Os encontros organizados pelo Chevrolet Club do Brasil de Carros Antigos, na capital paulista, são um rico inventário de modelos fabricados pela GM norte-americana e suas divisões. No acervo dos sócios, há desde veículos nostálgicos, como Fleetline, Bel Air e Cadillac, até ícones esportivos, caso do Camaro e do Corvette. Mas a majestade entre as estrelas – e que nunca deixa de marcar presença nos eventos do grupo – é um furgão 3800 feito em 1953.
Primeiro exemplar a receber placas pretas no País (seu certificado de originalidade é o de número 001), o utilitário foi adquirido pelo CCBCA em meados da década de 80. O clube precisava de um veículo de apoio e a diretoria queria um carro que representasse a essência do grupo, como uma espécie de marca registrada.
O furgão foi encontrado por um dos diretores em um evento de antigos no Shopping Center Norte, na capital, que negociou sua compra. Estava bem conservado e, embora não esconda os sinais da passagem do tempo, ainda mantém o vigor.
Afinal de contas, é preciso estar com a “saúde” em dia para cumprir as missões que a atribulada agenda do clube requer. Nos encontros do CCBCA, é no Chevrolet que são transportados os comes e bebes e também materiais como cadeiras e barracas, por exemplo.
Quando os membros vão com suas relíquias a algum evento no interior do Estado, o furgão escolta a caravana, fazendo as vezes de carro madrinha.
Além disso, o 3800 participa de ações filantrópicas promovidas pelo CCBCA ao longo do ano, como campanhas do agasalho e distribuição de alimentos a entidades assistenciais.
Mecânica. Quem normalmente assume o volante do Chevrolet e faz eventuais reparos é Carlos Angelim, dono de uma oficina mecânica e sócio do clube. Mas os outros membros do grupo também dão seus pitacos.
“Pelo menos 80% dos sócios são da terceira idade e têm larga experiência com modelos dessa época. Por isso, sabem detectar problemas com facilidade e sugerir melhorias”, conta o presidente do conselho do CCBCA, Jerônimo Ardito.
Segundo ele, o furgão é valente e não dá dor de cabeça. Durante as mais de três décadas sob os cuidados do clube, seu motor de seis cilindros e 92 cv nunca foi retificado.
A única dificuldade são os pneus (que precisam ser importados, pois não há peças nacionais nas medidas utilizadas no modelo) e no sistema elétrico, que tem bateria de 6 volts. Além de raras, elas são menos duráveis que as atuais, de 12 volts.
Dono de uma empresa de ônibus, Ardito afirma que adora guiar o 3800. “É uma delícia de dirigir. A marcha lenta tem a regularidade da de um modelo novo”, descreve, acrescentando que se trata de um carro para iniciados. “Se você o entregar para qualquer um, a pessoa não saberá ligar o motor (a partida é mecânica e acionada por pedal) e nem trocar as marchas.”
História. O Chevrolet 3800 faz parte da família de modelos comerciais lançada pela GM logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. A linha leve, chamada de Thriftmaster, tinha as versões 3100 e 3600, além do próprio 3800, enquanto a pesada, Loadmaster, incluía as variantes 4100, 4400, 6100 e 6400. Com elas, a empresa oferecia, entre picapes, furgões e caminhões, opções com capacidade de carga de 1.905 kg a 7.250 kg.
Dos modelos da linha leve, o de maior sucesso no Brasil foi o 3100, apelidado carinhosamente de “Boca de Sapo” por causa do desenho da dianteira. Após ser nacionalizado, o utilitário deu origem às picapes que ficaram conhecidas como “Marta Rocha” (1955-1959) e “3100 Brasil” (1959-1963).