Responda rápido: qual foi o primeiro carro nacional a ter motor 1.0 de três cilindros? Se você pensou no Hyundai HB20 ou nos VW Fox e Up!, errou. Desde 1958, os DKW que eram feitos no Brasil usavam essa configuração, mas com ciclo de dois tempos. Um desses exemplares, com carroceria sedã e fabricado em 1960, pertence ao empresário Ricardo de Lorenzo, que é apaixonado por veículos da marca desde criança. “A denominação Belcar para os modelos de três volumes passou a ser usada no ano seguinte ao do meu.”
Ele conta que comprou o carro de um amigo em 1990 e, cinco anos depois, o desmontou por inteiro. O objetivo, que, segundo Lorenzo, foi atingido, era remontar o cupê para deixá-lo 100% original. “Troquei de frisos ao motor. Refiz também toda a tapeçaria”, afirma.
De acordo com o empresário, o trabalho não foi muito complicado porque é relativamente fácil encontrar peças para o carro, ao contrário do que acontecia até recentemente. “Há empresas no Brasil que reproduzem os componentes com as mesmas especificações dos originais”, diz. “E, claro, dá para encontrar na internet peças como retentor do semieixo, vedação do distribuidor e até o coxim do rolamento do cabeçote.”
Durante a restauração, Lorenzo recorreu também ao mercado de peças uruguaio. “Como o DKW rodou no país vizinho, é natural encontrar coisas boas por lá”, explica.
No caso dos frisos, Lorenzo teve de pesquisar detalhes para refazer os acessórios. A tinta para repintar a carroceria também mantém as especificações da época. O acabamento “saia e blusa” tem teto branco e o restante da lataria, verde.
Para o empresário, o ponto alto da reforma foi a participação de um tapeceiro que trabalhou na linha da Vemag Bantec, responsável pela montagem do DKW no Brasil. O profissional refez a parte interna do teto, o forro das portas e os bancos. “Ele se chama Rubinho. Não me lembro do sobrenome”, diz.
Uso esporádico. Proprietário de uma imobiliária na zona sul da capital, Lorenzo só usa o DKW para circular pelo bairro onde mora. Os reparos mais corriqueiros são feitos em uma oficina especializada em modelos antigos nacionais próximos à sua casa. O ajuste mais recente foi realizado no para-choque.
“Desmontamos a peça e trocamos todos os parafusos, pois os barulhos causados pela trepidação estavam aumentando a cada dia.”
Peculiaridades. A restauração do carro levou três anos para ser concluída. Entre os detalhes originais foram mantidos a bateria de 6 volts e o rádio a válvulas. “A maior dificuldade para preservar o circuito elétrico foi encontrar lâmpadas de mesma amperagem”, explica Lorenzo.
Uma das particularidades do sedã DKW são as portas do tipo “suicida”, que se abrem para trás. O empresário conta que o apelido na época era “porta deixa ver”, um trocadilho com o nome DKW em referência à situação enfrentada por mulheres de saia ao entrar no carro.
As dobradiças do modelo passaram para o lado “correto” a partir de 1964.