Quando o vendedor Uilian Luz circula com seu Chevette 1986, há um detalhe do carro que não passa despercebido e sempre causa estranheza. Trata-se do letreiro “automatic” na tampa traseira, que identifica o tipo de transmissão do Chevrolet.
Isso não é uma adaptação, como pensam alguns. Introduzida na gama do compacto a partir de 1986, a opção com câmbio automático vendeu pouco e hoje é uma das configurações mais difíceis de encontrar. O próprio Luz só soube da existência dela em 2014, quando um amigo veio lhe mostrar o sedã que havia acabado de comprar.
“Fiz uma pesquisa rápida na internet, descobri que aquele era um carro muito raro e na hora fiquei interessado em comprá-lo”, lembra o vendedor. “Fiz uma oferta e meu amigo concordou em vendê-lo.”
O Chevrolet estava mal conservado, com assoalho e porta-malas corroídos pela ferrugem. Peças como para-choques, lanternas e retrovisores externos eram da safra 1987, na qual o modelo recebeu uma reestilização. O engate da marcha à ré escapava com frequência.
O jeito foi desmontar o sedã e dar início a um lento processo de restauração. Luz substituiu o conjunto de câmbio e o revestimento dos bancos e saiu à caça dos componentes originais de 1986, numa busca que só terminou dois anos depois. “Deu muito trabalho. Assim que ele ficou pronto, recebeu placas pretas, realizando um sonho que eu tinha”, conta o dono.
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Intervenções no Chevette
Além da caixa automática de três velocidades, o Chevette tem dois itens em sua cabine que chamam a atenção dos iniciados. Um é o grande conta-giros que Luz instalou à esquerda do painel. O outro é o ar-condicionado, afixado abaixo do porta-luvas. “Um dos donos anteriores arrancou o aparelho original do carro, então tive de instalar um universal, do mercado paralelo. Mas ele funciona bem.”
Luz diz que também mexeu na carburação e no comando de válvulas do motor, para melhorar o desempenho. “Ele ficou mais esperto. Tive a chance de testá-lo e, de acordo com a medição do navegador GPS, ele chegou a 215 km/h. Mas normalmente dirijo bem devagar”, garante.
Se o Chevette sai pouco da garagem, quando aparece em eventos automotivos ele já chega “causando”. Isso porque o vendedor toma o cuidado de retirar a porção central do escapamento, para deixá-lo barulhento. “Só assim os outros reparam nele e notam que tem câmbio automático”, ele justifica.
O incomum sedã chama a atenção inclusive da polícia rodoviária: Luz já foi parado com ele duas vezes, em Aparecida (SP) e em Paraty (RJ). “Mas os guardas só queriam ver o carro mesmo, e os dois me deram parabéns. O de Paraty até fez uma proposta de compra”, gaba-se o proprietário.
Vender o Chevrolet está fora de cogitação, mas mesmo assim Luz apreciou o episódio. “Para mim, foi muito bacana. Quando as pessoas olham o carro e fazem um sinal de ‘joinha’, a gente fica todo feliz.”