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Lançamento do Kadett no País completa 30 anos
História

Lançamento do Kadett no País completa 30 anos

Chevrolet Kadett estreou no mercado brasileiro em abril de 1989, para ocupar lacuna entre o Chevette e o Monza

Thiago Lasco

26 de abr, 2019 · 13 minutos de leitura.

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Chevrolet Kadett
Chevrolet Kadett GS
Crédito:Chevrolet/Divulgação

Há exatos 30 anos, chegava às concessionárias o Chevrolet Kadett. Não é nenhum exagero dizer que foi o lançamento mais importante da indústria automotiva brasileira na segunda metade da década de 80. Em meio ao cenário de hiperinflação e recessão econômica que dominou o período, o Kadett foi o primeiro carro realmente inédito (ou seja, que não era derivado de outro modelo) em quase cinco anos. O lançamento anterior havia sido o Fiat Uno, em agosto de 1984.

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Esse cenário de mesmice se refletia na própria linha de produtos da Chevrolet. Com 7 anos de mercado (em que a maior mudança foi a incorporação do conta-giros ao painel, na metade de 1985), o Monza já não era nenhuma novidade. Os outros produtos da marca já podiam ser considerados veteranos. O compacto Chevette (nome brasileiro para o Kadett europeu da terceira geração, a série C) já estava na ativa havia 16 anos. E o lendário Opala já tinha completado 21 anos de idade.

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Decisão de vender o Kadett no Brasil foi tomada em 1985

O Kadett brasileiro é baseado na quinta geração (série E) do Opel Kadett, que foi vendida na Europa entre 1984 e 1991. Naquela região, o modelo chegou a ser o segundo mais vendido, atrás apenas do Volkswagen Golf. A ideia de trazê-lo para o Brasil foi tomada em 1985.

Naquele ano, a GM brasileira definiu que a novidade europeia viria para ocupar a lacuna entre Chevette e Monza. Em agosto de 1986, os primeiros exemplares do Opel desembarcaram no País, na surdina, para testes no Campo de Provas da Cruz Alta, em Indaiatuba (SP).

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A escolha do nome do modelo brasileiro não foi fácil. Foram consideradas 530 opções de nomes e a mais cotada até 1988 era Astra. Até que alguém lembrou que Astra era o nome comercial de um assento de vaso sanitário da época, e o nome foi imediatamente descartado. Prevaleceu Kadett mesmo.

Na Europa, o modelo tinha configurações hatch, sedã e perua, com duas e quatro portas. Para o mercado brasileiro, a GM optou pela carroceria hatch com duas portas. Com isso, ela preenchia o espaço de um hatch na gama, que estava vazio desde a aposentadoria do Chevette hatch e do esportivo Monza S/R.


Modelo “sofreu” para se adaptar às ruas brasileiras

A mecânica do Kadett brasileiro foi herdada do Monza já vendido no País. Isso facilitou as coisas, mas ainda havia muito trabalho pela frente. A tropicalização do modelo europeu consumiu três longos anos. Foram 1,3 milhões de quilômetros rodados em testes, especialmente para adaptação às condições de piso brasileiras.

O modelo recebeu reforços na carroceria e protetor de cárter, além de para-choques mais protuberantes. Isso porque o desenho das peças do modelo europeu pareceram pouco robustos aos consumidores que a GM ouviu em clínicas de opinião.

Durante a adaptação do modelo, cada exemplar rodava entre 40 mil e 80 mil km. Era uma vida de castigos severos. Para verificar a resistência dos freios, eles desciam a serra para Caraguatatuba a 30 km/h com os freios constantemente aplicados, sem refrigeração. O teste de corrosão era ainda pior. Após levar um banho de salmoura, cada carro passava oito horas parado, oito horas rodando na pista e oito horas em uma estufa com vapor.


Modelo trouxe o que havia de mais moderno

A aerodinâmica era um destaque do modelo, com linhas em forma de gota. A combinação de frente em cunha e traseira alta e compacta resultou no menor coeficiente aerodinâmico conseguido no País até então. A versão esportiva GS tinha Cx de 0,30 e os demais catálogos, de 0,32.

Entre os opcionais, havia regulagem de altura para assento do motorista e volante. Esses itens, ainda raros no mercado, haviam estreado nas linhas 1988 de Monza e Opala. Um computador de bordo entre os difusores centrais de ar mostrava dados de consumo. Era possível ajustar a altura da traseira, por meio de bolsas de ar nos amortecedores, algo útil para quando o carro rodasse com muita carga.


