Considerado o carro mais barato do Brasil anos, o Fiat Uno chegou ao País para revolucionar. De início, o hatch chegou a enfrentar preconceito por parte de alguns consumidores. Afinal, a trajetória do 147 (seu antecessor) não foi das mais bem-sucedidas por aqui. Mas o novo modelo deu a volta por cima e se tornou um dos carros mais longevos do mercado brasileiro. Agora, a Fiat acaba de anunciar o fim da linha Uno. Com a aposentadoria, além de saudades o carro deixa um legado de inovações.
Produzido ininterruptamente na fábrica de Betim (MG) de agosto de 1984 a dezembro de 2021, o Fiat Uno teve apenas duas gerações. A primeira tinha desenho assinado pelo italiano Giorgetto Giugiaro. E recebeu ajustes para andar nas ruas brasileiras. Inicialmente, a Fiat lançou o carro com o slogan “Com a ousadia dos gênios” (veja abaixo).
Assim como no 147, o Fiat Uno tinha estepe no cofre do motor para liberar espaço no porta-malas. Com suspensão traseira independente, sua altura em relação ao solo era 1,5 centímetro mais alta que a do modelo lançado na Itália em 1983.
Apelidado no Brasil de “boto ortopédica” devido às linhas quadradas da carroceria, o Fiat Uno representou uma revolução do ponto de vista de dimensões. Nesse sentido, o carro tinha 3,64 metros de comprimento e a distância entre os eixos era de 2,36 m. Entre os destaques, o modelo foi o primeiro do Brasil com motor 1.0 feito para se enquadrar nas novas leis fiscais criadas no início dos anos 1990. Assim, inaugurou o segmento que ficou conhecido como o de carros populares. Também foi o primeiro modelo feito em série no País com motor turbinado.
Aliás, o Uno foi o primeiro modelo mundial da Fiat vendido no Brasil. Não só isso, é o carro mais vendido pela marca no mercado nacional. Para tanto, foram várias versões, edições especiais e até modelos conceituais que mexeram com a imaginação do brasileiro. Por exemplo, o Uno Cabrio, protótipo mostrado durante o Salão do Automóvel de São Paulo de 2010.
Cronologia
De início, em 1984, o Uno tinha duas versões de acabamento: S (Super) e CS (Confort Super). Assim, trazia os motores 1,05 litro herdados do 147, com potência de 52 cv e 1.300, de 58 cv. Naquela época, carros com motores de cilindradas menores (até 999 cm³) pagavam mais imposto.
O câmbio era manual de 5 marchas. Um avanço para um período em que o comum eram as transmissões de quatro velocidades.
Um ano mais tarde, chegou a versão esportiva SX, de Sport Experimental. Esta, portanto, tinha carburador de corpo duplo para gerar mais potência no motor 1.3. Ou seja, eram 71,4 cv na versão a gasolina e 70 cv na a etanol. Naquela época, não havia carros flexíveis. O primeiro modelo do Brasil que podia rodar com gasolina e/ou etanol foi o Volkswagen Gol, lançado em março de 2003.
No mesmo ano, já que a grande sacada do Uno era o espaço interno, a Fiat decidiu ampliar a oferta de versões. Foi, então, lançada a configuração sedã, ou Fiat Prêmio. Um ano mais tarde (1986), veio a perua Elba. Tanto o três-volumes quanto a station wagon vinham com o motor Sevel 1.5. Em 1988, chegaram a picape Fiorino e o Uno Furgão, para complementar a família. Estes tinham motor 1.3 e carburador de corpo simples.
Esportivo
Voltando um ano na história, em 1987 estreou no Brasil o Uno 1.5R, de Racing. A versão esportiva se destacava pelo visual diferenciado, com rodas redesenhadas, faixas nas laterais da carroceria, tampa do porta-malas pintada de preto e até cintos de segurança vermelhos. Inclusive, o carro tinha modificações mecânicas. Por exemplo, havia freios dianteiros a disco ventilados e relação de marchas mais curta.
De acordo com a Fiat, o motor da família Sevel tinha potência de até 86 cv. Como resultado, podia acelerar de 0 a 100 km/h em 12 segundos. Além disso, a velocidade máxima era de 162 km/h.
E não parou por aí. A sede de esportividade fez a engenharia da Fiat trabalhar em outro modelo. Assim, em 1989 chegou o Uno 1.6 R.
Fiat Uno Mille
Embora esportividade seja algo que chame atenção do público, nada foi mais inovador que o Uno com motor 1.0. O Uno Mille, de mil, ´faz referência à capacidade cúbica do motor. O objetivo era atender as regras de redução de impostos, federal e estadual, para veículos com motores de até 1000 cm³.
