Para muitos proprietários de carros com mais de 30 anos de
fabricação, possuir a placa preta virou sonho de consumo. Ela dá ao veículo o
cobiçado selo de “coleção” e valoriza o
bem.
++ Siga o Jornal do Carro no Facebook
++ Kombi tem noite de homenagem no Anhembi
Mas entre o sonho e a realidade
há obstáculos nem sempre fáceis de superar. A Resolução 56 do Contran, que
criou a placa preta em maio de 1998, diz no inciso II do Artigo 1º que o
veículo deve “conservar suas características originais de
fabricação”, e o rigor na verificação desses itens varia de clube para
clube.
A reportagem do Jornal do
Carro acompanhou inspeções feitas pelo Fusca Clube do Brasil, fundado há 29
anos e um dos mais rigorosos do País na concessão da placa preta. Para se
habilitar à vistoria, o proprietário tem de se tornar sócio do clube (R$ 70,00
o trimestre), além de pagar taxa de R$
120,00 pelo serviço. A inspeção demora em média 40 minutos. Se aprovado, o
automóvel ganha na hora o selo. Pelo Correio, o proprietário recebe o Certificado
de Originalidade. Esse documento é entregue ao Detran, que providenciará a
alteração da categoria ao automóvel, de “passageiro” (PAS/Automóvel)
para “coleção” (COL/Automóvel). Uma nova placa, na cor preta, é
emitida.
A vistoria. Munido de um formulário, o vistoriador verifica
itens de “mecânica”, “parte elétrica”, “parte externa
do veículo” e “interior do veículo”, todos com diversos
subitens. A cada um desses subitens são atribuídos pontos, de zero a cinco. Para ser aprovado, o carro tem
de somar no mínimo 80 pontos, em 100 possíveis. “O ideal é que o carro
esteja o mais próximo possível da originalidade”, afirma o perito Dilson
Porta, do Fusca Clube do Brasil. “Por
isso a gente acaba fazendo o advogado do diabo: só falamos o que está errado no
carro, mesmo ele estando aparentemente bonito.”
E, por originalidade, entenda-se peças originais, e não
apenas no padrão original. O arquiteto Érico Pereira de Lima levou para a
vistoria seu bem cuidado Fusca 1963 azul
Real, com motor 1.200, sistema elétrico de 6 volts, recém-reformado e com
impecável interior branco. Para o observador leigo, um carro perfeito. Mas o
“advogado do diabo” encontrou diversos itens fora do padrão.
A lista é extensa: tampa de motor não original, galões e
borrachas do estribo de cores diferentes do ano de fabricação do veículo,
estofamento, laterais e revestimento de teto fora do padrão, pintura de rodas e
dos suportes dos para-choques na tonalidade errada, lentes de lanterna de marca
não reconhecida, frisos e adornos externos amassados, pomo da alavanca de
câmbio e tapetes de outros modelos… Até a falta de um par de rebites na
moldura do vidro basculante traseiro esquerdo foi notada.
Todas as “irregularidades” são relacionadas pelo
vistoriador, fotografadas e comunicadas oficialmente ao proprietário que, se
não desistir da empreitada, tem 90 dias para corrigir os itens e voltar para
uma segunda vistoria, sem ter de pagar novamente a taxa. Lima anotou tudo o que
precisava mudar em seu Fusca mostrou-se disposto a voltar para nova tentativa.
Melhor sorte teve o lotérico Paulo César Licio. Impecável,
seu Fusca 1.300L 1977 bege Alabastro, com 62.119 km registrados no hodômetro,
foi aprovado com 93 pontos, um índice considerado excelente. Com interior
totalmente preservado, pintura original reluzente, cromados intactos e rodas com
data de fabricação gravada, ele só não atingiu a nota máxima porque as lentes
das lanternas não eram originais (apesar de estarem no padrão de fábrica) e a
manivela de vidro da porta do passageiro ter sido trocada. “É difícil ver
um carro em tão boas condições. Dou meus parabéns”, disse o vistoriador
Aluizio Lemos, um dos maiores conhecedores de Fuscas do País. “Vou
providenciar essas peças, quero chegar nos 100 pontos”, disse Licio, que comprou
o carro de um mecânico, por R$ 15 mil. “Tenho o carro há três meses, mas
para mim são 10 anos, porque esse foi o tempo que passei tentando convencer o
dono anterior a vendê-lo”, brincou.
ITENS VERIFICADOS NA VISTORIA DA PLACA PRETA
=======================================
Equipamentos obrigatórios: limpador de para-brisa, freio de
estacionamento, roda sobressalente, macaco e chave de roda, extintor de
incêndio, triângulo de segurança, funcionamento de luzes (faróis, faroletes de
ré, de placas, setas, quando pertinentes)
1) Mecânica (34 pontos)
Motor:
Bloco de motor/coletores ……………………….(0 ou
5)*
Latarias:
………………………………………………(5)
Carburador/filtro de ar……………………………(3)
Distribuidor/cabos de velas……………………..(0 ou
3)*
Transmissão:
Caixa de câmbio/diferencial…………………….(0 ou
2)*
Suspensão:
Amortecedores/elementos essenciais……..(0 ou 2) *
Rodas…………………………………………………(5)
Pneumáticos……………………………………….(4)
Freios…………………………………………………(5)
2) Parte elétrica (11
pontos)
Voltagem…………………………………………(0
ou 4)*
Instalação elétrica (correção e aspecto)…(0 ou 2)*
Dínamo/alternador……………………………(3)
Bobina/magneto………………………………(0 ou 2)
3) Parte externa do
veículo (33 pontos)
Carroceria………………………………………(5)
Pintura………………………………………….(8)
Cromados, frisos e adornos……………….(5)
Para-choques…………………………………(5)
Calotas………………………………………….(3)
Faróis e lanternas……………………………(0 ou 5)
Vidros…………………………………………..(0
ou 2)
4) Interior do veículo (22
pontos)
Painel…………………………………………..(6)
Estofamento…………………………………(4)
Laterais de porta/forração de chão……(3)
Forração de teto……………………………(2)
Volante……………………………………….(3)
Tapetes……………………………………….(0 ou
2)*
Maçanetas…………………………………..(0 ou 2)*
* Não há pontuação intermediária. Ou é nota máxima, ou zero.