Desde que foram lançados, há cerca de um ano, Jeep Renegade e Honda HR-V estão “sacudindo” o mercado nacional. Desde então, o segmento dos utilitários não parou de crescer. Nesta edição, apresentamos um raio X com os modelos mais vendidos de cada categoria. Além disso, percorremos 731 km de estradas a bordo de dois Renegade.
A dupla que você na foto acima é igual na cor e versão de acabamento (Sport). Mas há uma diferença fundamental: um tem motor 1.8 flexível e o outro traz o 2.0 turbodiesel.Ao longo de dois dias, passamos por praticamente todas as cidades do litoral de São Paulo, de Ubatuba a Peruíbe, além de circuitos serranos e trechos de planalto. O objetivo foi aferir o custo por quilômetro rodado com os três combustíveis (etanol, gasolina e diesel), além de fazer uma radiografia completa desses carros, incluindo quanto custa comprar, quais são os gastos com seguro e manutenção preventiva e como é dirigir cada um deles.
O Renegade Sport 1.8 flexível, como o avaliado, tem tabela de R$ 81.990. Já a do 2.0 a diesel parte de R$ 105.990 – os dois têm câmbio automático.Os R$ 24 mil de diferença incluem, além do motor, tração 4×4 e três marchas (na versão 1.8 o câmbio tem seis).
E não foi preciso entrar na lama para que o Jeep a diesel revelasse sua superioridade. Ao longo de todo o trajeto, ele obteve médias de consumo entre 14,1 e 18,4 km/l. Já na opção flexível os números variaram de 8,2 km/l a 10,4 km/l com etanol e entre 9,4 km/l e 12,6 km/l com gasolina (veja no mapa a média de consumo em cada um dos seis trechos da viagem). Mas, se economiza na hora de abastecer, o modelo a diesel gera mais custo no seguro e na manutenção.
Saímos de São Paulo com os tanques cheios – o do Renegade flexível estava com etanol. De cara surgiram as primeiras diferenças: nos aclives, foi preciso pisar mais no acelerador do Jeep bicombustível que no a diesel, porque o 1.8 perde força com muita facilidade. Por isso, o consumo aumenta. Esse sintoma ficou evidente em trechos sinuosos, quando era preciso aliviar o pé nas curvas e só depois voltar a acelerar.
No fim do primeiro dia, após rodar 415 quilômetros, o marcador do tanque do Renegade 1.8 chegou à reserva. Mas o carro rodou mais 136 quilômetros antes de receber gasolina, em um posto do litoral sul do Estado. Enquanto isso, o modelo a diesel terminou o roteiro sem precisar reabastecer.
Confira os prós e contras antes de escolher o seu carro.
Motor a diesel é robusto
Versões modernas devem utilizar apenas combustível S-10, com menor teor de enxofrecom motor 2.0 a diesel empolga bem mais que o mesmo carro com o 1.8 flexível. Afinal, o MultiJet tem 170 cv de potência e 35,7 mkgf de torque, ante 132 cv e 19,1 mkgf do 1.8 EtorQ, respectivamente. Por causa dessa superioridade, a participação de vendas do modelo a diesel, que na época do lançamento, há um ano, era projetada em 22% do total, foi superada. Mesmo sendo bem mais caras que as bicombustíveis, as versões a óleo representam 25% dos Renegade emplacados no País.
A diferença entre essas configurações é ainda mais evidente porque o 1.8 EtorQ está longe de ser moderno (tem bloco de ferro e comando de válvulas simples). Na nova picape Fiat Toro, o mesmo propulsor recebeu melhorias, como coletor de admissão e da bomba de óleo variáveis.
Prós e contras.O lado negativo dos veículos a diesel é o custo da manutenção, pois as peças são mais caras (veja quadro na página 13). Além disso, os propulsores atuais, como o que está no modelo da Jeep, devem ser abastecidos com diesel S-10 (de baixo teor de enxofre). Caso contrário, há risco de pane, principalmente nos bicos injetores. “Em grandes cidades, é fácil encontrar o S-10, mas no interior do País e em estradas nem sempre esse produto está disponível”, alerta o engenheiro mecânico e dono da oficina Motor Max Rubens Venosa.
Ele afirma que, em contrapartida, como os motores a diesel trabalham em rotação mais baixa que a dos de ciclo Otto, seu nível de desgaste é menor. Além disso, há menos peças (esse tipo de propulsor não tem velas de ignição, por exemplo), e normalmente elas são mais robustas.
De acordo com Venosa, se o motorista fizer as revisões regularmente, um motor a diesel pode rodar mais de 500 mil km. Já os de ciclo Otto dificilmente alcançam essa marca sem passar por algum tipo de retífica.
Viagem econômica.A Jeep recomenda duas opções de calibragem de pneus: normal, de 32 libras, e “econômica”, com 38 libras. O Renegade 1.8 fez o primeiro dia da viagem com o nível mais baixo e a segunda etapa com os pneus mais cheios. Na teoria, o carro ficaria mais “duro”, mas a suspensão está tão bem ajustada que compensa os pneus mais firmes. Na prática, quase não se percebe o aumento de pressão.
Diesel para passeio?No dia 2 de março, ocorreu, em Brasília, a última audiência pública sobre a possível liberação do uso de motores a diesel em veículos de passeio no Brasil. A proposta, que virou projeto de lei (1013/2011), foi amplamente debatida por uma comissão da Câmara dos Deputados: “Foi o maior passo dado até agora (rumo à liberação)”, diz o engenheiro Luso Ventura, da SAE Brasil.Agora, falta definir o relator.
Tanque não acaba.Uma das principais virtudes dos veículos a diesel é a ampla autonomia. O Renegade tem tanque de 60 litros, independentemente do tipo de combustível utilizado. Como na versão diesel, dependendo do tipo de percurso e da maneira de guiar do motorista, o Jeep pode ter consumo médio superior a 18 km/l, ou seja: pode rodar mais de mil quilômetros sem a necessidade de reabastecimento.
Fim da reserva.No primeiro dia de viagem, após o Jeep 1.8 flexível (abastecido com etanol) rodar 415 quilômetros, de São Paulo e Bertioga, o marcador do nível de combustível chegou à reserva. Depois, quando o computador de bordo identificou que o etanol restante seria insuficiente para percorrer mais de 50 quilômetros, deixou de mostrar a autonomia. Mas o jipe só recebeu gasolina após 130 km, na cidade de Peruíbe.