As heroicas aparições de Chapolin vêm sendo raras: hoje, ocorrem somente a cada dois meses, e de preferência nas primeiras horas do dia – quando não há nem sinal de confusão nas ruas.
“Chapolin” é o apelido do Volkswagen Passat LS 1976 que o analista financeiro Willian Spera mantém com extremo zelo. O cupê sai da garagem, onde fica guardado sob duas capas, apenas em dias de eventos do Clube do Passat, do qual Spera é sócio. Ou para ir ao posto de gasolina, para reabastecer o tanque e calibrar os pneus.
“Até gosto de curti-lo em movimento, mas tenho medo de sair com ele e acontecer alguma coisa”, justifica o proprietário, que é fã de carteirinha da VW – já teve outro Passat, um Gol “quadrado” e quatro exemplares de Voyage, e hoje possui também um Fox (a versão do Voyage que foi exportada para os Estados Unidos) de 1991.
Continua depois do anúncioHoje com 32 anos, ele não era sequer nascido quando o Passat teve seu apogeu. Assim, a paixão pelo modelo não tem nenhum traço de saudosismo. “Quando comecei a pesquisar carros antigos, aos 16 anos, fiquei encantado com a frente de faróis redondos que o Passat teve em sua primeira fase, de 1974 a 1978”, explica o analista.
Antes de encontrar Chapolin, Spera avaliou pelo menos três dezenas de exemplares, muitos com a originalidade desvirtuada ou peças faltando. A busca terminou em 2008, graças a um anúncio na internet. “Eu e um amigo fomos até São Carlos, no interior paulista. Quando vi o carro, foi amor à primeira vista”, ele conta.
O analista pagou R$ 6 mil pelo VW. No caminho de volta para a capital, o amigo que o seguia em outro carro notou que o Passat estava vazando combustível. “O bocal do tanque havia se rompido e tive de vedar a peça com esparadrapo.”
Esse pequeno percalço não abalou o encanto de Spera por Chapolin, que nunca havia sido restaurado e precisou de poucas intervenções. A pintura em tom Vermelho Málaga e o revestimento de courvin do banco do motorista foram refeitos, assim como parte do assoalho.
“Graças a uma falha crônica dos Passat dessa época, a água da chuva entrava pelo quebra-vento e se infiltrava no piso do carro”, diz o dono, que gastou R$ 7 mil nessas melhorias.
Paixão. O investimento foi até pequeno perto da realização de Spera ao volante do carro que tanto quis. “Ele é ótimo de dirigir. O motor 1.5 de 65 cv é melhor que o de muito carro ‘mil’ por aí. E os bancos de mola são superconfortáveis”, elogia.
A nota destoante do Volkswagen fica para o câmbio de quatro velocidades, com um inconveniente já conhecido pelos fãs do Passat: nos primeiros anos de produção, os engates da ré e da primeira marcha eram muito próximos, o que às vezes levava o motorista a engrenar a marcha errada. “Mas já me acostumei”, garante o analista.
Spera e Chapolin formam uma dupla imbatível, que não tem a menor pretensão de se dissolver. “Já recebi propostas para vendê-lo, mas esse carro vai ficar comigo para o resto da vida. O Passat é uma paixão de todos. Quem não teve um exemplar na família?”, derrete-se.
“Com ele, já fui parado pela polícia rodoviária em um posto de pedágio. Mas foi porque gostaram do carro e queriam conhecer a história dele. E ainda me deram os parabéns por ele estar tão original.”
Pelo visto, a astúcia desse Chapolin também não conhece limites.