O motofretista Rikk Macedo é fã da cultura gótica. Curte bandas como Sisters of Mercy e Bauhaus e “bate cartão” no Madame Satã, reduto “underground” do centro da capital. E o carro que dirige não poderia ser mais condizente com a aura sombria que marca esse estilo. Trata-se de um Dodge Dart 1974 que cumpriu uma longa jornada como carro fúnebre.
A improvável transformação do “muscle car” em rabecão foi feita por uma empresa especializada do Rio Grande do Sul. Macedo teve a chance de conversar com o primeiro proprietário, que encomendou a adaptação do veículo para uso na funerária que tinha na época.
“A clientela dele era muito abastada; esse carro transportava corpos de prefeitos e fazendeiros”, conta o motofretista, orgulhoso de sua relíquia. “Foram feitos apenas sete exemplares desse rabecão.”
Macedo comprou o Dodge em 2012, com apenas 38 mil km de uso. Trocou pastilhas de freio, filtro de ar, buchas de suspensão, amortecedores e os lubrificantes do motor e da direção hidráulica. A cor verde Córdoba da carroceria e o revestimento marrom da cabine são originais.
Como o chassi não foi alongado na adaptação, a solução para que caixões pudessem ser acomodados na cabine foi deslocar o banco dianteiro ligeiramente para a frente. “Por isso, o Dart rabecão não é tão confortável quanto uma versão comum do modelo”, explica Macedo.
CHAMATIVO
Para rodar com um carro tão especial, é preciso ter disposição para enfrentar a curiosidade e o assédio de quem passa. “O dono anterior ficou pouco tempo com ele, porque constatou que era chamativo demais”, diz o motofretista. “Não tem jeito: ele atrai tanta atenção quanto um trio elétrico. As pessoas param, fazem perguntas, fotografam.”
Nem sempre, porém, a percepção de que se trata de um carro fúnebre é imediata. Detalhes como os vidros jateados com o desenho da cruz e as típicas cortininhas nas janelas às vezes passam batidos à primeira vista. E espantam alguns, que consideram o rabecão mórbido.
“Muita gente tem medo dele. Onde eu moro, há uma mulher que deixa de varrer a rua quando ele está estacionado”, conta o dono. “É um pouco de ignorância da parte dela. Só porque o carro levou gente morta?”
Já nos ambientes que Macedo frequenta, o sucesso do “Dojão” é geral. “Na primeira vez que surgi com ele em uma festa, as pessoas ficaram chocadas, mas foi com a beleza do carro. Hoje, meus amigos mais velhos já estão acostumados, mas a molecada ainda pira.”