
O restaurador de carros Gerson Rizzato é dono de uma oficina mecânica no bairro do Brás, na zona leste da capital. Para aumentar a clientela - conquistada em 22 anos -, ele conta com um belo chamariz: o Ford Corcel 1970 desta reportagem, que fica exposto na porta do local. ?Ele não me dá sossego. Às vezes, tenho até de cobri-lo.?
++ Siga o Jornal do Carro no Facebook
Fã do modelo desde os 13 anos de idade, Rizzato encontrou esse exemplar em outra oficina do bairro, em 2002. O sedã havia sido deixado ali pelo primeiro dono, já idoso, e equipado com acessórios destoantes, como som moderno e rodas esportivas de magnésio.
Depois de três anos de ?namoro?, Rizzato comprou o Corcel por R$ 7 mil, e tratou de reconduzi-lo à originalidade. ?O carro estava bom, mas com as pessoas erradas. Até quiseram comprá-lo de volta e eu não vendi.?
O motor soma 80 mil km rodados e a carroceria foi refeita com fibra de vidro. Em 2009, ela foi revitalizada com a aplicação de tinta envernizada com poliuretano, no mesmo tom verde original. ?Quem deixou o carro bonito assim fui eu, o Mão Santa?, gaba-se o proprietário, que calcula ter gasto R$ 30 mil com a restauração.
Vida mansa. Por ter sido fabricado no mesmo ano em que a seleção brasileira de futebol conquistou seu terceiro título mundial, o Corcel recebeu do mecânico o apelido de Tricampeão. Mas sua rotina é uma moleza só: tratado a pão de ló pelo dono, o sedã quase não circula.
?Há muitos malucos e invejosos por aí?, justifica Rizzato. ?Carro de fibra de vidro, se bater forte, pode jogar fora, porque nunca mais fica bonito. Não é como veículo de lata.?
Mesmo com tanto apreço, o restaurador cogita vender o sedã e comprar uma moto estradeira. ?Tenho dó de deixá-lo encostado, estragando dentro da oficina. Eu peço R$ 50 mil e as pessoas se assustam, mas restaurar dá trabalho. Por menos de R$ 45 mil, eu não vendo.?
História. A primeira geração do Corcel foi lançada pela Ford do Brasil em 1968, a partir do mesmo projeto que deu origem ao Renault 12. O carro tinha motor 1.3 e configurações sedã e cupê. Dois anos depois, a perua Belina completou a família.
No final de 1977, surgiu o Corcel II, com carroceria totalmente nova, de linhas retas. Havia três versões: básica, L e LDO. O carro ganhou motor 1.6 em 1979 e opção a álcool em 1980.
O modelo saiu de linha em 1986, depois de registrar vendas de 1,4 milhão de unidades.