Picapes do porte de Chevrolet S10 e Toyota Hilux normalmente são associadas à vida no campo. Na publicidade, quase sempre estão atravessando lamaçais para chegar a algum lugar remoto. Mas há compradores que vivem na cidade, não precisam de motor a diesel, mas apreciam a robustez desse tipo de veículo. De olho nesse público urbano, a Chevrolet acaba de lançar (com atraso) a opção automática da S10 2.5 flexível. Ela vem para enfrentar a Hilux 2.7 bicombustível, que nem é vendida com transmissão manual.
Neste comparativo, as duas comparecem nas versões de topo e com cabine dupla: a S10 2.5 LTZ 4×4 custa R$ 129.990, enquanto a Hilux 2.7 SRV 4×4 sai por R$ 133.740 (o modelo fotografado é a SRV 4×2).
No geral, a S10 vence o confronto com boa vantagem, e ainda tem seguro mais barato.
Começando pelo câmbio, há empate no número de marchas (seis). Porém, embora as duas façam trocas suaves, na S10 elas são mais rápidas. Seu motor também é bem melhor. Ambos têm quatro cilindros, 16 válvulas e comando variável, mas só o da Chevrolet traz injeção direta de combustível. Mesmo sendo menor que o da Toyota (2.5, ante o 2.7 do da Hilux), é mais potente (206 cv, contra 163 cv) e tem mais torque (27,3 mkgf, ante 25 mkgf).
Isso resulta em acelerações mais vigorosas na S10, que ainda por cima é bem mais econômica: com etanol, faz média de 5,3 km/l na cidade e 6,4 km/l na estrada. As marcas da Hilux são respectivamente 4,8 e 5,6 km/l, também com combustível renovável (números do Inmetro).
Tecnologia. Em termos de equipamentos, a S10 volta a ter vantagem. Nas versões de topo as duas oferecem ajustes elétricos no banco do motorista. Na Chevrolet, porém, pode-se ligar o motor a distância.
Trata-se de um recurso que já era oferecido nas versões mais caras da picape a diesel, e permite o acionamento da climatização (aquecimento ou resfriamento) um pouco antes de entrar no carro. Além disso, ela oferece sistema de alerta de desvio de faixa e de colisão (avisa se o carro sair da faixa sem dar sinal e se estiver se aproximando muito do veículo da frente).
Outros itens exclusivos da S10 são sensor de chuva, frenagem automática em declives e sistema multimídia com espelhamento de smartphones (Android Auto e Apple CarPlay). A tela central tem 8”, uma polegada a mais que a da Hilux.
As duas picapes trazem câmera de ré, mas a da Chevrolet acrescenta gráficos que auxiliam as manobras, e sensor de obstáculos na dianteira. São recursos especialmente úteis para veículos tão grandes (a Hilux tem 5,33 metros; a S10, 5,36 m).
A Chevrolet leva vantagem também por ter direção elétrica, mais eficiente que a hidráulica da Hilux. A picape da Toyota, no entanto, tem um air bag a mais que os dois obrigatórios (para os joelhos do motorista), além de coluna de direção ajustável em altura e profundidade (só altura na S10). Traz também DVD e TV. De qualquer forma, por questão de legislação, ela só funciona com o veículo parado e freio de mão acionado.
Na capacidade de carga, elas se equivalem (830 kg na Hilux e 816 kg na S10).
Câmbio automático vem para substituir transmissão manual
A chegada da transmissão automática à S10 2.5 bicombustível praticamente anula a oferta do câmbio manual. De acordo com o diretor de marketing da Chevrolet, Hermann Mahnke, as pesquisas da empresa revelam que 87% dos interessados em uma picape média optam pela transmissão automática.
A explicação é simples: quem dispõe de mais de R$ 100 mil para comprar um veículo (como os clientes dessas picapes médias) quer conforto, e não pretende trocar marchas manualmente.
As pesquisas da montadora demonstram que quem opta pela picape com motor flexível mora na cidade, e utiliza o veículo em caminhos ruins apenas eventualmente: “Ele não é um ‘heavy user’ (referindo-se ao dono de picape a diesel, que a utiliza o modelo para o trabalho), e deseja status”, diz Mahnke.
Com a nova opção de câmbio à S10 flexível, a briga entre ela e a Hilux pela liderança do segmento promete ficar mais intensa nos próximos meses. O modelo da Toyota estava sozinho nesse segmento, o que agora muda.
Atualmente, a Hilux é líder entre as picapes médias (9.921 unidades vendidas de janeiro a abril). No mesmo período, a S10 soma 8.066 unidades, mas, como não oferecia câmbio automático na versão flexível, o time estava desfalcado.
A empresa prevê aumento de vendas do modelo bicombustível. A participação dessa versão no total de vendas da picape, que era de 30%, deverá subir para 40% com a nova transmissão, informa a empresa.
OPINIÃO: De veículo de trabalho a sonho de consumo urbano
Picapes nasceram para o trabalho, mas os modelos com motor flexível e câmbio automático têm outra finalidade: em muitos casos, elas se tornaram sonho de consumo do habitante da cidade. Entre as razões, elas passam sensação de robustez e impõem respeito no trânsito urbano, normalmente agressivo nos grandes centros (como São Paulo). Mas há diversas desvantagens, que devem ser levadas em conta. Uma é estacionar: as picapes chamadas “médias” têm mais de cinco metros, e encontrar lugar para elas não é fácil, seja nas ruas, seja nas vagas de prédios residenciais. Além disso, alguns estacionamentos costumam cobrar mais de modelos grandes. A dirigibilidade, embora tenha melhorado muito nos últimos anos, ainda não é comparável à de automóveis convencionais. Como suas suspensões são preparadas para suportar peso, quando rodam vazias elas têm menos estabilidade. Outra peculiaridade é que as manobras são mais demoradas, porque o ângulo de esterçamento é maior. Por serem altas, exigem mais esforço dos ocupantes para se chegar à cabine. Com tudo isso, elas tendem a ser cansativas no dia a dia.