Quando a mãe de Mauricio Tchakerian permitiu que o comerciante, então adolescente, aprendesse a dirigir em seu Fiat 147, provavelmente não imaginou como a experiência influenciaria o gosto do filho por carros. Já adulto, ele tratou de encontrar um exemplar bem conservado do hatch compacto e, não satisfeito, resolveu que também teria a versão picape do modelo, lançada em 1978.
“Essa foi a primeira picape de pequeno porte do País. Chamada carinhosamente de ‘saboneteira’, ela tem status diferenciado na linha 147, por ser muito rara”, ele explica.
De fato, cinco anos se passaram até ele finalmente encontrar o exemplar ideal. “Hoje é difícil achar uma picapinha de trabalho daquela época com a estrutura íntegra. Os modelos da Fiat não tinham protetor de caçamba e ficam ainda mais maltratados.”
A sorte sorriu para o comerciante em 2008, quando ele se deparou com uma “saboneteira” amarela em fase final de restauração, à venda pela internet. De 1980, o veículo parecia ter sido refeito a toque de caixa, sem capricho – mas, em vez de desanimar da aquisição, Tchakerian fechou a compra rapidamente.
“Mecânica, carroceria e pintura, que demandariam mais tempo de trabalho, já estavam prontas”, ele justifica. “Mas o proprietário anterior quis economizar e usou peças de acabamento muito gastas. Como sou detalhista, desmontei a picape e comprei tudo novo, de borrachas a botões.”
Nove meses depois, a picape 147 ressurgiu modernizada, com toques autorais do novo proprietário. O motor 1.3 a gasolina manteve o acerto original, mas o visual foi incrementado por vidros degradê, suspensão ligeiramente rebaixada e rodas esportivas.
Polêmica. Nas ruas, o modelo provoca reações curiosas. Não são poucos os que acham que foi o comerciante que criou a picape, a partir de um 147 hatch.
“Muitos vêm me elogiar, dizendo que a adaptação ficou excelente”, ele se diverte. “Às vezes eu deixo pra lá e agradeço, às vezes digo a verdade. Mas alguns teimosos não aceitam e tentam me convencer de que a picape jamais existiu.”
Embora goste de rodar com a Fiat, Tchakerian garante que os momentos mais prazerosos são os que ele passa na garagem, onde guarda a picape sob uma capa. “Minha satisfação é passar um pano úmido na lataria, dar a partida e ver que a marcha-lenta está perfeita.”
Com tanto esmero, revender a picape nem passa pela cabeça do comerciante. Até porque ela já está prometida para o filho Henrique, hoje com sete anos.
“Uma das primeiras palavras ele que aprendeu a falar foi ‘Amarelinho’, como ele chama o carro. Eu vejo a picape e enxergo meu filho brincando na caçamba. Foi uma das lembranças da infância dele que mais me marcaram.”