Com a abertura das importações no início dos anos 1990, muitas fabricantes viram no Brasil uma oportunidade de crescimento, mas nem todas conseguiram o sucesso almejado. Mesmo marcas bastante estabelecidas no universo automobilístico penaram no País e encerraram suas atividades por aqui. Nomes como Alfa Romeo, Mazda, Seat, Daewoo, Daihatsu, Lada e várias outras deixaram milhares de carros órfãos por aqui.
A principal preocupação é a manutenção correta desses veículos. Sem uma representação oficial, consertar defeitos que surjam ao longo do tempo pode ser um martírio, principalmente por praticamente todas não terem vendido muitos carros, o que significa que menos gente ainda sabe trabalhar corretamente com eles.
A boa notícia é que há uma infinidade de oficinas especializadas, muitas abertas por ex-funcionários das antigas concessionárias. Ao menos em centros urbanos maiores, como São Paulo e Rio de Janeiro, é possível encontrar profissionais que de fato conheçam esses modelos que vieram em baixo volume para o Brasil.
A mais estruturada é a rede da Mazda, cuja oficina paulistana All Motors, no bairro da Saúde, mantém contato com a matriz japonesa mesmo 15 anos após o encerramento das importações. As peças vêm principalmente dos Estados Unidos, mas se necessário, a Mazda japonesa envia e acompanha o processo. “Eu trabalhava no escritório da Mazda quando ela fechou e resolvi continuar cuidando dos clientes dela”, explica Fábio Augusto Silva, dono da All Motors.
A disponibilidade de peças e serviços, no entanto, varia de acordo com a complexidade e a idade do carro. Muitos modelos não venderam bem no Brasil, mas foram sucesso de público em mercados como Estados Unidos e Inglaterra, o que facilita na hora de conseguir aquele farol que quebrou numa manobra de estacionamento. O problema geralmente é a demora e o custo. Um carro caro, como um Alfa Romeo 166, terá a manutenção cara em qualquer canto do mundo.
Algumas marcas, como Daihatsu e Daewoo, são subsidiárias de grandes conglomerados, Toyota e General Motors respectivamente, e com isso têm a manutenção facilitada pelas peças intercambiáveis com outros modelos. Isso ajuda muito com componentes do motor e suspensão, que vinham de um mesmo fornecedor em especificações semelhantes. É o caso do Daewoo Espero, que compartilha muito com o conhecido Chevrolet Monza, e do Mazda 626, cujo câmbio automático é o mesmo do Ford Mondeo. Mas, mesmo nesses casos, partes da lataria e peças de acabamento interno são específicas e, em muitos casos, só trazendo de fora, ou buscando em ferros-velhos.
Já a Seat, até hoje subsidiária do grupo Volkswagen, trouxe para cá modelos como o Ibiza e o Córdoba entre 1995 e 2001. Ambos são bastante comuns na Europa e usam muitas peças iguais às de outros VW vendidos em larga escala por aqui. O Córdoba, por exemplo, é um Polo Classic com outros emblemas, e praticamente tudo pode ser aproveitado, assim como o Ibiza, a versão hatch do Polo da geração anterior, fabricado aqui a partir de 2002.