche Macan GTS, a R$ 458 mil, e o também recém-lançado SQ5. Embora o Audi tenha tabela a partir de R$ 397.990, seu preço vai a R$ 411.990 com a inclusão do sistema de câmeras ao redor do carro e monitor de ponto cego, o único opcional do carro no País, a R$ 12 mil.
Assim como o Velar, Macan e SQ5 têm motor 3.0 V6 a gasolina sobrealimentado e tração 4×4. Além do interior e do porta-malas maiores, o Range Rover é mais confortável e, por isso, venceu o comparativo. O V6 do Velar é o mais potente trio. Tem 380 cv, ante os 360 cv do Porsche e os 354 cv do Audi.
O Velar inova em conectividade. Traz duas telas que permitem ajustar vários de seus sistemas eletrônicos. A do alto do painel pode mostrar dados do navegador GPS, enquanto a inferior regula o ar-condicionado, por exemplo.
Segundo colocado, o SQ5 é importado do México. Seu principal destaque é o sistema de condução semiautônoma, que atua em conjunto com o controle de cruzeiro adaptativo. O dispositivo é capaz não apenas de regular a velocidade automaticamente, de acordo com o tráfego à frente, como também esterçar o volante e manter o SQ5 no rumo desejado pelo motorista.
O terceiro lugar do Porsche se deu basicamente pela ausência de alguns equipamentos de segurança, como controle de cruzeiro adaptativo, frenagem automática de emergência e monitor de ponto cego.
Em comum com os rivais, o alemão traz apenas monitoramento de permanência em faixa de rolamento. Ou seja: está muito aquém do pacote de equipamentos de Audi e Land Rover, a despeito da tabela mais salgada.
A favor do Macan está o desempenho mais instigante. Embora não seja o mais potente, seu V6 tem o maior torque e o acerto do Porsche é voltado ao desempenho, como a sigla GTS evidencia. Além disso, os materiais nobres no acabamento, como Alcantara e metal, agradam.
Macan GTS é o mais veloz e o mais esportivo
O ponto forte do Macan é a esportividade. Embora não tenha o motor mais potente, é o Porsche que coloca o maior sorriso no rosto do motorista. O 3.0 pode acelerar o Porsche de 0 a 100 km/h em 5,2 segundos, o menor tempo entre os participantes do comparativo, e o levar a 256 km/h.
Velar e SQ5 têm velocidade limitada a 250 km/h e são só alguns décimos de segundo mais lentos que o rival. Mas é ao volante que o Porsche revela suas maiores virtudes. A suspensão é firme e a direção tem respostas muito diretas. Isso faz do Macan o mais ágil na hora de mudar de faixa ou em uma sequência de curvas fechadas.
O melhor é que isso vem embalado pelo ronco grave do motor quando o motorista pisa fundo no acelerador. O som rouco deixa claro que o V6 biturbo está sempre pronto a agir, mesmo no modo normal de condução.
Além da falta de alguns itens, que evidencia se tratar de um projeto mais antigo, o Macan perde para os concorrentes no quesito espaço interno.
SQ5 é um SUV discreto e muito eficiente
Se Macan e Velar atraem olhares por onde passam, o SQ5 vai no sentido contrário e tem a discrição como uma das maiores virtudes. Até mesmo o timbre do V6 turbo é sutil – é difícil saber que se trata de um Q5 “diferente”.
Mesmo com “apenas” 354 cv, o Audi acelera de 0 a 100 km/h em 5,4 segundos. Graças ao suave câmbio automático de oito marchas, o mexicano ganha velocidade sem drama e com menos emoção que os rivais.
O SQ5 vai bem em qualquer situação. Embora esteja longe de ser um carro sem graça, o Audi acaba ofuscado pela opulência do Macan e, principalmente, pelo visual do Velar.
Apesar de usar a mesma base do Macan, o Audi é mais espaçoso que o Porsche (as duas marcas são do Grupo VW). Também é refinado e suave ao volante. Além disso, seu V6 é para lá de econômico. Não foi difícil ver a marca de 8 km/l no computador de bordo em uso urbano.
Velar tem amplo espaço e visual arrebatador
Não há como passar despercebido a bordo do Velar. Seja pelas linhas imponentes, pela sofisticação que inspira ou pelo ronco agudo quando seu V6 é provocado, o Range Rover faz torcer pescoços por onde passa.
Isso se confirma desde a hora de entrar no carro. As maçanetas, que ficam embutidas nas portas, saltam às mãos quando as travas são desbloqueadas.
O interior mantém o ar de modernidade. Há telas sensíveis ao toque que facilitam a interação. Botões giratórios comandam o ar-condicionado e podem ser configurados para passar a acionar o sistema Terrain Response ou o aquecimento dos bancos, por exemplo.
Em movimento, o desempenho é muito bom. Em curvas, o Velar só não é tão afiado quanto o Macan, por causa da suspensão mais macia.
Seu V6 tem funcionamento suave e o torque total surge a partir das 3.500 rpm, bem acima da faixa de rotação do início da entrega de força dos motores dos rivais – menos de 2 mil rpm.
Isso significa que, para ter o mesmo nível de resposta, o motorista precisa explorar mais o câmbio, o que não chega a ser um problema. Isso porque a caixa automática de oito marchas é muito eficiente e trabalha de forma quase imperceptível. Apesar de ser maior que os rivais, o Velar é o mais leve do trio.
Com 2,87 metros de entre-eixos, é também o que melhor acomoda os ocupantes. Quem vai atrás pode reclinar o encosto do banco (o ajuste é elétricos). Se tiver mais de 1,80 m, contudo, a viagem poderá não ser tão confortável.
OPINIÃO: Utilitários e a aura de liberdade
Os puristas que me perdoem, mas utilitários-esportivos são carros legais, sim. A versatilidade oferecida por esses modelos é sedutora. Também é a ideia de que a bordo de um desses carros não é preciso se preocupar tanto com buracos, valetas ou alagamentos em dias de chuva forte.
Melhor ainda quando esse conjunto vem embalado em um pacote luxuoso e traz motor potente, como o oferecido pelos carros deste comparativo. Todos têm porte imponente e presença notável mas o Porsche foi o que mais me surpreendeu. Ele é o que tem o perfil mais esportivo dos três, mas ainda assim mantém as qualidades de utilitário-esportivo.
Pode não ter (ao menos aqui no Brasil) a parafernália eletrônica mandatória nos dias de hoje, mas é extremamente competente no que se propõe. É fácil se imaginar ao volante do Macan em meio a uma estrada poeirenta em algum rincão do País ou atravessando a porteira de uma fazenda.
SQ5 e Velar também passam essa impressão, mas no caso deles isso tende a ser algo esperado. O Velar é uma proposta excelente, maior e mais potente que o Evoque. Além disso, emula em um segmento menor a aura de sofisticação que só o Vogue conseguia entregar. O Range Rover é tão bom que quase me fez esquecer do ronco do Macan quando acelera forte.