Eles são feitos por marcas “irmãs”, mas têm pouco em comum. Entre as semelhanças, está o câmbio automático CVT, que o Captur passa a oferecer em conjunto com o motor 1.6. O Kicks, que acaba de ser nacionalizado, traz a mesma caixa, mas com pequenas diferenças no ajuste. No duelo entre a versão Intense do Renault (de topo com motor 1.6) e a SV (intermediária) do Nissan, o Kicks venceu com ampla vantagem.
Tabelado a R$ 85.600, o Nissan supera em quase tudo o Captur Intense, a R$ 88.400. O Kicks é mais bem acabado, confortável e moderno. Além disso, é mais ágil e tem melhor estabilidade. A vitória só não foi ainda mais folgada (veja notas no quadro abaixo) porque as cotações de seguro do Nissan são de assustar. Uma seguradora pede quase R$ 8,5 mil pela cobertura do utilitário, ante a média de R$ 2,7 mil do Renault.
Nenhum dos dois tem desempenho exemplar, principalmente porque a caixa CVT é ruim. Quando o motorista precisa ganhar velocidade rapidamente e pisa fundo no acelerador, a transmissão continuamente variável demora a responder e eleva demais a rotação do motor, aumentando o nível de ruído. Isso é mais acentuado no Captur, cujo 1.6 gera 120 cv apenas com etanol no tanque.
No Kicks, a vida do motorista é mais fácil principalmente em acelerações graduais, feitas a partir de rotações médias. Nesse caso, o conjunto, que traz um 1.6 de 114 cv, tem funcionamento mais eficiente que o observado no Renault, deixando o Nissan mais esperto. Para isso, contribui o fato de o Kicks ser 154 kg mais leve que o Captur.
O Nissan, feito em Resende (RJ), se sai melhor no quesito estabilidade por ter suspensão mais bem acertada que a do Renault – cuja linha de produção está instalada em São José dos Pinhais (PR). O Kicks também tem respostas de direção mais precisas, que auxiliam em curva e também em mudanças bruscas de trajetória.
Apesar de ser mais gostoso de dirigir, no Nissan é mais difícil encontrar a melhor posição de guiar. O motorista perde muito tempo tentando encontrar a combinação ideal entre altura do banco e ajustes longitudinais e do encosto. Muitas vezes, já em movimento, percebe que ainda não está confortável.
Além disso, o apoio para cabeça, sobre o banco, é muito pronunciado para a frente, o que gera incômodo. Ao menos o volante tem ajuste longitudinal, enquanto o do Renault traz apenas regulagem de altura. No mais, a ergonomia do Kicks é bem superior à do Captur. Tudo na cabine do Nissan fica mais à mão que na do rival. Sua central multimídia, aliás, é bem mais fácil de usar.
Aliás, há um abismo entre a qualidade do acabamento dessa dupla. O do Captur é apenas mediano, com muito plástico duro e materiais que remetem à qualidade inferior. O do Kicks é bonito e bem feito. No espaço para os passageiros de trás, os dois vão bem, mas o Renault é mais amplo. No caso do porta-malas, os dois se equivalem.
Equipamentos. Esses utilitários vêm bem equipados de série. Em ambos há central multimídia com navegador GPS, câmera atrás e partida por botão, entre outros itens. Só o Nissan traz ar-condicionado digital (automático no Renault) e auxílio para partida em rampa.
Em compensação, o Captur tem controle de tração, enquanto o Kicks traz apenas o de estabilidade. O paranaense também vem de fábrica com quatro air bags, sendo dois laterais – o fluminense traz apenas os obrigatórios frontais. Os faróis de LEDs são de série no Renault. No Kicks, estão em pacote de R$ 3 mil, vendidos com bancos de couro – que custam R$ 1,5 mil no Captur.
OPINIÃO: Kicks e a arte de revolucionar um carro de entrada. Captur e Kicks são derivados de modelos de entrada de suas respectivas fabricantes. No caso do Renault, a base é a mesma de Logan e Sandero e faz dele uma espécie de Duster com traje mais bonito.
O Nissan, por sua vez, utiliza a base de March e Versa. Na prática, ao volante do Captur, quem conhece bem seus “irmãos” mais pobres não terá nenhuma dúvida em relação ao parentesco com o Sandero.
Esse DNA está na dirigibilidade (não muito boa) e em alguns aspectos da cabine, inclusive o acabamento. Já quem dirige o Kicks é incapaz de associá-lo ao simplório March. A sensação é de estar em um carro completamente diferente do hatch. A dirigibilidade é muito superior, assim como o conforto ao rodar.
Não há nada na cabine do Nissan que remeta aos interiores de seus “irmãos” mais pobres. Com o Kicks, a Nissan mostrou que sabe transformar um carro de entrada em um sofisticado. Nenhum outro utilitário compacto derivado de veículo de entrada se distancia tanto de seus pares menos badalados. Nem mesmo o HR-V, cuja plataforma é a do Fit. Da dupla March/Versa, o Kicks só tem uma coisa, que é um de seus pontos fracos: a mecânica.