A meta da Fiat era oferecer um modelo barato e econômico. E assim foi. Afinal, o carro popular fazia bonito quando o assunto era economia de combustível. O motor de 994 cm³ nada mais era que o antigo 1.050 cm³ com pequenos ajustes. Assim, gerava 48 cv de potência e 7,4 mkgf de torque. Dessa forma, podia acelerar de 0 a 100 km/h em 21 segundos. Segundo a Fiat, a velocidade máxima era de 135 km/h.
Para reduzir os custos e, consequentemente, o preço ao consumidor, o modelo era bem espartano. Ou seja, vinha com retrovisor apenas do lado do motorista, por exemplo. Além disso, no Mille itens como lavador elétrico do para-brisas e bancos dianteiros reclináveis eram opcionais.
Em 1991, o Uno passou a ter carburador duplo. Com isso, a potência subiu para 54 cv. Além disso, ganhou a primeira reestilização. Com isso, a dianteira foi remodelada e grade e faróis ficaram mais estreitos. Capô e para-choque também mudaram. Por dentro, havia novo painel, tecidos de bancos e comandos com desenho atualizado.
Injeção eletrônica
Com a obrigatoriedade do catalisador, para reduzir os níveis de emissões de poluentes, a Fiat lançou, em 1992, o Mille Eletronic. Na prática, o sistema tinha ignição eletronicamente comandado com duas bobinas de alta potência. Como resultado, a potência da versão a ´álcool era de 56 cv.
Depois disso, em 1994 o Uno marcou época com a versão Turbo. Assim, surgia o primeiro carro de passeio feito no Brasil com turbocompressor. Ou seja, o 1.4 gerava 118 cv. De acordo com a Fiat, o modelo podia acelerar de 9 a 100 km/h em 9,2 segundos. Já a velocidade máxima era de 195 km/h.
Seja como for, anos depois o Uno abandonou de vez a esportividade, na metade da década de 1990. E passou a ter versões mais mansas. O Uno Mille ganhou versão com carburador eletrônico, inclusive na configuração ELX 1.0, que era mais equipada. Nesse sentido, tinha itens como ar-condicionado e vidros com comando elétrico. Da mesma forma, o Uno EP, que tinha injeção eletrônica, também fez sucesso com o público brasileiro.
Anos 2000
Conforme o tempo foi passando, o Uno se transformou em um dos carros mais vendidos no Brasil. `Por ´várias vezes, chegou a disputar o topo da lista de emplacamentos, ficando atrás apenas do Volkswagen Gol, o líder absoluto por quase três décadas. Antes que perdesse o fôlego, o Fiat mudou novamente em 2004. Na época, foram redesenhados grade dianteira, faróis, para-choques e lanternas. E foram lançadas novas opções de cores.
Então, mais no fim dessa década, surgiu a versão Economy, que vinha com um ponteiro no painel chamado de econômetro. O objetivo era ajudar o motorista a dirigir de modo a gastar o mínimo de combustível. Nesse sentido, também contribuíam os pneus com baixa resistência à rolagem. Conforme a Fiat, em conjunto com algumas atualizações na mecânica essas soluções podiam garantir, em m´edia, 10% de redução no consumo. De acordo com dados da marca, o motor gerava 65 cv e o carro podia rodar até 20 km com um litro de combustível.
Enfim, em 2010 foi lançada a segunda geração do Fiat Uno no Brasil. Chamado de Novo Uno, o modelo não aposentou o Mille. Ou seja, a versão antiga foi mantida como opção de entrada na linha. Portanto, ambos conviveram paralelamente até 2013, quando o Mille saiu de cena por questões de segurança. O carro não tinha, e não podia receber, air bags e freios ABS, itens exigidos por lei a partir de 2014.
Novo Uno
O novo Uno chegou com os motores 1.0 Evo e Fire 1.4, ambos flexíveis. Assim, geravam até 73 cv e 88 cv de potência, respectivamente. Em 2015, o Uno estrou no País a tecnologia Start&Stop. Assim, foi o primeiro carro de entrada a trazer o sistema que desliga e religa o motor sozinho para poupar combustível. Um ano depois, vieram os motores 1.0 e 1.3 FireFly. Bem como tecnologias como controles eletrônicos de tração e estabilidade. Assim como assistente de partida em rampa.
Por fim, a série especial Ciao, que significa adeus, marca o encerramento do Fiat Uno no Brasil. Trata-se, na verdade, de um pacote de equipamentos. Por exemplo, há plaqueta numerada em cada uma das 250 unidades. E, diferentemente do modelo de 1990, o Uno tem boa lista de mimos, que inclui até computador de bordo e sistema de som com Bluetooth e porta USB. E assim chega o fim de uma era, com 4.379.356 unidades fabricadas ao longo de 37 anos.