O advogado Hercio Mendes coleciona carros antigos de diversas marcas. De acordo com ele, entre os que despertam mais surpresa por onde passam estão dois exemplares do cupê Volvo 444, um azul de 1950 e um bordô feito no ano seguinte. Afinal, é mais comum encontrar remanescentes dessa época de marcas como Chevrolet e Ford.
A relação de Mendes com o Volvo começou na juventude, quando ele conviveu com vários membros de uma escuderia, na região central da capital paulista. “O 444 tinha desempenho de carrão norte-americano. Apesar de ter motor menor, é bem mais leve. Não tirei mais o modelo da cabeça”, recorda.
Quando o advogado resolveu comprar seu primeiro antigo, há 18 anos, não teve dúvida: seria o cupê sueco. E foi em um anúncio publicado no Estadão que ele encontrou o exemplar de 1950, que pertencia a um colecionador que morava no bairro do Ipiranga. Bem conservado, o carro precisou apenas de reparos pontuais nos para-choques, cromados e suspensão, além de uma retífica no motor.
O 444 azul foi o único antigo de Mendes por cerca de cinco anos. Até que, em um evento no qual levou sua relíquia, ele recebeu uma dica: havia outro exemplar de seu modelo favorito agonizando em uma garagem em Cotia, na Grande São Paulo.
Foram necessários apenas 15 dias para que o perspicaz advogado apurasse a informação e localizasse o sedã. Não foi difícil convencer o proprietário a fazer negócio, e assim o cupê bordô de 1951 foi salvo do ostracismo.
“Ele estava tão feio que, quando eu o estacionei em frente à minha casa, meus filhos afixaram nele um cartaz com os dizeres ‘aceita-se sucata’”, ri o advogado, que passou um ano e meio reformando o carro – “com muito rigor”, faz questão de frisar.
Terminada a restauração, Mendes exibe a “prole” com orgulho típico de pai coruja. “Os Volvo são os meus meninos. São carros muito valentes. Eu os levo a eventos como os encontros em Águas de Lindoia, Santos e Araxá e eles chegam sempre rodando, nunca em caminhões plataforma”, diz o advogado, que põe os cupês em movimento pelo menos uma vez por semana.
Ele garante que os dois sexagenários não fazem feio diante dos “garotões” que dominam as estradas. “Dirijo de forma respeitosa, mas acelero sempre até o limite de velocidade permitido. Eles são ágeis e extremamente seguros. Só requerem uma distância de frenagem maior, por não terem dispositivos como freios com ABS.”
Na cidade, a dupla sueca é um verdadeiro ímã que atrai olhares e, principalmente, flashes. “O azul chama mais a atenção de mulheres e crianças, por ter um aspecto mais alegre que o bordô”, acredita Mendes. “Todo mundo buzina para ele, porque é mesmo muito simpático. Um rapaz quase caiu da moto tentando fotografá-lo.”
O advogado diz que a última coisa que passa por sua cabeça é vender alguma de suas preciosidades. “Um dia, fui abordado em Santos por um senhor a bordo de um Mercedes-Benz, que me fez uma oferta generosa. Recusei, ele dobrou o valor e depois aumentou de novo, mas não cedi. Ele ficou incrédulo!”, afirma.
O lado espinhoso da história é que manter um Volvo antigo no Brasil é uma tarefa desafiadora, diante da escassez de peças de reposição. “Ocasionalmente, dá para garimpar um dínamo ou um motor de arranque no Chile ou no Uruguai”, conta Mendes.
“Caso contrário, o jeito é fabricar réplicas dos componentes. É por isso que eu nunca jogo fora uma peça velha que substituo, já que ela pode vir a servir de molde. Ainda bem que o Volvo quebra muito pouco!”