A recente atualização efetuada no Ford Focus deu competitividade extra ao hatch argentino. O líder do segmento ganhou equipamentos e ficou com uma gama mais bem distribuída. Agora, ele chama para a briga o segundo colocado no ranking de vendas da categoria, Volkswagen Golf, que, em agosto do ano passado, foi eleito pelo Jornal Carro o melhor veículo à venda no País.
Mas… não foi desta vez. Mesmo com as melhorias, o Focus sofreu derrota para o Golf neste comparativo. O VW, com motor 1.4 turbo de 140 cv, tem conjunto mais bem acertado e é melhor em desempenho, além de oferecer mais requinte a bordo. O Ford, porém, chegou perto, principalmente por causa de seu motor 2.0 de até 178 cv, que tem tecnologia flexível – o do rival é só a gasolina.
As versões comparadas são as de topo, Highline, do Golf, e Titanium Plus, do Focus. O Ford é mais caro, a R$ 95.900, ante os R$ 90.770 do VW. Ele justifica este preço extra na ótima lista de equipamentos de série, que inclui faróis de xenônio, sistema multimídia com tela de 8” e até um novo recurso de frenagem automática para a cidade, capaz de evitar uma colisão a até 20 km/h. Outra tecnologia de destaque é a assistência ao estacionamento para balizas e vagas a 90 graus.
No Volks, o recurso, que é opcional, só faz baliza. Aliás, muitas das tecnologias disponíveis no Focus são extras no Golf, a exemplo do teto solar e de um sistema multimídia mais sofisticado que aquele que traz de série. Completo, o Golf chega a elevados R$ 138.322.
Esse valor inclui o controlador de velocidade adaptativo, único recurso tecnológico não oferecido no rival. Assim, embora o mexicano dê ao consumidor a vantagem de escolher pelos equipamentos, o Focus é bem interessante para quem quer um pacote de itens mais completo.
De série, ambos têm ar-condicionado automático de duas zonas, rodas de 17”, trio elétrico, sensores de estacionamento (a câmera de ré só é de fábrica no Focus) e bancos de couro.
Porém, é ao volante que o Volkswagen traz os principais argumentos para vencer esta briga. Ele é muito mais rápido que o concorrente argentino, mesmo tendo 38 cv a menos. A desvantagem em potência é compensada pelo torque de 25,5 mkgf, disponível a 1.500 rpm, e pelo ótimo câmbio.
Golf anda mais; Focus é muito bom de curva
Logo na primeira acelerada, o 1.4 turbo mostra muita força extra em rotações bem baixas. O câmbio automatizado de sete marchas tem relações curtas, que ajudam o Golf a “deslanchar” com muito mais desenvoltura que o Focus. O Ford não é fraco, mas sua força máxima aparece a 4.500 rotações. Por isso, o propulsor demora a entregar todo o potencial.
Além disso, o Focus é prejudicado por um câmbio com trocas lentas, principalmente se comparadas às quase instantâneas da caixa do Golf. A diferença é tanta que a caixa do Ford nem parece ser de dupla embreagem, como a do VW. Há opção de trocas manuais no volante em ambos – o recurso é novidade no argentino.
Esses fatores deixam o Golf mais ágil na cidade, com reações rápidas e muita desenvoltura na hora de mudar de faixa em um trânsito intenso.Os dois são confortáveis para viagens mais longas; o Focus é ligeiramente mais silencioso na estrada. O argentino também apresenta mais eficiência em trechos sinuosos, pois sua suspensão é mais firme e transmite melhor as condições do asfalto ao motorista. O Golf jamais perde a compostura, mas assume uma postura mais conservadora, deixando a diversão um pouco de lado.
As posições de dirigir são corretas, com amplos ajustes nos bancos, mas o Focus merecia um volante menor para mais agilidade em manobras rápidas, ainda que a peça grande ajude a manter estabilidade em velocidades mais elevadas.
O acabamento interno do VW tem peças mais bem montadas e materiais superiores.
Opinião: Ponto de vistas bem diferentes
Na teoria, Golf e Focus são carros muito parecidos. São dois hatches médios de dimensões semelhantes e recheados de tecnologia. O VW é o baluarte da engenharia alemã no Brasil, e deixa isso claro. É direto, sem “firulas”, eficiente e passa a impressão de que vai funcionar como um relógio por anos a fio. Mas é nas entrelinhas que as diferenças aparecem.
O Focus transpira mais emoção, mesmo que seja uma irritação, quando o câmbio Powershift não reduz uma marcha logo que é comandado. A suspensão “copia” mais o solo e o Ford parece sempre pronto para atacar uma sequência de curvas. Porém, o azar do argentino é a onda de força do 1.4 turbo do Golf, que parece ter bem mais que 140 cv, ser tão marcante, assim como o comportamento quase elétrico da agulha do conta-giros a cada troca de marcha. O “problema” do Focus é que o rival se comporta como um carro superior.