Quando os amigos do administrador de empresas Sérgio Brisola ouvem as notas iniciais da música-tema do filme “O Poderoso Chefão”, abrem a porta de suas casas sorridentes. Eles sabem que não terão de acertar contas com mafiosos – o som vem da buzina do Fiat Oggi 1984 que pertence ao visitante.
O compacto surgiu na vida de Brisola como uma opção barata de mobilidade. Às vésperas de comprar a casa própria, ele trocou o carro por uma moto, mas percebeu logo que precisava de capota para os dias chuvosos.“Queria um Fiat 147, de preferência com frente ‘Europa’, adotada entre 1980 e 1986. Com esse modelo tive minhas primeiras aulas de direção”, conta o administrador. “Mas vi este Oggi em bom estado em uma feira de usados e resolvi levá-lo.”
Os R$ 7 mil pagos pelo modelo se transformaram em um investimento de R$ 12 mil com os reparos feitos ao longo dos dois meses seguintes. Tapeçaria, suspensão, câmbio e freios foram trocados e o motor recebeu sua primeira e única retífica. “Ele estava bonito, mas eu queria um carro confiável”, diz o dono.
Com o passar do tempo, Brisola concluiu que tomou a decisão certa ao optar pelo Oggi. “É bem mais legal, raro – foi feito de 1983 a 1985 -, tem motor 1.3 e câmbio de cinco marchas, enquanto a maior parte dos 147 vinha com o 1.050 cm3 e transmissão de apenas quatro marchas.”
Charme. Se a buzina irreverente e as rodas Dragster de 15”, comuns nos anos 80, destoam do conjunto, a dirigibilidade do Oggi foi preservada com cuidado por Brisola, embora isso signifique tolerar certos incômodos.“A terceira marcha ‘arranha’, o que poderia ser resolvido com um trambulador (peça da haste do câmbio) de Uno, mas preferi manter a experiência o mais original possível. Não quis nem trocar o platinado pela ignição eletrônica”, diz o administrador. “Falta direção hidráulica, a ergonomia deixa a desejar e a partida pela manhã é difícil às vezes. Mas isso faz parte do charme dele. Se o carro fosse modernizado, perderia a graça.”
Brisola diz que não é difícil encontrar peças mecânicas para o Fiat, pois a produção do Spazio, hatch do qual o Oggi deriva, continuou até 1996 na Argentina. O desafio é na hora de buscar itens de acabamento.O administrador teve de contar com a sorte para repor um difusor de ar. “Vi uma Panorama estacionada no Jabaquara, na zona sul. Localizei o dono e, como o carro estava abandonado, dei R$ 50 para ele e, com uma chave de fenda, tirei a peça que precisava.”Brisola nem pensa em vender o Oggi. “Me orgulho de guiá-lo e sei o trabalho que tive para deixá-lo nesse estado.”
História. O Oggi (hoje, em português) completava a linha 147, formada por hatch, picape e perua. Primeiro sedã da Fiat feito no Brasil, teve 20.419 unidades vendidas em três anos.O porta-malas tinha 440 litros e havia motor 1.3 a gasolina de 61 cv e a etanol, de 62cv. O 1.4 da versão CSS gerava 78 cv.