Outro opcional era o check control, um conjunto de sete luzes espia embutidas em um visor abaixo do para-brisa. Elas alertavam para lâmpadas queimadas, desgaste de pastilhas de freio e nível de líquidos do radiador, fluido de freio e água para os lavadores dos vidros. (A pioneira em oferecer o item, porém, foi a Fiat, em 1984).

Desempenho era ponto alto. Mas tudo era opcional

As versões SL e SL/E traziam o motor 1.8 que, após reformulações, ainda é usado no Cobalt. No Kadett, a opção movida a etanol entregava 95 cv de potência e 16,1 mkgf de torque; no motor a gasolina, eram 90 cv e 14,3 mkgf, respectivamente.

Já o esportivo GS vinha com o propulsor 2.0 a álcool que entregava 110 cv e 17,3 mkgf. A opção movida a gasolina, com 99 cv, só surgiria na linha 1991). O Kadett GS acelerava ir de 0 a 100 km/h em 10,26 segundos e chegava a 182 km/h. Seu desempenho empolgou o repórter especial Marcus Vinicius Gasques.


“É um carro limpo, sem detalhes supérfluos, com acabamento e frisos discretos. Mas a imagem clean engana bastante. Na hora de acelerar, ele mostra que é o melhor esportivo do mercado nacional. Acelera muito bem. O motor cheio responde com vontade aos desejos do motorista”, escreveu no Jornal do Carro. Já o consumo do esportivo não era dos melhores: 6,5 km/litro na cidade e 7,9 km/l na estrada.

O conteúdo de equipamentos era considerado bom. Deve-se lembrar, porém, que nessa época os carros eram “pelados” e ar-condicionado era exclusividade de modelos caros e versões de topo. A configuração de entrada, Kadett SL, tinha apenas quatro opcionais. Rádio, limpador e lavador do vidro traseiro, desembaçador com ar quente e pintura metálica eram tudo o que o comprador podia agregar ao carro.


A intermediária SL/E sagrou-se a mais popular da gama. Ela tinha acabamento melhor, com luzes de leitura e painel com comta-giros. Mas tudo era cobrado à parte, até mesmo o limpador traseiro. Era a única configuração que podia trazer câmbio automático, uma caixa com três velocidades. Mesmo na versão de topo, a esportiva GS, ar-condicionado e direção hidráulica eram opcionais.

GM tentou manter o segredo enquanto pôde

A GM fez o que pôde para manter o modelo em segredo até a data do lançamento oficial. A estratégia do silêncio absoluto se estendia aos revendedores. Quando uma concessionária anunciou a formação de grupos de consórcio para o novo modelo, foi punida pela fábrica. O interessado podia se inscrever em um grupo de Monza e optar, posteriormente, pelo Kadett. Mas havia um problema. O Kadett custaria mais barato, e não existe devolução de dinheiro em consórcio. O jeito era completar a diferença de preço com opcionais.

Os leitores do Jornal do Carro, porém, não tiveram de esperar pelo lançamento e puderam conhecer detalhes do modelo em primeira mão. A edição de 1º de março publicou o flagra de uma unidade do esportivo GS em testes, com fotos de Oswaldo Palermo. Na semana seguinte, um novo furo. Desta vez, Palermo flagrou a família completa – incluindo a perua Ipanema, que só chegaria ao mercado no segundo semestre – em um longo teste de durabilidade entre São Paulo e a Bahia.


A edição de 12 de abril de 1989 trazia a apresentação do carro em todas as suas versões e a avaliação da versão GS. Já em 19 de abril, os leitores puderam conferir o desempenho das demais versões, SL e SL/E. No dia 30 de maio, o JC dedicou uma edição especial inteiramente ao novo Chevrolet, com impressionantes 36 páginas, mais um atestado da relevância do lançamento.

Principais mudanças ao longo da vida

A perua derivada do Kadett, Ipanema, surgiu no final de 1989. A versão conversível do esportivo GS foi apresentada no Salão do Automóvel de 1990.


A linha 1992 trouxe encostos de cabeça vazados e injeção eletrônica – monoponto para o motor 1.8, que passava a gerar 99 cv, e multiponto para o 2.0 do agora rebatizado GSi que passava a 121 cv. Em 1993, a Ipanema ganhou quatro portas e opção de motor 2.0 MPFI.

Com a mudança de nomenclatura de versões na GM, em 1994, o Kadett SL virou GL e o SL/E passou a ser GLS. A única atualização de estilo expressiva veio em 1996. O modelo recebeu nova grade frontal, para-choque pintado na cor da carroceria e lanternas traseiras escurecidas. O Kadett saiu de cena em 1998, para dar lugar ao Astra.

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