Redescobrindo o Brasil: estrada de Fortaleza a Natal esconde perigos e tesouros

Rodovias BR-116 e BR-304 ligam capitais do Ceará e Rio Grande do Norte com asfalto bom, mas via de mão simples torna viagem perigosa

Por 25 de nov, 2016 · 9m de leitura.
Passeio de buggy pelas dunas de Natal

Depois de dois dias em Fortaleza, primeira parada da expedição Redescobrindo o Brasil, chegou a hora de seguir adiante. O segundo destino é Natal, no Rio Grande do Norte, distante 520 quilômetros de Fortaleza. O caminho surpreende pelo relativo bom estado do asfalto, mas pede muito cuidado e paciência para vencer a longa distância.

A saída de Fortaleza se dá pela BR-116, duplicada e com muitos postos de combustível e restaurantes na beira. Ainda assim, as margens são maltratadas, com mato alto e acostamento estreito. O número de radares de velocidade máxima é grande e todo cuidado é pouco para não ser multado. Em alguns trechos, a velocidade permitida é de 60 km/h.


Como há muitos postos, é possível escolher onde abastecer, ainda que os preços sejam mais altos do que em Fortaleza. A gasolina custa cerca de R$ 3,70 o litro na capital, e nas margens da rodovia chega a custar R$ 3,95. O etanol segue a mesma cartilha e custa ao redor dos R$ 3, indo a R$ 3,20 fora de Fortaleza.

A sinalização vertical é boa, com placas indicando cidades próximas, velocidade máxima, lombadas e curvas. A horizontal, no entanto, poderia ser mais bem cuidada. Há apenas a divisão das faixas e olhos de gato em alguns trechos, sem redutores de velocidade ou faixas reflexivas nas laterais, que tornariam mais seguras as viagens noturnas.

A partir de Jandaia, cerca de 60 quilômetros já fora de Fortaleza, a BR-116 perde a segunda faixa e vira pista simples, o que pede atenção redobrada. É grande o número de caminhões e, mesmo com vários pontos de ultrapassagem, o movimento intenso impede manobras em vários trechos. Ao menos, o relevo é praticamente todo plano e os veículos mais pesados conseguem manter velocidades nem tão baixas e também facilita as ultrapassagens quando possíveis.


O caminho para Natal pede a mudança da BR-116 para a BR-304, cujo entroncamento é na localidade chamada Boqueirão do Cesário, 120 quilômetros após a saída da capital cearense. A 304 tem condições parecidas, com asfalto de boa qualidade, com poucas irregularidades.

Poucos quilômetros após a troca de rodovia, começam a surgir placas indicando a proximidade com o famoso balneário de Canoa Quebrada, que fica bem próximo à estrada. O desvio é pequeno e bastante válido, já que a praia é belíssima e com muitos restaurantes à beira mar, onde é possível comer frutos do mar de todo tipo. Os preços são mais altos do que em Fortaleza, com pratos que servem duas pessoas custando cerca de R$ 90.

A viagem pela BR-304 é tranquila, apesar de ter muitos motoristas impacientes, que forçam ultrapassagens perigosas e seguem em alta velocidade. Até Mossoró, já no Rio Grande do Norte, ainda há opções de postos de combustível e lugares para comer nas margens da estrada.


A partir daí, a rodovia tem menos movimento e atravessa longos trechos de mata, com poucos pontos de parada. Vale a pena planejar bem os abastecimentos, pois roda-se quase 1h sem nada na beira da pista. Dependendo do horário, algumas paradas estão, inclusive, fechadas.

Chama muita atenção também a quantidade de oratórios montados ao lado das pistas. Geralmente indicativos de acidentes com mortes no local, eles são um registro e um alerta que a BR-304, embora sem problemas no trajeto da reportagem, também tem um lado feroz e muito perigoso.

No entanto, foi em Angicos, 180 quilômetros antes de Natal, que uma das maiores surpresas da viagem ocorreu. O que seria uma breve parada para esticar as pernas e comer algo rápido se transformou numa experiência única.


Em uma simples casa de tapiocas situada num dos poucos postos de combustível no trecho, fomos recebidos de forma muito calorosa pela família que mantém o lugar. “Dona” Franciedna nos colocou num canto tido como “reservado” pelos donos da tapiocaria. Logo, histórias e causos surgem à mesa, de viagens a São Paulo e a vida na pequena Angicos.

Somos observados atentamente por todos no lugar, curiosos com a expedição e com nossa parada ali. Depois de alguma conversa e deliciosas tapiocas (grandes, saborosas e com preços entre R$ 3 e R$ 10), seguimos rumo a Natal, ainda a cerca de duas horas de viagem adiante.

O trecho seguinte tem mais curvas, e a noite não permite ver mais do que o alcance dos faróis. Mesmo com tráfego intenso, o restante da viagem ocorre sem sustos. O caminho tem poucos radares de velocidade, apenas em alguns trechos que cortam povoados na margem da estrada, sempre bem sinalizados e com velocidades baixas, entre 40 km/h e 60 km/h.


A chegada a Natal também é fácil, apesar das obras na principal via de acesso para quem vem do interior do estado. A decoração natalina já domina a visão, com uma grande árvore de natal bem à vista de quem entra na cidade.

Podendo ser cumprido em cerca de sete horas, o trajeto entre Fortaleza e Natal reserva surpresas que uma viagem expressa não mostraria, e guarda ainda o encanto de atravessar o interior de dois estados de natureza tão rica quanto hostil, que registra como prova leitos de rios secos, vegetação à míngua e gado magro nas bordas da estrada pelo caminho.