Olavo Bilac foi um importante poeta e jornalista brasileiro – até aí, nenhuma novidade. O que pouca gente sabe é que, embora fosse exímio com a pena, não tinha a mesma habilidade ao volante. Tido como um dos mais importantes poetas parnasianos do País, Bilac foi, ao que tudo indica, o causador do primeiro acidente envolvendo automóvel no Brasil. O fato aconteceu em 1897, época em que automóvel era novidade não apenas por aqui, mas no mundo todo.
Pelo que consta, o carro que Bilac bateu pertencia ao também poeta e jornalista José do Patrocínio, que teria se oferecido para ensinar o amigo a guiar seu modelo francês movido a vapor chamado Serpollet. Segundo relatos, o veículo bateu em uma árvore em uma curva da Estrada da Tijuca, na capital do Rio de Janeiro.
Os congestionamentos também não demoraram a aparecer. De acordo com Carlos Castilho, professor e estudioso da história da mobilidade, na década de 20 já havia registros de trânsito complicado na região da Avenida Paulista, onde moravam os barões do café. O curioso é que, nessa época, carros puxados por animais disputavam espaço com veículos motorizados, de acordo com a revista “Boas Estradas”, de março de 1926 (confira no gráfico abaixo).
Se naquele tempo o carro era um luxo reservado aos mais abastados, a partir de 1910 o Ford T possibilitou que a classe média também tivesse acesso ao novo meio de transporte. Isso graças ao preço acessível comparado ao de modelos europeus, mais sofisticados. O Modelo T foi substituído pelo “A” nos anos 20. Depois vieram ícones como o Citroën Traction Avant (anos 30), e diversos carros americanos no pós-guerra. Na sequência, teve início a produção local.
Só havia um motorista no Brasil em 1925. No fim do Século 19, havia pouquíssimos automóveis no Brasil: dois em São Paulo (um dos quais trazido da França por Alberto Santos Dumont) e dois no Rio de Janeiro. O quinto veículo, um Clément-Panhard, chegou à Bahia em 1900, e continua em Salvador até hoje, em boas condições.
Uma das primeiras mulheres habilitadas de que se tem notícia no País foi a argentina Juana Elena Grieve Desaunay de Evans, que obteve a licença para guiar em 1925. Ela veio da Argentina com o marido, o inglês Edward Affleck Evans.
Segundo informa seu neto, Jeremy Semple, Edward era superintendente da filial argentina da Ford. Em 1919, ele foi incumbido de instalar a empresa no País e escolheu um galpão na Rua Florêncio de Abreu, no centro da capital paulista. Foi ali, com 12 funcionários, que a Ford inaugurou a montagem de veículos, com o Modelo T, além dos caminhões TT.
Mais tarde, Evans tornou-se concessionário da marca. E, durante a Revolução Paulista de 1924, chegou a esconder caixas de câmbio no forro do teto, para evitar que os veículos em exposição fossem confiscados pelos revoltosos.