NÍCOLAS BORGES
No início do século passado, o automóvel ainda era uma novidade. Por isso, além das corridas, grandes viagens eram uma das formas de as montadoras chamarem atenção para os carros.
Em 1931, a Citroën criou e patrocinou a expedição Croisière Jaune (Cruzeiro Amarelo), para cobrir os 12 mil quilômetros que separam Beirute, no Líbano, à chinesa Pequim. O mote era repetir o caminho aberto por Marco Polo seis séculos antes.
Se ainda hoje uma viagem como essa não é fácil, na época era pura teimosia. Sob o comando dos exploradores Georges-Marie Haardt e Louis-Audouin-Dubreil, que já haviam liderado outras aventuras da Citroën, a empreitada começou em 4 de abril de 1931 e só terminou em 12 de fevereiro do ano seguinte.
A bordo de 14 Citroën, os 40 homens se dividiram em dois grupos. O principal, chamado de Pamir, saiu de Beirute a caminho do oriente, e o outro, batizado de Pequim, no sentido oposto.
Enquanto o primeiro grupo sofreu para superar subidas de 45° em gélidas montanhas de quase 5 mil metros no Himalaia, o segundo precisou encarar o deserto de Gobi, uma revolução no Afeganistão e os dissidentes da região de Sin Kiang, que chegaram a aprisionar os expedicionários.
Em alguns pontos, o caminho era tão estreito que os carros tinham de ser desmontados e carregados em cargas de 30 kg por vários quilômetros.
As máquinas
Os carros usados no Croisière Jaune foram adaptações feitas a partir do C4F e do C6F, que recebiam esteiras no lugar das rodas de trás, para aumentar a tração. As carrocerias tinham painéis de duralumínio, mais leve e resistente, com capotas de lonas.