Quando se fala em excelência em engenharia automotiva, muitos pensam imediatamente na Alemanha, com sua mecânica de precisão irretocável, ou na Itália, lar dos superesportivos mais fantásticos do planeta. Mas poucos se lembram de uma pérola da engenharia inglesa. Estamos falando da McLaren, é claro.
Nem vou me alongar muito falando sobre o histórico exemplar da marca nas competições, a parceria de sucesso com o saudoso Ayrton Senna – que inspirou até um de seus modelos -, ou da linha impressionante de supercarros que têm permissão para rodar na rua. Porque o assunto do dia é o irresistível 750S: nada mais, nada menos que o mais potente e mais leve McLaren de produção em série.
Em 20 anos no setor automotivo, eu sequer tinha chegado perto de um carro da marca. Já dirigi outros esportivos de peso em circuitos ao redor do mundo, mas nunca um com tamanha aptidão para as pistas. Dessa forma, estrear com a evolução do consagrado 720S (são 30 cv a mais, 30 kg a menos) deu um friozinho na barriga, daqueles que surpreendem quem faz isso há tanto tempo e já se acostumou com modelos de altíssima performance, potências absurdas e cifras polpudas.
Mecânica McLaren que impressiona
Mas deixando as emoções de lado por um momento, vamos aos dados técnicos. O 750S é equipado com um motorzão V8 4.0 biturbo central traseiro de, como entrega o nome, 750 cv e 81,6 mkgf de torque. O câmbio de dupla embreagem tem sete marchas e a tração é traseira.
Com esse conjunto “humilde”, o esportivo chega aos 100 km/h em impressionantes 2,8 segundos e atinge uma velocidade máxima de 332 km/h. Spoiler: eu achei que estava arrasando ao bater 270 km/h no velocímetro (lembrando que estávamos em pista fechada, crianças!), até lembrar que ele ainda tinha fôlego pra ir mais de 60 km/h além. Quer mais? Que tal chegar até os 200 km/h? Claro, em 7,2 segundos. E a 300 km/h? Sem problemas, leva 19,8 segundos.
Emoções à flor da pele
Agora voltando à parte emocional. Olhando aquela supermáquina na cor laranja-impossível-não-notar, com um brilho quase carnavalesco sob o sol de rachar na pista de testes da Pirelli em Elias Fausto, no interior de São Paulo, não tinha como não abrir um sorriso genuíno de orelha a orelha. Um design que impressiona, com linhas fluidas, ondas que sobem e descem, rodas forjadas de 10 raios com 19″ na dianteira, 20″ na traseira e um desenho que lembra ganchos, uma caída de teto sinuosa, um aerofólio invocado e a enorme saída de escape bem no meio da traseira. A ansiedade tomando conta enquanto esperava minha vez de levar a bichana para o circuito.
Na minha vez de domar a fera, vários questionamentos passaram pela minha cabeça. Tenho que ser cuidadosa, porque qualquer deslize significa que terei de vender meu apartamento para pagar os danos. Entro no carro, a posição de dirigir se encaixa como uma luva após os ajustes no banco e no volante, que se move junto com o painel de instrumentos na minha direção. Saímos, o piloto Vitor Baptista ao meu lado (com quem já havia dividido um teste em pista em outra ocasião) dando todas as dicas: “coloca no modo track o câmbio e a suspensão”, “fique atenta aos cones do traçado” e “bora acelerar”. Afinal, eu só tinha 20 minutos para três voltas e um controle de largada.
Experiência na pista
A primeira volta, fase de reconhecimento, ainda bastante cuidadosa. O Vitor sempre me incentivando. “Cuidado com a curva, agora vai, mete o pé”! E no fundo eu só escutava: “tá com medinho?”. Resolvi entrar na vibe e me jogar. Na reta, o ponteiro do velocímetro subindo, subindo, subindo até atingir 270 km/h no fim da reta. Será que vai frear? Santa inocência… é óbvio que sim, afinal os discos de cerâmica de carbono com pinças de alumínio jamais iam me deixar na mão. Chegava a hora do controle de largada.
Pé direito no acelerador até o assoalho, pé esquerdo no freio, aciona o botão. Solta o freio. O 750S dispara no que parece ser a velocidade de luz, as costas grudam no encosto do banco e num piscar de olhos já passamos de 100 km/h. Claro que o tempo foi restrito e eu não tenho a expertise para levar um carro dessa categoria ao limite que ele pode chegar, mas desenhar as curvas do circuito com uma precisão assustadora e sentir um pouquinho desse desempenho absurdo foi algo inesquecível. Saio do carro ao voltar para os boxes com as pernas bambas, mas com a certeza de que foram as três melhores voltas da minha vida. Ou seja, isso se chama felicidade.
Interessou? Prepare o bolso
O 750S está à venda no Brasil pela UK Motors (que representas as marcas McLaren e Aston Martin no País) desde o início deste ano sob encomenda. O preço? A partir de R$ 4 milhões na versão coupé e de R$ 4,2 milhões na conversível Spider. Entretanto, esse valor pode ser mais alto, de acordo com o nível de personalização que o comprador desejar. É um carro para pouquíssimos mortais? Certamente. Mas para os que podem… meus parabéns por levar para casa uma máquina que, pelos menos por três voltas, se mostrou absolutamente perfeita.
Em conclusão, estar ao volante de um McLaren 750S foi uma experiência para guardar no álbum de memórias como um dos momentos mais legais da minha carreira. Não foi o carro mais potente que eu dirigi, talvez o mais caro pelas cifras atuais e certamente o mais divertido. Uma verdadeira joia da coroa britânica que vale cada centavo.
Pontos positivos
Todos. O carro é simplesmente perfeito
Pontos negativos
Eu não tenho R$ 4 milhões na conta
Ficha técnica
McLaren 750S Coupé
- Preço: R$ 4 milhões
- Motor: 4.0 V8 biturbo
- Potência: 750 cv
- Torque: 81,6 mkgf
- Câmbio: Automático de dupla embreagem, 7 marchas; tração traseira
- Peso: 1.389 kg
- Comprimento: 4,57 m
- Altura: 1,20 m
- Largura: 1,93 m
- Entre-eixos: 2,67 m
- Capacidade de bagagem: 150 litros na dianteira e 210 litros na traseira
- Consumo combinado: 8,7 km/l (WLTP)
- Suspensão: Independente com amortecedores adaptativos
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